A ausência de figuras ilustres costuma ser rapidamente notada. Não em Florianópolis. Passaram pelo menos 14 dias para que o desaparecimento dos bustos em bronze que ficavam na Praça XV de quatro personagens importantes para a história de Santa Catarina e do Brasil fosse percebido. Ninguém viu o roubo, ainda que houvesse câmeras de monitoramento. Ninguém notou a ausência, até quinta-feira.

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Os bustos de Cruz e Sousa, Victor Meirelles, Jerônimo Coelho e José Boiteux deixaram vazias as colunas de granito que ficam em volta do monumento aos Voluntários da Guerra do Paraguay. Imagens de câmeras de segurança mostraram um homem levando um deles na noite de 8 de agosto. Cada busto de bronze pode pesar entre 25 e 30 quilos, de acordo com a empresa Bustos.com de Campinas (SP).

Desde que foi avisada, na manhã de quinta, a prefeitura municipal de Florianópolis registrou boletim de ocorrência, pediu as imagens das câmeras de segurança à Polícia Militar e levantou quais empresas de SC derretem bronze para evitar o pior.

Bustos eram uma maneira de prestar homenagens a pessoas importantes e que mereciam destaque, escolhidas em um processo bastante seletivo. Quem conta é o historiador e professor da Universidade do Estado de Santa Catarina, Reinaldo Lohn. Comuns entre a metade do século 19 e metade do século 20 eram também uma forma de levar história para as ruas.

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O historiador e jornalista Jali Meirinho sabe que o desaparecimento dos bustos não apaga a importância dos quatro homens para a história, porque a memória deles está em outros locais. Mas ele acredita que não há como substituir as homenagens feitas no século passado.

– Os bustos foram criados numa manifestação cultural daquele tempo, com a experiência daquele momento – observa.

Para o historiador, o ocorrido mostra o claro descaso da sociedade com o passado:

– Eu não lembro nunca de ter visto isso acontecer na minha vida! É um fato lamentável.

Para o arquiteto e urbanista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) César Floriano a perda desses bustos é irreparável. Ele observa que isto vai contra todas as tentativas de levar mais arte para espaços coletivos da cidade.

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– Florianópolis já é tão pobre em arte pública. Com poucas interferências. É lamentável que isso aconteça. O roubo desses bustos ainda vai gerar questões como a de que não se pode colocar arte na rua porque é roubada.