As obras em Curitiba para a Copa têm mão de obra vinda de um dos países mais pobres das Américas. Nas obras de ampliação da Arena da Baixada, 65 dos mil operários são haitianos, que veem na construção civil uma forma de recomeçar suas vidas depois do terremoto em Porto Príncipe, em 2010.

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O trabalho é intenso para finalizar o estádio até o final de fevereiro – o primeiro jogo-teste está marcado para o dia 26 e a inauguração oficial deve ocorrer um mês depois, na semana de 26 de março, aniversário de 90 anos do Atlético Paranaense. Correndo contra o tempo para finalizar as obras no estádio mais atrasado para o Mundial, os haitianos não tiram o sorriso no rosto. Mesmo com a saudade da família, eles se inspiram na alegria do futebol brasileiro para dar a volta por cima e planejam trazer os familiares para morar no Brasil.

Um exemplo é o encarregado de obras Arnold Virgil, que trabalha no estádio desde 2011, no início das obras. Experiente no ramo da construção civil desde quando morava no Haiti, ele fala com orgulho da oportunidade em poder ajudar a realizar uma Copa do Mundo e sonha ver os grandes craques do futebol mundial atuando no estádio que ajudou a construir.

– O brasileiro é igual ao haitiano, gosta muito do futebol. Lá no Haiti sempre torcemos muito pelo Brasil, acompanhamos o time e a torcida, que é muito animada. Agora posso fazer parte disso tudo, é uma grande satisfação – disse, revelando admiração pelo futebol de Ronaldinho Gaúcho e Neymar, seus ídolos no esporte.

Ele é presença constante nos jogos do Atlético na Vila Capanema, onde o clube manda suas partidas durante as obras na Arena. Ele também revela adoração especial pelo meia Paulo Baier, que brilhou com a camisa atleticana em 2013 e este ano jogará pelo Criciúma.

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– Ele sempre vê um outro tipo de jogo, tem alegria com a bola nos pés.

O sorriso no rosto de Arnold só é interrompido quando lembra com saudades dos filhos que deixou no Haiti: Angelina, de quatro anos, e Marcos Artur, de três. Projetando trazer a família para morar no Brasil, apenas lamenta a dificuldade em conseguir o visto para trazê-los a Curitiba. Esse mesmo sonho é compartilhado pelo ajudante de obras Anice Ulysse. Para ele, a Copa significa mais que a chance de ingressar no mercado de trabalho brasileiro e poder reconstruir a vida após o terremoto de 2010. Apaixonado por futebol, ele foi um dos operários escolhidos pela Fifa para receber ingressos para a Copa em Curitiba.

– É um grande orgulho ir num grande jogo no estádio que ajudei a construir. Melhor seria apenas se fosse um Brasil x Haiti – conta Anice, em meio à expectativa de ver a Espanha na Arena da Baixada.

Se para os haitianos trabalhar nas obras na Arena é vista como a chance de um emprego, vida nova e possíveis ensinamentos para reconstruir seu país de origem, o orgulho é ainda maior para quem torce para o Atlético e tem a oportunidade de participar desse período. É o caso do operário João Pinheiro Oliveira, torcedor atleticano que também ganhou da Fifa ingressos para os jogos da Copa.

– O estádio está muito bonito e é um sonho nosso que está sendo concluído. Estamos nos dedicando, trabalhando muito para ver o estádio finalizado e o Atlético poder voltar a jogar na nossa casa.

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