Foi pelas ondas do rádio que dona Mercedes Nespolo Garguetti soube, na manhã desta sexta-feira, que o sobrinho Henrique Pizzolato teve a extradição decretada pela Justiça italiana. Foi também assim, vendo, ouvindo e lendo jornais, que a senhora de 64 anos se acostumou a receber notícias dele desde que estourou o escândalo do Mensalão e o ex-diretor do Banco do Brasil fugiu para a Europa.

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Quando retornar ao Brasil, Pizzolato deverá ficar preso no Complexo Penitenciário da Papuda (DF), ou em outro presídio catarinense, Estado de origem dele, se a defesa assim optar.

Em resposta a ofício da Procuradoria Geral da União, o Departamento de Administração Prisional (Deap) de Santa Catarina assegurou que Henrique Pizzolato terá garantido os seus direitos como cidadão em unidade prisional catarinense caso seja transferido para o Estado.

As duas penitenciárias cogitadas para abrigar o preso são a Regional de Curitibanos, em São Cristóvão do Sul; e da Canhanduba, em Itajaí, visitadas em agosto do ano passado pelo Conselho Nacional do Ministério Público.

Hoje o contato com outros familiares praticamente não existe, porque apenas Mercedes continua morando em Concórdia, no Oeste catarinense. O único familiar próximo que também ainda se mantinha na cidade – este sim com conversas e visitas frequentes à senhora – era o pai de Henrique, Pedro Pizzolato. Ele morreu em 26 de março, após quase duas semanas internado em razão de um AVC. Tinha 85 anos e a esperança de que o filho voltasse ao Brasil, o que acabou se confirmando ontem.

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– A gente já esperava que o Henrique fosse extraditado, e é como o Pedro sempre dizia. Se ele errou, se fez aquilo que dizem, precisa pagar. E se ele fez aqui, deve pagar aqui no Brasil – diz dona Mercedes.

A senhora na verdade é tia “postiça” de Henrique. Ela é irmã da segunda esposa de Pedro Pizzolato, Élide, que praticamente criou Henrique depois que ele perdeu a mãe quando tinha apenas cinco anos. No fim da adolescência, ele partiu para São Leopoldo (RS) para estudar Arquitetura e Urbanismo e nunca mais voltou definitivamente para o Oeste de SC. A última vez que esteve pessoalmente com Mercedes foi há quase oito anos.

– Quando era criança, o Henrique vinha muito aqui e me lembro dele como uma criança muito querida, que falava bastante e se dava com todo mundo. Agora eu tinha bastante contato só com o Pedro, mas evitávamos falar sobre a situação do Henrique quando a gente se encontrava. Com certeza isso fragilizou a saúde dele, a gente percebia – comenta a tia.

A segunda esposa de Pedro também já faleceu, há oito anos, vítima de câncer, e ele agora vivia com uma mulher que ajudava a cuidar de sua saúde. A reportagem tentou contato no apartamento da família em Concórdia, mas ela informou que não falaria sobre o caso.

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Pizzolato mantinha poucos vínculos com Concórdia

A extradição e toda a polêmica envolvendo Henrique Pizzolato passam praticamente despercebidas por Concórdia, principalmente depois da morte do pai. Isso porque o ex-diretor do BB saiu muito cedo de casa e depois só retornava muito esporadicamente. Não tinha laços ou vínculos com a terra natal. Não gera conversas nas ruas ou bares.

A grande referência do sobrenome na região era mesmo o seu Pedro, que sempre falou pouco sobre a questão. Frequentador assíduo do Clube dos Veteranos, do qual era primeiro-secretário até pouco antes de morrer, ele seguiu a vida quase que normalmente depois que tudo aconteceu com Henrique. Ainda que demonstrasse certa tristeza, como contam os amigos.

– Ele continuou vindo quase todo dia aqui e era bem resguardado sobre a condenação do filho. Uma única vez ele falou um pouco mais sobre isso com a gente e disse: “eu não ensinei isso pra ele. Mas se ele fez, tem que pagar pelo erro” – lembra seu Aurélio Ansolin, presidente do clube.

– O que aconteceu com o Henrique deixou ele mais debilitado, mas sempre participava. Mesmo no hospital ele próprio pediu e assinou o documento que autorizava outro primeiro-secretário, pensando no bem do clube – recorda Cacildo Patzlaff, atual tesoureiro.

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