ponto de partida da maior parte dos imigrantes que chegaram à Colônia Dona Francisca foi o porto de Hamburgo, na Alemanha. A cidade, segunda mais populosa do país, fica a mais de dez mil quilômetros de Joinville. Ela nunca foi capital de um reino, nem do país, mas sempre foi um centro financeiro importante para a Europa, impulsionado pelo porto, que fica às margens do rio Elba. São mais de 830 anos de comércio marítimo. Hoje, o porto é o mais importante da Alemanha e o terceiro mais importante da Europa.
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De 1850 a 1934, estima-se que mais de cinco milhões de pessoas saíram da Europa para o “mundo novo”, como chamavam, a partir de Hamburgo. Destas, 80% foram para os Estados Unidos e só 10% escolheram o Brasil para recomeçar.
– Por volta 1840, 50, o Brasil vivia basicamente da produção de cana-de-açucar e desejava se tornar um país desenvolvido. Círculos próximos ao imperador imaginavam que isso não seria possível com a mão-de-obra escravizada. Então, resolveu-se importar uma mão-de-obra considerada ‘mais qualificada’. E que fosse colocada e estabelecida em espaços até então vazios do Brasil. Mirou-se o Sul, onde surgiram vários empreendimentos coloniais neste período – conta o historiador Dilney Cunha.
Um museu em Hamburgo tem uma réplica de como seria a Barca Colon por dentro. Foi ela que partiu do porto alemão em janeiro de 1851 e trouxe a primeira leva de colonizadores europeus para a Colônia Dona Francisca. Tudo era muito adaptado porque a prioridade das empresas daquela época era o transporte de cargas.
– Imagine centenas de pessoas em um único cômodo, sem janelas, com pouco espaço para ventilação. Elas só podiam ir ao deck para respirar ar fresco e pegar sol quando o tempo estivesse bom. Podiam ficar confinadas por cinco, seis semanas, porque eram veleiros, que dependiam do vento, então podia levar semanas até mudar – conta a historiadora alemã Nadine Walter.
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Os imigrantes alemães eram minoria na Barca Colon, mas vinham principalmente da cidade de Oldenburg, município que fica a 200 quilômetros de Hamburgo e tem 160 mil habitantes. E Oldenburg tem muito em comum com Joinville nos dias de hoje: o amplo uso das bicicletas, um festival de dança, a cuca vendida nas padarias. Mas em 1851, o que levou moradores a atravessarem o oceano em busca de um futuro melhor foi a falta de trabalho, a fome e uma lei local.
– Quando você tinha uma fazenda e tinha quatro filhos ou mais, o mais velho herdava as terras. Mas os outros não recebiam nada. Por isso, eles deveriam encontrar um lugar para trabalhar e ganhar dinheiro – conta o guia turístico da cidade, Bernd Muderloh.
* Textos: Letícia Caroline Jensen, especial para o AN