Meu inverno quase sempre é como um bom pulôver, daqueles bem puídos, perfeitos em nós, que a gente tem vergonha de pôr em público e não empresta a ninguém, que a cada ano se desgasta um pouquinho mais e se molda aos poucos às nossas expectativas e tamanhos, que mudam constantemente; desses que alguém que nos ama levou um bom tempo para fazer e veio embalado em papel pardo com barbante, seguido de: “é o que você realmente queria?”.

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Assim se vai tricotando um inverno de cada vez, ora lembrando do que já foi, saudade, ora imaginando o que será, esperança. E não há coisa mais deliciosa pra se fazer, num tempo de “coisas de inverno”, que tomarmos um punhado de silêncio e de tempo para sentar numa poltrona e burilar-se com um bom romance, desses que cada vez mais conquistam leitores pela sua beleza e singularidade, nos arrebatam desde a primeira página a singrar o inimaginável para alcançar o óbvio.

Por estes dias, mesmo quando o brocado do inverno rouba da primavera manhãs ensolaradas, ainda assim elas são como invernais gravuras na tessitura dos dias frios, muito particulares e inconfundíveis, como tricô e meia se distinguem a quem artesanalmente faz da lã matéria de aquecimento para quem ama, assim também os dias gelados vão fazendo do inverno uma espécie de linha que alinhava cada momento à lareira aos nossos, cada manhã gélida que nos empurra para o trabalho “encapotados” de sono, cada simples aurora com geada, que embranquece o gramado e o campo, numa sem igual obra de arte, que no tear do tempo dos nossos dias por aqui com um pouco de sensibilidade podemos ver.

*Guilherme Orestes Canarim, 22anos, é escritor – acaba de

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lançar Seminal, seu primeiro livro -, filósofo, estudante de História e

morador de Criciúma