A sabedoria popular diz que o fruto não cai longe do pé. É no embalo deste ditado que a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) promove o primeiro Encontro Nacional de Tênis, em Florianópolis, com o intuito de aproximar diferentes gerações de atletas e treinadores para impulsionar ainda mais o esporte de alto rendimento no país. Ao longo desta semana, tenistas consagrados, como Gustavo Kuerten e Fernando Meligeni, treinadores e jovens promessas trocam experiências, conselhos e, é claro, batem bola nas quadras da sede da CBT e da Federação Catarinense de Tênis, na Agronômica.
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Para se ter uma ideia da importância de resgatar a competitividade dos atletas, atualmente o Brasil não tem nenhum jogador entre os top 100 no ranking da ATP — o melhor colocado é Rogério Dutra Silva, na 101ª posição — e o único brasileiro que conseguiu terminar uma temporada na primeira colocação foi Gustavo Kuerten, em 2000. Para Guga, o trabalho para recolocar os brasileiros entre os melhores tenistas do mundo passa pela formação de treinadores.
— Está bem claro a necessidade atual de encontrar novos formatos, utilizar bem os recuros e desenvolver o conhecimento. A melhor maneira é unir forças, com esse tipo de iniciativa. Estamos focando muito em atender os treinadores, porque esse é o caminho de realmente conseguir consolidar um conhecimento e depois desenvolver isso na parte final, que são os jogadores.
“Cria” de Larri Passos, Guga sabe o valor de um treinador para o desenvolvimento de todas as potencialidades de um atleta em formação, como é o caso do mineiro João Ferreira, de 16 anos. A jovem promessa nasceu no mesmo ano em que Gustavo Kuerten e Fernando Meligeni defenderam a seleção brasileira na Copa Davis, aqui mesmo em Florianópolis.
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— São dois ídolos. Quando comecei a jogar tênis, meu pai me mostrava vídeos do Guga, as vitórias, ele desenhando o coração na quadra… É uma coisa que emociona qualquer um. É uma experiência incrível poder estar perto do Guga e do Fernando, ouvindo um monte de dicas e conselhos — disse João.
Depois de passar por uma reestruturação, inclusive com a mudança da sede de São Paulo para Florianópolis, em dezembro do ano passado, a CBT tem apostado em um programa de alto rendimento para atletas em fase de transição. De acordo com o presidente Rafael Westrupp, o encontro desta semana é a “última gota de ação no ano para celebrar de forma técnica esse trabalho com treinadores e jogadores”.
— É uma oportunidade ímpar. Essa meninada não teve nenhum tipo de experiência nesse sentido antes. Estão do lado das maiores referências do nosso esporte, e não é só para bater um papo de meia hora. Estão na quadra treinando, trocando experiências na parte técnica e prática. Não queremos que seja um ponto final, por isso já planejamos dois encontros semelhantes para o ano que vem.
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Hay que endurecer sin perder la ternura
Depois dos treinos na manhã desta terça-feira, 5, Gustavo Kuerten e Fernando Meligeni bateram um longo papo com treinadores e jogadores. Em dado momento, Fininho tomou a frente e ressaltou aos atletas a importância de se dedicar e respeitar as orientações dos técnicos. Apesar de ser conhecido pela irreverência e bom humor, o medalista de ouro no Pan-Americano de Santo Domingo, em 2003, acredita que somente uma rotina rigorosa de treinamentos pode culminar na formação de um jogador de alto nível.
— Hay que endurecer sin perder la ternura. Às vezes as pessoas confundem uma pessoa irreverente com uma pessoa desleixada, mas existe uma diferença absurda. Quando a gente pisa no verdinho, é um lugar sagrado. E num lugar sagrado, você respeita. O respeito nada mais é que tentar tirar o seu melhor. O melhor jeito para isso é treinando e trabalhando duro. É isso que a gente tenta passar pra eles.
O paranaense Thiago Wild, de 17 anos, é apontado como uma das grandes promessas do tênis brasileiro. Desde os 14 anos ele treina com profissionais, como Thomaz Bellucci e Thiago Monteiro, e conhece o valor dos ensinamentos de Meligeni.
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— Sempre estive perto dos profissionais, viajando com eles. Cada dia aprendo uma coisa nova, sempre tem algo para melhorar. O tênis brasileiro sempre teve bons talentos (na categoria) juvenil, mas que nem sempre vingavam no profissional. Esse encontro de hoje e o projeto de transição da CBT vão apoiar cada vez mais os jogadores, dar uma base melhor e mais ritmo de jogo. Isso vai subir muito o nível do tênis no Brasil.
A presença de Gustavo Kuerten deu motivação ainda maior para Thiago Wild, João Ferreira, Rafael Matos e tantos outros atletas que buscam seu espaço no circuito mundial de tênis, mas o ídolo-mor do esporte faz questão de ressaltar que é “preciso colocar esse espírito vitorioso e essa confiança dentro coração de treinador, que é quem dá o oxigênio do dia a dia para os jogadores”.
— Já para a garotada, a gente procura passar bastante a importância desse espaço sagrado, que é a quadra de tênis. O vínculo de respeito e admiração, que depois se transforma em amor e paixão.
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Desafio Correios de Tênis
O tradicional Desafio de Tênis Correios ocorrerá na sequência do encontro, nos dias 8 e 9 de dezembro, nas quadras rápidas da Confederação Brasileira de Tênis, na avenida Beira-Mar Norte. A entrada é gratuita.
Este ano, o evento terá Bruno Soares capitaneando o time Sedex e o Rogério Silva capitaneando o time Correios Celular. Cada equipe contará com profissionais da nova geração, como Marcelo Zorman e Rafael Matos, além de juvenis promissores, como Thiago Wild e Mateus Alves.
Também haverá uma disputa em Tênis em Cadeira de Rodas, com a presença do catarinense Ymanitu Silva, número 1 do Brasil e nove do ranking mundial de Quad.
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