A dez dias do show de João Gilberto na Via Funchal, os fãs se perguntam: será que ele vai aparecer? O encalhe dos ingressos da turnê comemorativa de seus 80 anos – de até R$ 1,4 mil, no Rio e em Brasília, e R$ 1 mil, em São Paulo e em Porto Alegre – foi o primeiro sinal de alerta. A forte infecção respiratória que o abateu e o adiamento dos primeiros shows foram outros motivos para dúvida.

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Vieram, em seguida, as notícias do cancelamento das datas em Porto Alegre, Brasília (com o valor dos ingressos já estornado, segundo a produção) e Salvador (onde a venda nem chegou a ser aberta, sendo que os preços sequer foram anunciados). Do DVD ao vivo que seria gravado, o primeiro dos mais de 50 anos de carreira, não se falou mais. Agora, surge a informação de que João estaria com hérnia de disco.

– Eu acredito que ele não vá fazer esse show, porque está doente, parece que tem hérnia de disco – disse Maurício Dias, velho amigo da Juazeiro (BA) natal, que mantém contato com João por telefone. Claudia Faissol, mãe de sua filha caçula e contato dele com os produtores Antonio Barretto Junior e Mauricio Pessoa, prometeu responder às perguntas da reportagem por e-mail, e não o fez. A notícia da infecção, passada pela produção no início de novembro, chegou a ser confirmada pela filha mais velha, a cantora Bebel Gilberto, em entrevista televisiva dias depois.

O clima de mistério é reforçado pelo fato de os produtores estarem incomunicáveis. A reportagem telefonou para o celular dos dois 15 vezes, durante dois dias, em diferentes horários, e não os encontrou. Os recados deixados não surtiram efeito.

Na OCP, agência de publicidade de Barretto, as informações são desencontradas: ontem, um funcionário disse que ele estava viajando; hoje, que havia passado o dia lá. Na Mauricio Pessoa Produções, a alegação é a de que o chefe estaria com problemas de saúde.

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As duas empresas são baianas e têm experiência com eventos, como o carnaval de Salvador e shows de artistas como Caetano Veloso e Maria Bethânia. Nem Barretto nem Pessoa se encontraram pessoalmente com João. Em setembro, o primeiro revelou, em entrevista, que estava preparado para tomar prejuízo.

– Não é todo dia que você tem um ícone fazendo aquela que pode ser sua última turnê. Não posso pensar que vai dar errado.

Quase três meses depois do início das vendas ainda havia, na tarde de hoje, 392 dos 2.500 lugares da Via Funchal disponíveis, com preço mais baixo fixado em R$ 500, mais a taxa de conveniência de R$ 100. No Municipal do Rio, onde a apresentação está marcada para o dia 21, são 249 assentos (de 2.250), sendo o mais em conta a R$ 600, fora a taxa de R$ 90.

O devotado público de João está indócil desde junho, quando, em seu aniversário, foi surpreendido pela boa nova da turnê. No fim de setembro, assim que os sites liberaram os ingressos, os fãs correram, prevendo que tudo iria se esgotar rapidamente. Afinal, em 2008, nos shows que festejaram os 50 anos da bossa nova, as bilheterias fecharam em poucas horas e teve até gente chorando na escadaria do Municipal do Rio horas antes do show.

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A ansiedade logo se mostrou injustificada. Os valores foram explicados pela produção pelo alto custo da turnê – R$ 4,5 milhões – e a falta de patrocínio (em 2008, o Itaú bancava e foi possível ver João a R$ 30).