Ele não chegou a conhecer o pai, mas, pelo o que contam, o dom artístico pode ter sido herdado de família.
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– Dizem que ele era maestro de coral. Acho que o puxei um pouco – conta Jean Davidson Dorlus.
O jovem de 24 anos nasceu no Oeste do Haiti, em uma cidade chamada Fond Parisien. Em setembro de 2016 ele veio morar em Joinville junto à mãe e duas irmãs mais novas, no bairro Itaum. Uma terceira irmã ficou no país de origem. Dentre os três idiomas dominados por ele, agora está o português, fato que o motivou a lançar sua primeira música no idioma.
Desde cedo, aos nove anos, Jean se dedica à canção. Ao Hip-Hop, mais precisamente.
– Eu não sei o porquê de eu ter começado a gostar de música. Acho que até hoje não sei responder a essa pergunta – considera. Segundo ele, no Haiti o Rap é definido como movimento e, a partir disso, compõe diversos outros subgêneros, como o Hip-Hop e o Reggaeton, ritmos apreciados por Jean.
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Lá ele passou por dois grupos de Hip-Hop. Quando chegou ao terceiro, chamado Energy Boys, Jean mudou-se de país, o que não foi empecilho para continuar trilhando seu sonho.
-Hoje somos quatro aqui. Todos vieram ao Brasil, apenas um ficou no Haiti – reforça.
A situação enfrentada no país de origem não era tão fácil. Jean e a família viviam bem até a morte do padrasto dele e pai das três irmãs. A instabilidade econômica obrigava a mãe a viajar a Cuba para tentar vender produtos. Diante deste cenário, não viram alternativas que não fosse a mudança. A mãe foi a primeira a desembarcar no Brasil, em 2014.
Foi necessário paciência e dedicação para dominar o português. Quando chegou às terras sul-americanas, Jean – ou David Lover, seu nome artístico – dedicou seis meses inteiros para entender e pronunciar corretamente as palavras. Tudo isso sozinho. Ele queria se aperfeiçoar antes de dar continuidade à carreira artística.
– Depois comecei a ir a Batalhas de Hip-Hop em Joinville – conta.
Em 2017, David participou de um festival de canção promovido por uma multinacional da cidade, onde ele atualmente trabalha. David conseguiu a segunda colocação.
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– Esse dia foi grandioso para mim. As pessoas gostaram da minha apresentação – lembra.
Idioma era desafio a ser superado
Foi a nova realidade que o fez mudar de planos a respeito do que cantaria. O sonho inicial do haitiano era compor músicas em inglês, já que possuía mais domínio desse idioma comparado ao português.
– Eu pensei: eu consigo entrar no mercado americano. Mas aí pensei novamente e vi que o problema é que eu não estou nos Estados Unidos. Eu estou no Brasil – destaca.

Mesmo sabendo que teria público para as canções em inglês, David abriu espaço a uma diferente perspectiva compatível à nova vivência no país: cantar no idioma local se tornara sua nova ambição.
– Acho que não deve ter muita gente que venha de fora e tenha conseguido fazer arte com a cultura daqui diretamente. E se realmente não tiver, por que não inventar? – questiona.
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Foi a partir disso que David lançou neste mês seu primeiro clipe, intitulado “O que você quer”. As cenas foram gravadas em diversos pontos de Joinville, como a fachada no Centreventos Cau Hansen, no bairro América, e o Parque da Cidade, no Guanabara. O videoclipe foi dirigido por Maçaneiro e está disponível no YouTube.
Para ele, a música tem o poder de ultrapassar gerações, como ocorreu entre ele e seu pai. Música é sinônimo de força, já que o motiva a não desistir. Música é a inspiração que o faz levantar todos os dias. Música representa laços e cria parcerias.
– É o que te faz se sentir bem. É o que tem o poder para mudar seu humor – ressalta.
Agora, o que o haitiano espera ver é o salto em sua carreira. E o que espera ouvir? Que sua música transcenda as fronteiras latinas em idioma nacional.