Uma pesquisa do departamento de Nutrição da UFSC avalia as habilidades culinárias dos estudantes. As dificuldades apontadas pelos participantes do estudo estão entre os temas de uma série de vídeos com orientações para o preparo de uma alimentação saudável.
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A relevância do assunto é observada na prática por Sandra Grabin, que é mãe de dois jovens.
“Minha filha saiu pela primeira vez de casa quando terminou a faculdade. Algo que preocupa é ela não estar se alimentando direito, sempre comendo fora, não se preocupa se vai ingerir alimentos saudáveis ou não, come muita gordura, sal… É algo que deixa a gente, como mãe, apreensiva do que pode acontecer”, afirmou.
A experiência da filha de Sandra é a mesma de muitos jovens que estão fazendo sua estreia longe de casa. O que pode fazer a diferença na saúde desses estudantes, profissionais recém-formados ou jovens casais é a desenvoltura na cozinha.
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Pesquisa em SC e RS
A habilidade na hora de preparar os alimentos está relacionada a dietas mais saudáveis, de acordo com a professora Manuela Mika Jomori, do departamento de Nutrição da UFSC.
Ela está à frente da pesquisa “Nutrição é na cozinha, habilidades culinárias e alimentação saudável na universidade”, uma parceria entre UFSC e UFRGS.
– A ideia é que a gente avalie os estudantes, no primeiro momento, para a gente ter um perfil do nível de habilidades culinárias desses estudantes e, posteriormente, conseguir planejar alguma ação de maneira mais efetiva – afirmou.
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Mudança de cultura
A pouca “intimidade com as panelas” acompanha uma mudança de comportamento das famílias nas últimas décadas a partir do aumento da oferta de alimentos industrializados, conforme a professora de Nutrição.
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– Os próprios pais estão optando por esse tipo de refeição e os adultos jovens acabam não vivenciando muito essa transmissão dos conhecimentos culinários, como era antigamente. Antes, como não tinha opção, as famílias faziam as refeições, os filhos viam e acabavam aprendendo – relata Manuela.
Aos 45 anos, Sandra Grabin lembra como a cozinha passou a fazer parte da sua rotina muito cedo e de uma forma natural.
– Eu com meus 12, 13 anos, já cozinhava para a família toda. Aprendi muito cedo a fazer o trivial, preparar pão, o que era comum se fazer na época – contou.
Em muitos países, incluindo o Brasil, a culinária fez parte da educação básica, mas foi retirada do currículo há algumas décadas. Órgãos oficiais desses países têm se preocupado e tentado resgatar a culinária para promover uma alimentação saudável.
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– Não é questão de voltar no tempo, mas de ver como a gente pode adequar a alimentação – ponderou Manuela.

Incentivo para cozinhar
Conforme a professora da UFSC, entre os fatores que contribuem para que os estudantes escolham produtos industrializados ou ultraprocessados está o baixo custo, a falta de tempo para preparar uma refeição, falta de estrutura na cozinha, como utensílios, o baixo conhecimento sobre o preparo dos alimentos.
– Então, a questão da gente avaliar a atividade culinária e tentar estimulá-los, incentivar a confiança deles para cozinhar, é um passo para que a gente atinja uma alimentação mais saudável – afirmou Manuela.
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A primeira parte da pesquisa foi aprimorar o questionário para avaliar a alimentação dos alunos com a maior precisão possível.
– Para que esse seja um instrumento que esteja disponível para qualquer profissional da área da saúde, principalmente da área de nutrição, pra que se avalie as pessoas aqui no Brasil pra traçar futuras ações e até mesmo políticas públicas voltadas para públicos específicos – destacou Manuela.
Para o trabalho, a pesquisadora e sua equipe ouviram mil estudantes da UFSC e da UFRGS. Os dados preliminares apontam que os universitários em Santa Catarina têm um nível intermediário de habilidades culinárias.
Itens analisados
Entre os itens avaliados no estudo estão interesse em cozinhar, frequência com que prepara refeições, confiança na preparação de ingredientes frescos, crus, que precisam ser manipulados, confiança para usar frutas, verduras, legumes, ervas, temperos e a confiança no consumo desses alimentos, conforme o recomendado.
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Além da pesquisa, o trabalho compreende um projeto de extensão. As orientações sobre culinária estão dispovíveis em temporadas de vídeo. O material pode ser acessado nas redes sociais do projeto, e no site da UFSC pela população em geral.