Eles sofrem por estar longe de casa e de suas famílias, não conhecem direito a cidade, não conseguem se comunicar direito porque não falam português fluentemente e enfrentam enormes barreiras para conseguir trabalho. Mas cantam com força e alegria todas as manhãs de domingo, como se nenhum problema os incomodasse.

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Há três finais de semana, um grupo de haitianos que mora na zona Norte de Joinville tem chamado a atenção de quem passa pela rua Guaíra, que liga os bairros Aventureiro e Iririú. Com Bíblias e livros de canto, eles vão chegando a pé, de bicicleta e cheios de alegria para participar de celebração ministrada em crioulo e francês, as línguas oficiais do Haiti.

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– Estamos aqui para adorar a Deus. Ele vai nos ajudar – diz cheio de esperança o diácono Wilthonn Cardichon, de 39 anos, um carpinteiro profissional que veio para Joinville há três anos, dois depois que um terremoto devastou completamente seu país, em 2010.

O grupo se reúne em uma garagem e uma sala do primeiro andar de um sobrado do lado esquerdo da rua. As cadeiras são de metal, pintadas de branco, iguais as usadas em bares. A decoração, simples, é feita com balões e fitas em azul e branco, cuidadosamente costuradas pelas mulheres do grupo.

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O volume do sistema de som emprestado e do teclado é alto. Mas as orações e os cânticos chamam ainda mais a atenção. As músicas podem durar dez, 15 minutos e são acompanhadas por palmas, danças e um agitar de braços. As mulheres fazem os tons mais agudos. Quase inalcançáveis. Os homens, os graves. Todos afinadíssimos.

Entre a pregação da palavra de Deus e os louvores, sempre lida e cantados em francês e crioulo, homens e mulheres dão seus testemunhos, falam de como Deus mudou suas vidas.

Os únicos brasileiros no culto da manhã deste domingo eram o repórter e o fotógrafo de “A Notícia“. Mesmo sem entender as palavras ditas e cantadas, é possível perceber a paixão e o entusiasmo com que cada um se dirige ao microfone.

Esta não é a primeira celebração religiosa feita para os haitianos em Joinville. Mas a primeira em que eles próprios são os protagonistas. As igrejas evangélicas e católica de Joinville já têm pastorais e grupos de assistência diretamente ligados aos haitianos.

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Eles começaram a chegar em Joinville aos poucos, ainda 2011. É preciso pelo menos R$ 6 mil para as passagens de avião e ônibus entre Porto Príncipe e Joinville. Hoje estima-se que haja mais de 1,1 mil imigrantes refugiados do Haiti em Joinville, especialmente nos bairros Comasa, Espinheiros, Itaum, Profipo e Saguaçu. A maior dificuldade é o trabalho.