O único clássico ainda existente no futebol catarinense faz parte da vida de todos nós. Cada qual conta à sua maneira e todos têm sua história para contar. O apelido Fla-Flu ilhéu foi dado pela crônica esportiva da época, numa homenagem ao clássico carioca. Mas em cada cidade catarinense havia um Fla-Flu. Caxias x América, em Joinville; Carlos Renaux x Paysandu, em Brusque; Marcílio Dias x Barroso; em Itajaí, enfim, jogos bem localizados. Até hoje não se conseguiu dar uma denominação a Avaí x Figueirense que marcasse sua história. Com uma história riquíssima, eles voltam a se encontrar neste domingo, na Ressacada. É sempre um motivo de festa, mas também de preocupação pela paixão exagerada a que chegaram alguns torcedores de ambos os lados. Um domingo especial. Antigamente No Estádio Adolfo Konder, o Campo da Liga, houve a melhor época do clássico. Havia respeito em campo e fora dele. Vergonha, sim, havia para o time perdedor, cujos jogadores evitavam sair às ruas na segunda-feira para não serem gozados. Época romântica do futebol, onde se jogava por amor à camisa. Procópio, Figueirense, de um lado, Saulzinho, Avaí, do outro, encarnavam e simbolizavam a raça, camisa e amor ao clube. Os tempos são outros. A aposta O jornalista Maury Borges conta que o zagueiro Valdir (Avaí) e o meia Julinho (Figueira) nunca perderam bicho. Combinavam antes do jogo em dividir o prêmio, qualquer que fosse o resultado. Certo dia, o Figueirense anunciou três desfalques importantes no time. O suficiente para que Valdir encostasse em Julio, antes do jogo, e abrisse aposta na certeza de que ganharia sozinho o bicho. Deu Figueirense e Julinho ficou com tudo. Um espetáculo. Desfiliação Em 15 de outubro de 1929, o Avaí sagrou-se campeão estadual goleando o Brasil, de Blumenau, por 4 a 1, num jogo cheio de confusões. A partida começou 30 minutos depois da hora marcada. A bola tinha umbigo exageradamente grande e o árbitro suspendeu o jogo temporariamente por causa de um sururu generalizado e muita violência individual. O Brasil tinha tudo para pedir anulação do encontro, mas preferiu desfiliar-se da Federação Catarinense de Desportos. A dupla Acy Cabral Teive e Dib Cherem formaram dupla histórica de narradores esportivos em Florianópolis, bem ao estilo Jorge Cury e Antonio Cordeiro, da Rádio Nacional do Rio, lá pela década de 50. Hoje, acompanham o clássico pelo rádio, mas não se furtam, quando solicitados, a escalar a seleção do clássico de todos os tempos. Fala Acy: “Adolfinho, Fateco e Diamantino; Loló, Procópio e Beck; Felipinho, Nizeta, Tião, Braulio e Saul”. Em determinada época praticamente o time do Avaí com Procópio, do Figueira. Fala Dib: “Adolfinho, Fateco e Diamantino; Loló, Procópio e Ivan; Felipinho, Nizeta, Nicácio, Braulio e Saul”. Este time era o Avaí, com Ivan e Nicácio, do Paula Ramos. Você sabia? A maior goleada que o Avaí aplicou num adversário foi em 1945, e no Paula Ramos. Placar 21 a 3. O Paula Ramos marcou primeiro. Albeneir, um dos maiores artilheiros da história do Figueirense, foi cortado da Seleção Olímpica do Brasil em julho de 1984. Falou-se em motivo político. Aderbal Ramos da Silva, uma das bandeiras avaianas, ex-governador do Estado e que empresta seu nome ao Estádio da Ressacada, morreu em 13 de fevereiro de 1995, aos 74 anos. A placa do seu veículo sempre teve o número 13. Alberto Moritz foi goleiro e presidente do Figueirense, goleiro da Seleção Catarinense, juiz de futebol, remador e chefe da delegação catarinense em águas baianas em 1946. Memória Eles foram os dois maiores goleiros da história de Avaí e Figueirense. Adolfo Martins Camilli nasceu em Florianópolis, dia 28 de maio de 1925. Começou sua carreira no Avaí em 1941. Enquanto jogou, foi absoluto, conquistando vários títulos pelo seu Avaí. Ele chegou a Florianópolis em 1950, depois de passar pelo Flamengo, Palmeiras e Canto do Rio. Doly se encantou com a pacata Floripa e o Figueirense. Era pastor evangélico, nascido em Niterói. Adolfinho e Doly eram amigos. Doly, certa vez, mandou parar o jogo e saiu disparado para o banheiro. Foi acometido de uma infecção intestinal violenta. O jogo recomeçou quando ele voltou.

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