Um assovio. “Amigo, vê mais uma rodada”. Bandeja na mão e sorriso no rosto. Segue com o pedido do cliente e logo já vai atender aos outros chamados. Há 16 anos, essa é a rotina de Carlos Aparecido Mello, 39, o garçom com mais tempo de casa no Expresso Choperia, em Joinville.
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Por que ele merece estar aqui? Simples. Basta chegar no bar e perceber o carisma dele com seu público e o do público com ele. A partir das 17 horas, ele se transforma no “funcionário amigo”. Veste o uniforme e começa a servir as mesas, os que dançam em frente ao palco, os que se sentam ao balcão.
Junto com mais quatros garçons, cozinheiros, barmen e recepcionistas, ele comanda a noite na movimentada choperia joinvilense. Mas o trabalho começa bem mais cedo. A equipe chega às 14h30 e, em vez de bebidas e copos, carrega vassouras e panos. A bagunça do dia anterior ainda está lá e para que haja a balada da vez ninguém mede esforços para deixar o chão brilhando. Motivo de orgulho para Carlos.
– Não tem tempo ruim para ninguém. Cada um faz o seu trabalho e é isso que nos faz ser uma família – fala enquanto aponta cada funcionário que arruma o salão ao som de Zeca Pagodinho.
Os vários anos no Expresso renderam a Carlos amor pela profissão e reconhecimento. É ele, mesmo afirmando a autonomia de cada um, quem comanda os trabalhos na casa. Porém, não nega nenhuma função exigida.
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– Fazemos de tudo. Fico circulando entre as pessoas para o atendimento, mas se precisar limpar a água que derramou no chão, eu limpo – explica.
Talvez por isso seja um dos preferidos pelos clientes, que já chegam lhe chamando pelo nome.
– Em tanto tempo na casa, já vi muita coisa. Teve clientes que casaram entre si e outros que foram levados bêbados para casa. A relação com o público é muito bacana.
Como começou O talento de Carlos para trabalhar em bares e restaurantes veio cedo. Ele conta que em uma brincadeira, ainda com 15 anos, preparou um lanche no estabelecimento do irmão. Cem por cento aprovado pela clientela, logo ganhou seu primeiro emprego como chapeiro no negócio da família.
Em 1990, começou a trabalhar em um hotel de Joinville, onde ficou por cinco anos. Após sua saída, o atual estabelecimento fez o convite para iniciar as atividades no local. Carlos não aceitou.
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– Queria tirar um mês de férias, descansar um pouco.
Não adiantou. Dias depois, o futuro novo funcionário foi buscado em casa para o seu primeiro dia. O que seria um “bico” transformou-se em mais de uma década. Sem arrependimentos. O “veterano” parece ter nascido para isso quando se vê o sorriso que leva no rosto o dia todo e o transfere para a função noturna.
Demonstra satisfação com o emprego, com o lugar e, principalmente, com os colegas, já amigos. No tempo livre, é com eles que acontece o churrasco de fim de semana. Ou então com a mulher Andréia Cristiane e os três filhos, com quem vive no Parque Guarani, zona Sul da cidade.