Pela internet, catarinenses têm demonstrado apreensão com a chegada de 88 imigrantes haitianos e senegaleses ao Estado. O principal temor apontado é relativo à possibilidade de perda de vagas no mercado de trabalho para os estrangeiros, que pode agravar a situação econômica em Santa Catarina.

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Ônibus chegam com 25 senegaleses e 18 haitianos em Florianópolis

Em entrevista por telefone, o presidente da Câmara de Relações Trabalhistas da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Durval Marcatto Jr, ameniza a situação e ressalta que os postos ocupados pelos imigrantes são, geralmente, aqueles dispensados pela população local.

– Isso acontece porque muitos dos imigrantes têm capacitação e até nível superior, mas a qualificação ainda precisa ser propiciada para eles ocuparem essas vagas disponíveis – acredita.

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Marcatto Jr vê a questão do fluxo migratório como uma oportunidade positiva para o país, porque os índices de natalidade da população brasileira estão abaixo da reposição e a chegada de pessoas economicamente ativas é importante para a renovação. Porém, o problema está na forma como elas acabam conduzidas.

– O que o governo faz hoje é receber esse pessoal lá no Acre, pagar passagem para São Paulo e jogá-lo por aí. Um outro aspecto a ser considerado é o decréscimo do nosso Produto Interno Bruto. Então com isso já vemos os índices de desemprego aumentando e aí essa mão de obra, querendo ou não, passa também a concorrer com as vagas do mercado de trabalho. Isso gera um certo atrito com as pessoas que estão perdendo emprego – analisa.

Leia a entrevista na íntegra:

Hora de Santa Catarina – Do ponto de vista econômico, a vinda dos haitianos e senegaleses é boa para o Estado?

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Durval Marcatto Jr – Essa questão do fluxo migratório é extremamente interessante para o país. É uma oportunidade, porque os índices de natalidade da população brasileira estão abaixo da reposição. Então a vinda de imigrantes é um processo que colabora nesse sentido, porque traz pessoas economicamente ativas e, então, trata-se de uma renovação.

Mas o problema desse movimento é que as estruturas governamentais não estão fazendo o que cabe a elas fazer, que é preparar a chegada desses imigrantes, recebê-los e buscar direcioná-los, ver se precisam de capacitação.

O que o governo faz hoje é recebê-los lá no Acre, pagar passagem para São Paulo e jogar esse pessoal por aí. Um outro aspecto a ser considerado é o decréscimo do nosso Produto Interno Bruto. Então com isso já vemos os índices de desemprego aumentando e aí essa mão de obra, queremos ou não, passa também a concorrer com as vagas do mercado de trabalho. E aí gera um certo atrito com as pessoas que estão perdendo seus empregos e mais imigrantes buscando emprego também. Por esse lado, pode ser olhada de forma negativa.

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Mas há de se lembrar que os postos ocupados pelos migrantes são, geralmente, aqueles dispensados pela nossa população, que consegue outro emprego e aquelas vagas de base de pirâmide acabam sobrando. Isso acontece porque muitos dos imigrantes têm capacitação e até nível superior, mas qualificação ainda precisa ser propiciada para eles. Em suma, há o lado bom da vinda dos imigrantes, mas na conjuntura atual torna-se mais um peso para a população.

HSC – Como deve ser a integração, principalmente em termos de produtividade, desses povos à cultura local?

DMJ – O nosso povo é aberto a novas situações e às pessoas que chegam até aqui. Então imagino que o recebimento dessas pessoas não tenha grandes problemas. É claro que o acolhimento é algo mais adiante, mas não vejo uma reatividade de algum setor ou de alguma parte da sociedade em relação à vinda desses imigrantes.

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Eles vêm numa situação muito difícil, necessitando praticamente de tudo. Então seria importante haver uma estrutura que pudesse suprir isso. Eles chegam até aqui e encontram uma realidade que não é boa, mas comparada aos que eles têm nos países de origem, é. Basicamente, eles chegam, recebem uma carteira de trabalho, e começam as atividades.

HSC – Quais são os setores mais aptos à absorverem os imigrantes? Temos exemplos positivos recentes de estrangeiros que contribuíram para a economia do Estado?

DMJ – São setores intensivos de mão de obra. Em nosso histórico de recebimento de imigrantes, o setor que mais acolheu foi o da agroindústria, principalmente nos frigoríficos, depois a metalurgia e a construção civil.

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No ano passado, a agroindústria do Oeste absorveu com naturalidade os imigrantes. Em Jaraguá do Sul, eles também contribuíram e muito com as metalúrgicas. Já em Balneário Camboriú, eles predominam nos setores de serviços, como em postos de combustíveis e em funções domésticas. Os informes que a gente tem é que esse pessoal tem interesse e produtividade maior do que os brasileiros. Talvez fosse pela necessidade, né?

HSC – Como as políticas públicas podem fazer com que o processo migratório seja totalmente positivo na economia?

DMJ – Deveria haver um monitoramento desse movimento e, principalmente, uma triagem para que, de acordo com a capacitação, essas pessoas já fossem encaminhadas para regiões onde há demanda. Isso lá na ponta quando vem e também aqui, para sondar empresas que também querem recebê-los.

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Essa demonstração de interesse de recebimento praticamente partiu dos empresários, que tinham dificuldade de conseguir mão de obra, então eles é que acabavam tendo que ir buscar. Um papel que o governo não faz, teve de ser executado pela iniciativa privada. Mas ainda é necessário intermédio e organização por parte do governo.