Harvey Anderson, vice-presidente de negócios e conselheiro geral da Mozilla, palestrou nesta quarta-feira no primeiro dia de Fórum Internacional Software Livre. O evento vai até sábado, no Centro de Convenções da PUC. Com mais de 800 atividades na programação, o Fisl tem participantes de 26 estados do Brasil e mais de 24 países. Anderson conversou, por telefone, com Zero Hora, antes de viajar a Porto Alegre, sobre o tema de sua palestra, “Powerful v. Empowered – Threats to the Open Web”:
Continua depois da publicidade
ZH – O que o senhor entende como internet aberta?
Anderson – A expressão serve para tratar de uma série de características da internet. Por exemplo, os provedores de acesso não devem diferenciar os tipos de conteúdos que trafegam e não podem bloqueá-los. Outra premissa é que a rede deve ser transparente: você deve saber quais são os pontos de conexão, se quiser observá-los. Além disso, a informação do usuário deve ser privada, a menos que ele queira compartilhá-la.
ZH – Muitos usuários não estão familiarizados com os debates sobre as políticas da internet ou com os recursos técnicos para proteger a privacidade de suas atividades online. O que eles devem fazer?
Anderson – A primeira coisa que você pode fazer é expressar sua opinião quando você tem uma oportunidade de debater essas questões. No início desse ano, milhões de pessoas saíram às ruas para protestar contra a ACTA (Anti-Counterfeiting Trade Agreement, um acordo internacional antipirataria que torna as medidas de proteção a direitos autorais mais rígidas) na Europa. Os manifestantes achavam que a ACTA iria reduzir a quantidade de conteúdos e de escolhas na internet. Hoje a maioria das pessoas simplesmente entra na internet e não se importa com o que está acontecendo, mas deveria. Os governos estão propondo coisas que são contrárias aos interesses dos usuários em quase todos os países do mundo. Nos Estados Unidos, foi proposto um projeto de lei chamado Cispa (Cyber Intelligence Sharing and Protection Act), que permitiria às empresas compartilharem informações de usuários com o governo.
Continua depois da publicidade
ZH – O Cispa permitiria que empresas americanas compartilhassem com o governo dos Estados Unidos informações de usuários do mundo inteiro?
Anderson – Exatamente. Até mesmo aqui no Brasil há um caso em que o governo solicitou a retirada de informações do Twitter porque supostamente eram contra a lei. Como a internet é global, os seus dados não ficam somente no seu país. Essas leis ou propostas abrem a possibilidade de um tipo de compartilhamento de informações entre governos ou entidades comerciais que você não imaginava. Pode ser legal, se você tiver a opção e escolher compartilhar. Isso é o mais importante. O usuário deveria poder escolher como compartilha suas informações.
ZH – Quando os usuários usam ferramentas gratuitas na internet, acabam trocando as suas informações pelos serviços. Que tipo de cuidados eles deveriam ter?
Anderson – Há um ditado: “quando o serviço é gratuito isso significa que você é o produto”. O Facebook fornece informações privadas dos usuários para o governo e você, como usuário, não sabe que isso acontece. Eu não acho que seja uma troca justa. Mas não acho que o problema sejam os provedores de serviços. Acho que são os governos.
Continua depois da publicidade
ZH – O Google Chrome tornou-se recentemente o navegador mais popular. Nos dispositivos móveis, há muitas opções, e o Firefox também não é líder. O que a Mozilla tem feito para manter-se competitiva?
Anderson – O principal objetivo da Mozilla é garantir que a internet se mantenha em uma plataforma viável. Quando vemos um ótimo Google Chrome, Internet Explorer ou Safari, isso é sucesso para nós. Quando há competição, o usuário é beneficiado. Vamos continuar investindo no Firefox. Estamos apostando em mobilidade, construindo um sistema operacional móvel, o Firefox OS. Vai oferecer recursos de um smartphone em hardwares mais acessíveis. E acabamos de lançar a versão móvel do Firefox, que você pode usar em dispositivos com Android.