A 55ª Bienal de Veneza será aberta no próximo sábado apresentando um artista gaúcho que começa a ganhar maior trânsito e visibilidade no circuito artístico internacional.

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Um trabalho de Hélio Fervenza faz parte da representação brasileira na mais antiga, prestigiosa e importante Bienal realizada no mundo.

Depois de ser um dos convidados da 30ª Bienal de São Paulo em 2012, o artista, pesquisador e professor do Instituto de Artes da UFRGS foi um dos escalados para representar o país na mostra realizada na Itália desde 1895 – o outro é o paranaense Odires Mlászho. Os dois criaram obras novas, levando em conta as características do espaço reservado a cada um no pavilhão brasileiro.

Mlászho, 53 anos, apresentará uma nova série de esculturas de papel a partir de livros que garimpa em sebos. Fervenza, 50 anos, mostrará a instalação (peixe, sombra) dentrofora (do céu da boca) d’água ( , ), composta por fotografias, recortes em vinil adesivo, pequenas molduras (também com imagens), fios metálicos, pregos, ímãs e outros objetos – as fotos desta página são parte do trabalho. É uma obra de força conceitual, que dialoga com o que Fervenza já mostrou na Bienal de SP, onde foi um dos artistas de destaque com uma breve retrospectiva.

O artista embarcou para Veneza na semana passada para realizar a montagem da exposição. Como se trata de uma instalação, o trabalho será conhecido de fato somente na abertura:

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– Na etapa inicial do projeto, fiz croquis estudando pelo menos cinco possibilidades de instalações. Mas tudo começa a se efetivar mesmo no processo da montagem. Como o espaço disponível tem um pé direito alto, vou jogar bastante com pontos de vista e altura dos objetos.

No pavilhão brasileiro, os trabalhos de Fervenza e Mlászho estarão relacionados a um núcleo histórico, formado por esculturas da brasileira Lygia Clark (1920-1988), do italiano Bruno Munari (1907-1998) e do suíço Max Bill (1908-1994). Chamada Dentro/Fora, a mostra que representa o país na Bienal de Veneza é articulada a partir de questões lançadas pela obra O Dentro É o Fora, que Lygia apresentou em 1963. A escultura faz referência à chamada “fita de Möbius”, estrutura geométrica estudada pelo matemático August Ferdinand Möbius em 1858.

A curadoria é do venezuelano Luis Pérez-Oramas e do gaúcho André Severo, os mesmos da última Bienal de SP, que, desde 1995, é incumbida pelo Ministério da Cultura a organizar a representação nacional em Veneza. O Brasil, que é um dos 88 países convidados, participa da mostra desde 1950 (o pavilhão foi criado em 1964). Pelo menos quatro gaúchos já participaram da comitiva brasileira: Iberê Camargo (1962), Glauco Rodrigues (1964), Vera Chaves Barcellos (1976) e Carlos Vergara (1980). Elaine Tedesco esteve na edição de 2007 a convite dos próprios curadores de Veneza.

– Hélio é um artista de grande solidez formal e intelectual. Fico surpreso por não ser mais conhecido internacionalmente e no próprio Brasil – disse Pérez-Oramas, em entrevista ao caderno Cultura, em janeiro.

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Gaúcho de Santana do Livramento, Fervenza tem uma trajetória discreta no circuito artístico. Estudou arte na França entre os anos 1980 e 1990 e hoje dá aulas de gravura e poéticas visuais. Ao longo de sua produção em mais de três décadas, o artista e pesquisador desenvolveu uma reflexão sobre os modos de apresentação de trabalhos artísticos. Fazendo relações entre linguagem e visualidade em suas instalações, busca problematizar a ideia de espaço de exposição e as noções de vazio e invisibilidade.