Contar uma boa história é tão bom quanto vivê-la. Por isso, a Revista de Inverno do Grupos RBS oferece o espaço Histórias de Inverno para os leitores contarem sobre a viagem inesquecível, a neve que não caiu, a noite marcante, etc. Se você teve algum inverno marcante, compartilhe sua história e fotos, escrevendo para o e-mail invernosc@gruporbs.com.br
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Em fevereiro de 2012, eu vim morar na Irlanda para estudar inglês. Logo quando cheguei, já pude sentir a grande diferença de temperatura entre São Paulo e Dublin, capital do país. Ao sair de São Paulo, os termômetros estavam por volta de 29ºC. Desembarcando em Dublin, 15 horas depois, encarei 3ºC. Nunca havia estado num lugar onde a temperatura fosse tão baixa.
Sempre tive essa vontade de morar fora do Brasil por um tempo. Não tinha muita ideia de destinos, mas uma das coisas que eu queria era morar num lugar com ocorrência de neve. Ou seja, além de um país e uma cultura diferente, queria encontrar um lugar com clima diferenciado. Mas demorou um pouco até eu ver os flocos brancos pela primeira vez, porque no inverno de 2012 não nevou na Irlanda. Tenho alguns amigos que moram aqui algum tempo. Eles me disseram que, no ano anterior, havia nevado bastante, com termômetros chegando por volta de -15ºC.
O inverno de 2012 se foi, veio a primavera, o verão, o outono, e depois de meses, enfim, chegou o inverno novamente e com ele a esperança de ver a bendita neve. Passou dezembro e nada. Perto do fim de janeiro deste ano, a espera acabou. No dia 21, uma segunda-feira, quando acordei e abri a cortina do meu quarto, vi o jardim e os telhados das casas todos brancos, cobertos de neve.
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Fiquei tão eufórico e feliz que desci correndo até o jardim para sentir com as mãos. A vontade de dividir esse momento com minha família era enorme. Peguei a câmera fotográfica e comecei a gravar um vídeo. Por morar numa região mais afastada do Centro de Dublin, costumo ir de bicicleta até a escola. Ao chegar lá, deparei-me com um recado na porta, comunicando que não haveria aula naquele dia.
Empolgado pelos flocos brancos, dei uma olhada no google e procurei por lugares onde teria mais neve acumulada na cidade. As regiões mais altas de Dublin seriam o destino. Pedalei cerca de uma hora e meia em direção ao pub Johnnie Fox’s, localizado no topo de um dos morros. No caminho, a neve tomava conta da paisagem. Eu fazia pequenas paradas para fotografar e gravar alguns vídeos para minha família. Quando cheguei perto do pub, um tapete branco dominava todo o lugar. O verde dos campos estavam pintados pelo tom claro da neve. Uma visão linda nunca antes presenciada pelos meus olhos. Muito emocionante.
Sentia-me como uma criança feliz que acabara de ganhar um brinquedo novo. Uma felicidade simples sem as preocupações da vida adulta. Fiquei por lá algum tempo, curtindo o visual e o momento. Brincava e me divertia com a neve. Depois da curiosidade saciada, voltei para casa feliz e emocionado com o que acabara de viver.
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Muitas pessoas podem perguntar: o que há de tão maravilhoso em ver neve? Para mim, aquele momento representava um sonho de criança sendo realizado. Ainda me lembro de inúmeros filmes assistidos na infância. Eles mostravam pessoas fazendo bonecos e guerrinhas de bolas de neve. Morria de vontade de fazer o mesmo. Na minha infância, não tive a oportunidade de viajar para outro lugar com neve. Mesmo crescendo e sentindo as responsabilidades da vida adulta, esse sonho, essa vontade não desapareceu, apenas ficou guardado.
Enfim, quando a oportunidade veio, não me interessava se eu tinha 30 anos de idade. O que eu queria era brincar como criança e realizar esse desejo há muito tempo guardado em meu coração. Acredito que esse momento é mais do que uma simples história sobre ver neve pela primeira vez. É sobre a vida e sobre como nós temos que lutar para realizar nossos sonhos e desejos. Mesmo soando meio piegas, reafirmo: sonhar é maravilhoso, mas conseguir realizar os sonhos é melhor ainda.