“Histórias Cruzadas”, que estreia nesta sexta, aborda o racismo nos EUA dos anos 1960

Esta é a semana de Histórias Cruzadas.

Representante do melodrama na corrida do Oscar, o longa estreia sexta-feira nos cinemas. Domingo, saiu consagrado da premiação do Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG Awards), o que alçou Viola Davis e Octavia Spencer à condição de favoritas às estatuetas de melhor atriz e melhor atriz coadjuvante.

Se O Artista – que com a vitória do fim de semana no prêmio do Sindicato dos Diretores (DGA) se tornou o principal favorito a melhor filme e direção – presta tributo a Crepúsculo dos Deuses (1950) e Cantando na Chuva (1952), Histórias Cruzadas reverencia outro dos maiores clássicos da era de ouro de Hollywood.

– Desde …E o Vento Levou (1939) não se falava tanto de cooperação entre negros e brancos – afirma, no filme, a editora interpretada por Mary Steenburgen ao se referir ao livro que está sendo escrito pela protagonista Skeeter (Emma Stone).

Toda a história gira em torno desse livro, chamado The Help – título original do longa. Trata-se de uma reportagem que Skeeter, uma aspirante a escritora de 23 anos, quer produzir a partir de entrevistas com as negras que trabalham como empregadas domésticas na comunidade conservadora de Jackson, Mississippi. Isso nos EUA do iniciozinho dos anos 1960, quando o país se atrevia a começar a discutir questões como direitos civis, feminismo e igualdade racial.

Viola Davis e Octavia Spencer, primeiro uma, depois a outra, são as principais colaboradoras da personagem de Emma Stone. Há a vilã cruel (a patroa má interpretada por Bryce Dallas Howard), a dondoca doida mas de bom coração (Jessica Chastain), entre outros estereótipos sobre os quais o melodrama encontra sustentação. Ponto positivo: a trilha sonora não é excessiva, problema comum em filmes do gênero produzidos em Hollywood – e extensivo a outros indicados ao Oscar deste ano, notadamente Cavalo de Guerra e Os Descendentes.

O jovem diretor Tate Taylor, no entanto, não parece preocupado com nuanças e sutilezas em outros aspectos da produção. Dispensa as elipses e é didático do início ao fim, privando o espectador de uma fruição mais rica. Soa como um estelionato sentimental, por exemplo, a cena em que uma menina, do alto de seus três anos de idade, se dirige à personagem de Viola Davis para dizer “Você é a minha verdadeira mãe”. O espectador já havia percebido muito antes a ausência e a futilidade de sua mãe branca – em sequências bem mais interessantes, como aquela em que a empregada abraça a garota e a faz repetir, com o mesmo erro de conjugação que seria eternizado pelos mestres negros do jazz e do blues: “You is kind, you is smart, you is intelligent” (“você é amável, você é esperta, você é inteligente”).

Histórias Cruzadas é uma boa porta de entrada para entender como era o dia a dia em meio ao contexto absurdo de segregação na mais poderosa nação do mundo, especificamente em lugares nos quais o ódio racial era tão marcante que até o uso de banheiros distintos podia ser determinado por lei. Fazer o público mergulhar nesse universo, exatos 50 anos depois, com os EUA pela primeira vez presididos por um negro, é o maior mérito de Tate Taylor – que antes lançara apenas Pretty Ugly People (2008), até hoje inédito no Brasil. Pena que algumas escolhas conservadoras do diretor – a opção por uma protagonista branca de olhos azuis, por exemplo – não condizem com o tema sobre o qual ele se debruçou.

Negros no Oscar

Viola Davis e Octavia Spencer podem fazer história: nunca, até hoje, dois intérpretes negros venceram o Oscar pelo mesmo filme.

> Hattie McDaniel foi a primeira negra premiada: ganhou como melhor atriz coadjuvante por …E o Vento Levou, em 1940. Ganharam o mesmo troféu Whoopi Goldberg (por Ghost, em 1991), Jennifer Hudson (Dreamgirls, em 2007) e Mo?Nique (Preciosa, em 2010).

> A única negra a ganhar um Oscar de melhor atriz foi Halle Berry, por A Última Ceia, em 2002.

> Como melhor ator ganharam Sidney Poitier (por Uma Voz nas Sombras, em 1964), Denzel Washington (Dia de Treinamento, em 2002), Jamie Foxx (Ray, em 2005) e Forest Whitaker (O Último Rei da Escócia, em 2007).

> São quatro os Oscar de ator coadjuvante: Louis Gosset Jr. (A Força do Destino, 1983), Denzel Washington (Tempo de Glória, 1990), Cuba Gooding Jr. (Jerry Maguire, 1997) e Morgan Freeman (por Menina de Ouro, em 2005).

Histórias Cruzadas (The Help)

De Tate Taylor. Com Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Octavia Spencer, Allison Janney, Roslyn Ruff e Jessica Chastain.

Drama, EUA, 2011. Duração: 146 minutos. Classificação: 12 anos.

Estreia sexta-feira (veja as salas e os horários em www.guiadasemana.com.br).

Cotação: 3 de 5

Confira em infográfico todos os indicados ao Oscar 2012: