BRASÍLIA – O irmão de Henrique Pizzolato foi a peça-chave para a Polícia Federal fechar o cerco em torno do ex-diretor do Banco do Brasil, preso ontem pela manhã, em Maranello, na Itália.

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O quebra-cabeça se fechou quando os agentes foram informados pela polícia italiana de que um certo Celso Pizzolato havia requerido a mudança de sua situação de cidadão italiano residente no Exterior para residente na Itália. Celso está morto desde 1978.

Além da localização precisa de Henrique, o grande enigma era como ele havia ingressado na Itália. Seus passaportes, como os dos demais réus, haviam sido recolhidos pela Polícia Federal no início do julgamento do Mensalão.

A julgar pelo rastreamento da documentação falsa, a fuga começou a ser articulada em 2007, antes sequer do início do julgamento da ação pelo Supremo Tribunal Federal. Foi quando Henrique conseguiu, em Santa Catarina, um RG falso em nome de Celso, seu irmão falecido em um acidente automobilístico aos 24 anos. Ambos, Henrique e Celso, tinham dupla cidadania.

A partir deste documento, de um CPF e de um certificado de quitação eleitoral falsos, Henrique obteve dois passaportes legítimos se passando por Celso, um documento brasileiro, em 2008, e um italiano, em 2010.

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_ Fica evidente uma premeditação, inclusive anterior à sentença (da ação penal 470, o Mensalão) _ avaliou Rogério Galloro, diretor-executivo da PF, em entrevista coletiva.

A fuga de Henrique teve início no município fronteiriço de Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina. Por ali, o foragido entrou na Argentina e viajou 1,3 mil quilômetros até Buenos Aires entre 11 e 12 de setembro de 2013.

No aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, Henrique embarcou para Barcelona se passando pelo irmão, Celso. A PF acredita que este foi o ponto em que o plano de fuga de Henrique naufragou. Provavelmente, ele não previa que o aeroporto coletasse foto e impressões digitais de todos os estrangeiros que embarcam ou desembarcam no local.

A próxima movimentação de Henrique foi na Itália, no dia 14 de setembro. Ali, ele procurou a polícia italiana para registrar a perda de documentos na Espanha. Não ficou claro, na investigação federal, o que Henrique pretendia ao obter, de forma legítima e em seu próprio nome, um pedido de residência na Espanha, em 2010. Teria sido um dos documentos perdidos.

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Certidão de óbito de Celso nunca foi encontrada

A hipótese cogitada pela PF é de que seria um despiste. Após essa movimentação, Henrique pretendia assumir de vez a identidade do irmão, cuja certidão de óbito nunca foi localizada. De posse das digitais fornecidas por Henrique em Ezeiza, a polícia confirmou que ele se passava por Celso.

Já no encalço do homem que se apresentava como Celso, a polícia italiana descobriu que ele utilizara um Punto vermelho, com placa de Málaga. O carro foi localizado em Maranello, na Itália, em frente ao apartamento do sobrinho de Henrique, Fernando Grando, na noite de segunda-feira. Na manhã de ontem, por volta das 10h30min (horário italiano), Henrique foi preso ao deixar o apartamento. Ele se identificou como Celso, mas logo admitiu ser o foragido da Interpol.

Os policiais, do Brasil e da Itália, se abstêm de palpites sobre a extradição do condenado do mensalão.