Aos oito anos, quando ajudava o pai Otto Hasselmann a vender palmito no Centro de Joinville, Guilherme Hasselmann conheceu outro Guilherme, o Jerke. Algum tempo depois, em 1º de março de 1940, para ser exato, o menino foi contratado para trabalhar no comércio e ajudou a criar uma das marcas mais populares de Joinville, as Empadas Jerke.

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Hoje com 82 anos, Guilherme Hasselmann não depende mais do salgadinho para sobreviver. No máximo, ajuda a filha Katia a cuidar da confeitaria que leva o nome da família. Mas na metade do século passado ele era conhecido não só pelo sabor das empadas, como pela pontualidade em entregar as encomendas.

– Tinha dias em que eu levava até 2,5 mil empadas de um canto a outro da cidade. Como não podia esfriar, tinha de dirigir bem rápido – lembra.

A aposentadoria é digna para quem tinha uma rotina de Hércules já na adolescência. Nos mais de 20 anos como funcionário da Jerke, Guilherme trabalhava de segunda a segunda – só aos domingos, depois do almoço, tinha tempo de ir para a casa dos pais, na Estrada do Sul, mais de 18 quilômetros distante do Centro de Joinville.

Voltava já no início da noite para ligar o forno. Daquele tempo em que acordava às 5 horas e só dormia depois das 21 horas, guarda a amizade do confeiteiro Lauro Negendan, já falecido, com quem aprendeu o preparo da empada. Com as economias, Guilherme montou o próprio negócio depois de duas décadas dedicadas às Empadas Jerke.

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Contava com a ajuda da mulher Irmgard Hasselmann, que carregava duas cestas cheias de salgadinho na garupa da bicicleta conduzida pelo marido. Foram muitas madrugadas em claro até o casal conseguir comprar um carro, depois uma Kombi, e, enfim, terem um pouco de tranquilidade. Claro, a vida de Guilherme não se resume às empadas. Até hoje, com precisão de detalhes, ele lembra da noite em que conheceu a mulher.

– Eu estava num baile e a vi de blusa branca e saia vermelha. Na hora já pensei: ?Vou tirar essa galega pra dançar?.

Depois de uma noite inteira na pista, Guilherme soube que Irmgard era irmã de amigos e logo teve coragem de pedir aos futuros sogros a autorização para namorar. A união durou 30 anos e só teve fim quando Irmgard morreu. Ficaram os filhos Rubens, Katia, Claudia e James, que hoje deram os netos que ajudam Guilherme a recuperar as brincadeiras da infância trocada pelo trabalho. Ainda assim, sempre que pode, lá está o empadeiro veterano revivendo a receita guardada na memória há 70 anos.