Indispensável nos grupos talibãs afegãos, a burca cobre a mulher dos pés à cabeça, mas, ao contrário do que muitos pensam, esse véu não faz parte do guarda-roupa de todas as muçulmanas. O hijab, lenço que cobre cabeça, pescoço e, às vezes, ombros, é outro item religioso muito mais difundido. Na Inglaterra, o hijab é visto a toda hora, sem nenhuma reprimenda.

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A liberdade experimentada no país anglo-saxão parece estar gerando uma espécie de cultura fashionista entre as jovens muçulmanas. Acostumadas a ver o estilo que circula nas ruas, em revistas e na internet, duas delas, nascidas na Inglaterra, resolveram introduzir algumas peças ocidentais ao closet. As blogueiras londrinas Hana Tajima Simpson, 23 anos, e Jana Kossiabati, 21, acreditam que, assim como elas, um número crescente de muçulmanas também quer se vestir conforme a moda.

Hana assina coleções como fashion designer para a marca própria, Maysaa, e escreve no blog Style Covered há pouco mais de um ano. Filha de mãe inglesa e pai japonês, a jovem estilista se converteu ao Islã há cinco anos. No começo, ela estranhou as limitações do vestuário, mas, por ser filha de artistas, logo contornou o problema com criatividade. No blog, ela mostra looks que mesclam camisetas de manga comprida, colares de caveira, pulseiras, casacos de pele, ankle boots e outro item que, segundo ela, será o forte do verão: o maxidress (vestido longo).

– Agora que jovens muçulmanas estão sendo criadas ou nasceram em países ocidentais, vemos essa influência externa. É natural que alguém nascido e criado na Inglaterra tenha um gosto diferente para a moda – explica.

Editora do Hijab Style, Jana Kossiabati busca tendências das passarelas, novas cores e estilos para lançá-los no blog que alimenta há três anos. Também publica entrevistas com modelos, estilistas e outros agentes deste novo cenário que integra Oriente e Ocidente no mesmo backstage. Para essa estudante de Medicina fascinada pelo universo fashion, incluir esse novo contexto à forma de usar o hijab não contraria as origens do islamismo.

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– Comunidades muçulmanas em todo o mundo encontraram uma maneira de expressar cultura, tradição e tendências pelo vestuário. As mulheres muçulmanas sempre assimilaram uma vestimenta modesta às tradições do país onde moram. Seria, então, natural que elas fizessem o mesmo em países ocidentais – analisa.

Por causa da ausência de uma indústria fashion diversificada e voltada para as muçulmanas, Hana e Jana acreditam que a interferência ocidental seja inevitável. A antropóloga Karina Canêdo, especialista em cultura de moda, concorda.

– Os mundos ocidental e oriental estão preparados para dialogar por meio da moda. Muitos estilistas europeus e americanos desenham para mulheres árabes. No caso dessas blogueiras, vemos que é possível expandir esse código do vestuário. Elas podem estar deslocadas de países onde a maioria é muçulmana, mas trocam signos com o local onde moram e, ainda assim, não alteram seus valores.

Hana observa que não só as muçulmanas como também mulheres de outras crenças religiosas compram as roupas que desenha para sua recém-lançada grife Maysaa. São pantalonas, vestidos e lenços, peças curingas para qualquer cultura.

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– De fato, nós temos um código de vestimenta, mas, com ele, há muito espaço para trabalharmos nossa criatividade e personalidade. O resultado disso é que nós não somos tão diferentes, e moda é algo que mobiliza todo mundo – defende Hana.

Elegância que vem do Catar

Sheikha Mozah, esposa número dois do emir do Catar – como é conhecida pelos súditos e pela mídia -, é a única das quatro mulheres a acompanhar o marido em eventos nacionais e internacionais. Aos 50 anos, mãe de sete filhos do chefe de estado do país árabe, Mozah bint Nasser Al Missned, ostenta beleza e elegância por onde passa. A única herança que carrega das restrições islâmicas do Corão quanto a não mostrar cabeça e ombros são os turbantes coloridos e trabalhados para combinar com vestidos de manga comprida, assinados por estilistas. Pedrarias, tecidos finos e cortes impecáveis valorizam a musa do país dono da segunda maior renda per capita do mundo. Por harmonizar religiosidade e estilo, Mozah é capaz de provocar inveja em outras primeiras-damas. Em junho passado, num jantar oferecido pelo primeiro-ministro francês Nicolas Sarkozy, Mozah desfilou um longo cereja de Jean Paul Gaultier pelo Palácio do Eliseu. O vestido, adornado por um cinto cravejado de pérolas e brilhantes, ofuscou até mesmo a bela ex-modelo Carla Bruni.