Um imigrante haitiano de 30 anos procurou a polícia para denunciar funcionários da indústria que trabalha, localizada no distrito de Pirabeiraba, região Norte de Joinville. Makendro Loute diz ter sido vítima de xenofobia durante a saída do trabalho, no dia 6 de outubro. Ele registrou um boletim de ocorrência.
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Makendro, que trabalha no turno da noite, conta que saía da empresa, por volta das 5h, e, por causa do frio, vestia a touca da jaqueta. Por norma da empresa, a vigilante que estava na portaria pediu para que ele retirasse a peça da cabeça, mas ele afirma não ter ouvido. Em seguida, seu colega, também haitiano, reforçou o pedido da mulher.
– Quando eu tirei, ela disse “esses haitianos aí” e mais algumas palavras que não consegui entender – relata Makendro, que conta ter ido para casa em seguida.
No dia seguinte, o operador de produção buscou a coordenação da área em que atua para relatar o episódio, também próximo ao horário de deixar a empresa. Na descida das escadas do escritório, colegas o disseram que novamente outro seguranças agiu com preconceito.
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– O outro segurança falou para outro que estava do lado “não é a primeira vez que essa raça de haitiano dá problema”. Estou muito triste. Uma pessoa que faz isso não conhece a história do Brasil, se soubesse, não faria isso. É preconceito – desabafa.
Melhores condições de vida
Conforme levantamento realizado pela Polícia Federal, com cerca de 4.500 pessoas, Joinville é a segunda cidade com mais imigrantes de Santa Catarina. A maioria deles são naturais do Haiti e Venezuela e vêm à cidade em busca de melhores condições de vida, trabalho e moradia.
Este foi o caso de Makendro, que mora na zona Leste de Joinville há quatro anos junto de sua esposa. Recentemente, o casal teve um bebê e o haitiano é, atualmente, o único responsável pela renda da casa.
Ele conta que trabalha na empresa há pouco mais de um ano e nunca tinha trocado nenhuma palavra com os seguranças que acusa terem sido preconceituosos por causa de sua nacionalidade.
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Além do boletim de ocorrência, Makendro notificou a indústria sobre o ocorrido. Por meio de nota enviada ao g1, a Britânia Prime disse que apura as denúncias de racismo e xenofobia envolvendo o colaborador da fábrica. Além disso, a empresa diz que promove o combate de todas as formas de discrimanção e informou que relatos e imagens de câmeras de segurança foram recolhidos para que medidas sejam tomadas.
O crime de xenofobia é considerado crime de ódio no código penal brasileiro e é caracterizado como praticar, induzir ou incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, como no caso de Makendro. A pena para o crime é de reclusão de um a três anos e multa.
Crime comum
Nasser Barbosa, coordenador do Centro de Direitos Humanos (CDH) de Joinville, afirma que o crime de xenofobia é mais comum do que se imagina. Ele reforça a importância de imigrantes e povos tradicionais denunciarem a prática, que viola os direitos humanos.
– A xenofobia é uma realidade. Muitas vezes não enxergamos porque quem é nativo da cidade ou morador daqui do estado não sofremos esse tipo de coisa – respalda.
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Makendro aguarda o posicionamento da empresa sobre o assunto para que situações parecidas não voltem a ocorrer. Sua vontade é que a situação seja resolvida e que possa permanecer empregado.
– Tenho medo pelo meu emprego, ele é muito importante para mim. Pago aluguel e tenho família – destaca.
*Com informações de NSC TV
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