Um dos maiores representantes do regionalismo catarinense, o escritor e jornalista Guido Wilmar Sassi completaria o centenário neste ano. Faleceu em 2003, aos 81 anos. Apresentou particularidades da Serra e do Oeste de Santa Catarina, onde nasceu e viveu, e atravessou fronteiras com uma obra original.

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Natural de Lages, aos sete anos mudou com a família para uma cidade ainda menor e próxima, Campos Novos. Quando o pai faleceu, ele deixou os estudos sem concluir o ginásio. As histórias contadas pela mãe e pela avó e a curiosidade do menino em folhear um velho dicionário encontrado em casa despertaram o interesse pela literatura. Outro achado quando tinha por volta dos 12 anos aumentou o encantamento: um caixote com livros no sótão parecia um tesouro.

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Juntou a imaginação às histórias lidas e ouvidas, e deu vida a personagens e paisagens nas brincadeiras de criança. Criou um oceano particular no quintal de casa em Campos Novos. Transformou árvores e troncos em navios e tornou-se marinheiro, pirata e capitão. Fez de um pinheiro o personagem principal do primeiro conto “Amigo velho”, publicado em 1949 na conhecida revista Globo, de Porto Alegre. Na época, já escrevia artigos para os jornais de Lages e crônicas lidas na rádio, atividade que estendeu para outras publicações.

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O trabalho literário dele chegou à Capital do Estado, que vivia naquela época a efervescência do Grupo Sul, movimento de intelectuais, artistas e escritores para levar o Modernismo a Santa Catarina. Uma das iniciativas do grupo, ao qual se integrou, foi a Edições Sul, responsável pela publicação do seu primeiro livro, “Piá” (1953). Essa coletânea de contos gerou oportunidades de intercâmbio com outros escritores e publicações nacionais e do exterior.​

Sete anos depois, ocorreu a estreia no romance com o premiado “São Miguel”. Relata episódios cotidianos dos moradores do vilarejo fictício São Miguel, afetado pela escassez das cheias do Rio Uruguai que permitiriam as balsas levarem madeira local até os portos argentinos. Principal atividade econômica da região, a crise na venda da madeira atinge a todos: madeireiros, balseiros, dono da mercearia, até a igreja, que fica sem a contribuição dos fiéis. Em um ambiente desfavorável, as pessoas vão expondo os lados sombrios. 

Dramas marcam a vida do escritor

Em outro romance, “Geração do deserto” (1964), o escritor elabora uma narrativa original a partir de um fato histórico, a Guerra do Contestado. O filme “Guerra dos Pelados”, de Sylvio Back, foi baseado neste livro. Conciliando a literatura com os trabalhos ao longo dos anos como funcionário público e depois bancário, ele escreveu oito livros e tem textos incluídos em coletâneas, antologias, revistas e jornais, com alguns escritos traduzidos para publicação na Alemanha e em Angola. 

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A vida de Guido Wilmar Sassi foi marcada por dramas. Teve poliomielite aos dois anos. Quando tinha 18, o pai faleceu e ele precisou tornar-se o “chefe da família”. Perdeu amigos que foram lutar na Segunda Guerra Mundial, na Europa. Em 1960, morreram afogados sua filha de 12 anos e o amigo que tentou salvá-la no Rio Uruguai e ele mesmo quase faleceu tentando resgatar as crianças. Nesse mesmo ano, o melhor amigo cometeu suicídio.

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Na ditadura militar, a partir de 1964, amigos se exilaram, alguns foram presos e outros desapareceram. Por causa de um acidente de carro, ficou sem a visão do olho direito. Em meio a situações tão desfavoráveis, Guido conseguiu superar os dramas pessoais e se dedicou à literatura durante quase meio século.

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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