Quando se fala em frio no Brasil, o assunto é a Serra Catarinense. São Joaquim, Urubici e Bom Jardim da Serra são municípios conhecidos por isso. Mas a cada onda de frio, outro lugar desperta cada vez mais interesse entre turistas, pesquisadores e imprensa. Sem nenhum demérito às cidades vizinhas, mas a pequena Urupema, de apenas 2,5 mil habitantes, é a bola da vez no inverno brasileiro.
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Emancipada de São Joaquim há 23 anos, Urupema tem registrado há pelo menos cinco anos as temperaturas mais baixas de todo o território nacional. Tanto que, há algumas semanas, lançou na internet um portal pelo qual se intitula a cidade mais fria do país. Mas sem entrar na saudável disputa com a mãe São Joaquim, é fato que Urupema tem se transformado e visto a sua rotina mudar completamente.
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Veja as fotos de Urupema no amanhecer desta quinta-feira
Em dias de extremo frio combinados com feriados ou finais de semana, como ocorre exatamente agora, a cidadezinha na qual é comum andar a cavalo na principal avenida e onde muitos moradores ainda não se preocupam em chavear a porta de casa começa a ver uma multidão diferente nas ruas.
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Gente bonita e bem vestida, com carrões importados e passaportes carimbados em vários países, passou a frequentar Urupema. Além da geada e da neve, a cidade tem outros fenômenos raros e talvez únicos no Brasil, como o sincelo, algo semelhante à neve e cujo acontecimento é conhecido apenas no Morro das Antenas, um dos principais pontos turísticos da cidade, e o congelamento natural de uma cachoeira aos pés do mesmo morro, o que, conforme a previsão de mínimas próximas a -10ºC, pode ocorrer hoje.
Ruas limpas, cultura tradicionalista, comidas típicas, um rio que é um dos únicos habitats naturais de truta – peixe que exige água limpa e gelada para viver – fora da América do Norte e uma praça – Manoel Pinto de Arruda – que é uma das mais belas da região, são outros motivos que atraem os turistas à cidade.
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Assim, é fácil lotar os 120 leitos oferecidos em hotéis, pousadas e hospedagens alternativas em feriadões como este. Só neste ano, quatro novas opções de hospedagem foram abertas. E se não é para ficar, muita gente opta pelo tradicional bate e volta só pelo prazer de sentir algo que é raro ou inédito em suas vidas.
Foi o que fizeram ontem, por exemplo, o bancário Adriani Chierighini, de 41 anos, e a filha Amabily, 17, de Florianópolis; o funcionário público Patrick Estevão, 33, e a mulher Nadieg Pacheco, 27, de Itajaí; e o comerciante Carlos Borgonha, 48, e a mulher Aline, 23, de Taió. Todos saíram de casa pela madrugada e foram até Urupema conhecer o Morro das Antenas e o tal sincelo, que é tão gelado, raro e bonito.
– Dormimos no carro em um posto de combustível para vir até aqui, e não imaginava ver algo assim. É o maior frio da minha vida. Dói tudo -, disse o bancário Adriani que, ainda que congelado, estava feliz.
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Mas Urupema, ao mesmo tempo em que encanta, muitas vezes frustra. Ontem, por exemplo, com a cidade cheia de turistas, não se encontrava um único lugar aberto para tomar um café ou comer um sanduíche.
Quem quisesse fazer um lanche rápido precisava se deslocar 50 quilômetros até Lages ou 80 até São Joaquim para encontrar opções. Ao meio-dia, a pedido da secretaria de Turismo, um restaurante abriria as portas para servir almoços. Tudo bem que era feriado e estava muito frio para trabalhar, mas os comerciantes perderam uma boa oportunidade de ganhar dinheiro e conquistar o turista a voltar mais vezes.
Ou seja, de nada adianta a limpeza pública, o plantio de flores na praça, a sinalização das ruas, a pavimentação asfáltica da rodovia que liga à BR-282 e facilita muito a vinda dos turistas, a conservação de estradas, a organização de eventos, uma grande campanha de marketing e até a abertura da Secretaria de Turismo em todo feriado e fim de semana se, quem iria ganhar com tudo isso, simplesmente parece ignorar.
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– A ficha está começando a cair, e o turismo não tem volta. Mas cada um que quer aproveitar a oportunidade tem que fazer a sua parte. É no fim de semana e no feriado que o turista vem, mas chega aqui, e não encontra nada aberto. Temos um Conselho de Turismo com uma reunião por mês, e muitas vezes, está só eu e o presidente. O poder público encontra dificuldades em conscientizar a população. Os investimentos estão sendo feitos. Agora falta a iniciativa privada acreditar no turismo e trabalhar -, diz o secretário de Turismo de Urupema, Angelo Stupp.