“O debate sobre a publicação de biografias tomou conta da mídia. O grupo Procure Saber, que agrega jornalistas e artistas, pronunciou-se a favor da autorização prévia por parte do entrevistado, ou de sua família, após a polêmica envolvendo o veto sobre o livro Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César de Araújo. Entretanto o mais impactante foi quando Caetano Veloso e Chico Buarque, baluartes sacralizados da música brasileira, perseguidos e censurados pela ditadura militar, pronunciaram-se a favor da proibição.
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Os argumentos de que os pesquisadores estariam atrás das fortunas supostamente geradas pela venda das obras, e que os biografados têm direito sobre a publicidade de suas vidas privadas são fracos e falaciosos. Primeiro que ser pesquisador no Brasil é extremamente oneroso, entre entrevistas, hospedagens, viagens, o trabalho pode durar mais de uma década, como o caso de Paulo César, e mesmo que não fosse, todo autor tem direito de receber pelo seu ofício. O segundo motivo é ainda mais pífio, é extremamente ingênuo o pensamento que o interesse está apenas na perna amputada do rei, trata-se de uma discussão mais profunda.
A autorização prévia funciona como mordaça para o autor, uma pré-aprovação fere a ética, além de contribuir para um texto perigosamente comprometido – “chapa-branca” – como tem se escrito. Uma democracia plena não deve criar entraves para a produção intelectual e artística ou poderá contribuir para a construção de uma história frágil e precária. A biografia, enquanto gênero literário que amarra o contexto social, político e cultural com a vida do biografado, tem contribuído para elucidar questões da história sobre diversos prismas. Caetano, Roberto Carlos e Chico podem ser donos de suas vidas, mas jamais donos da história.“
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