A viúva, a filha, a neta, os irmãos, os primos e, quiçá, o quase centenário pai de Hamilton Machado estarão reunidos na manhã deste sábado, no Instituto Internacional Juarez Machado, para trocar lembranças sobre o marido, o pai, o irmão, o primo e o filho, que porventura foi um dos mais destacados artistas plásticos que Joinville já produziu. Fora do círculo familiar, resiste a obra, e essa não exige laço de sangue para ser apreciada e enaltecida, missão que a mostra “Sempre Hamilton” busca cumprir até o mês que vem, mas não só: há uma lacuna de memória a ser preenchida.

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Hamilton Machado morreu precocemente em 1992, aos 43 anos, e o ano seguinte viu a última exposição do artista na cidade. Desde então, as dezenas de quadros pintados por ele ficaram retidos em acervos particulares e de museus e galerias, ressurgindo, vez por outra, aqui e acolá. Com curadoria da professora Maria Helena Scaglia, a mostra no instituto desfaz a névoa sobre o criador com cerca de 90 pinturas inéditas, cedidas por colecionadores e familiares, além de fotos, estudos, documentos e objetos pessoais.

Um mestre no retratar da anatomia humana, especialista em desenhos com bico de pena, talentoso seguidor do surrealismo – tanto que assinou obras como Socapi, um anagrama de Picasso -, apreciador de quadrinhos e Beatles, Hamilton começou a atuar em Joinville nos anos de 1960, mas foi nas duas décadas seguintes que ganhou fama e cultuadores. Foi professor na Escola de Artes Fritz Alt, na Casa da Cultura, pintou um painel no Museu de Sambaqui e produziu o cartaz do primeiro Festival de Dança de Joinville, em 1983. Nos dez anos que morou no Rio de Janeiro, ilustrou jornais e revistas, trabalho nas TVs Globo e Educativa e realizou inúmeras exposições, dentro e fora do Estado fluminense.

– Hamilton Machado tinha o talento nato para o desenho e a pintura. Autodidata, sabia reconhecer as qualidades nas obras de outros artistas, gostava da história das artes, trabalhava bem as influências que recebia e criava seus próprios códigos e modelos. Daí ser tão apreciado e reconhecido – explica o primo e também artista Edson Machado.

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O Mestre, como se autointitulava e os alunos passaram a chamá-lo, também participou ativamente do forte movimento das artes plásticas joinvilenses nos anos de 1970 e 1980 – exposições, debates, entrevistas e até conversas de boteco faziam parte do seu cotidiano -, e conhecer seu trabalho é ser apresentado a uma parcela significativa desse cenário fulgurante.

– Hamilton Machado foi um artista completo. Sua arte sempre expressou os seus conflitos, pois era um turbilhão de emoções. Questionador e ferino nas suas colocações e muito crítico no contexto cultural, ele contribuiu significativamente para a mudança dos rumos artístico e cultural de Joinville. Realmente, foi um catalisador e defensor da arte local – recorda Marina Mosimann, que, como galerista, conviveu largamente com o artista.

A palavra final fica com outro primo, Juarez Machado, com quem Hamilton morou no Rio. Ao reconhecer o talento nato dele e seu profundo desejo de se dedicar à arte, Juarez sublinha o legado deixado por Hamilton:

– Ele deixou sua obra, sua alma e seu amor pela cidade.

Agende-se

  • O quê: exposição “Sempre Hamilton”,de Hamilton Machado.
  • Quando: abertura neste sábado, às 10 horas. Visitação até 13 de abril, das 10h às 19h.
  • Onde: Instituto Internacional Juarez Machado, rua Lages, 994, América.
  • Quanto: entrada gratuita na abertura. Depois, R$ 8 (inteira). Grupos agendados e visitantes de bicicleta não pagam.

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