Impossível. No dicionário, “aquilo que é difícil demais de fazer ou conseguir, o que não pode acontecer”. Agora imagine se é possível jogar qualquer jogo de computador sem conseguir movimentar os braços e as pernas. Para muitos a resposta seria: “impossível”.
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Mas não para Diego Mateus, ou “Guerreiro Tetra” como é conhecido no mundo gamer. Aos 34 anos, o morador de Criciúma é referência nacional no streaming de jogos pelo computador. É considerado um craque no “Tíbia”, um jogo de estratégia e aventura que surgiu nos anos 1990 e possui adeptos até hoje.
O que torna o Diego uma referência não é apenas o desempenho dele, mas sim a forma como joga. Em vez de controlar a direção do mouse com as mãos, como qualquer outro jogador, ele controla com o queixo. O clique não é com o dedo, mas com a bochecha. Tudo isso por conta de um acidente, que aconteceu há 17 anos.
– Era uma noite comum, como várias outras de fim de semana. A gente saiu e um amigo meu tinha comprado uma moto nova. Eu sentei na garupa e ele estava me mostrando a moto. A gente estava parado. De repente, ele acelerou e eu me desequilibrei. Acabei caindo de costas no chão e apaguei. Só acordei 15 dias depois, no hospital – conta Diego.
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O acidente causou uma lesão na coluna do Diego. Por conta disso, ele perdeu todos os movimentos do pescoço para baixo. Foram seis meses internado no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão, até ir para casa. A situação da família, que morava em São Ludgero, ficou difícil desde então.
– O médico disse que eu não podia mais trabalhar, que tinha que ficar com ele em casa, cuidando dele 24 horas por dia. Ele ficou totalmente dependente de mim. Não foi fácil no início, tive que aprender muita coisa pra conseguir cuidar dele – lembra a mãe de Diego, Eliete Torres Mateus.
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Vivendo apenas com um salário mínimo, que vinha da aposentadoria por invalidez de Diego, a família passou por dificuldades, mas nunca desistiu. Em 2007, com a ajuda de outras pessoas, eles conseguiram um tratamento no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, que é referência no tratamento de lesão medular.
– Eu fiquei 45 dias lá. E foi lá que eu descobri esse mouse adaptado, que era o projeto de uma professora que trabalhava no hospital. Eles me deram o mouse e emprestaram um computador, que eu trouxe para casa – conta Diego.
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Foi a partir daí que o Diego começou a jogar pelo computador. Foi aprendendo e ficando melhor a cada dia.
Mudança trazida pela pandemia
Diego adotou um novo jeito de jogar, mas não falava para os outros jogadores sobre a própria condição. Até que veio a pandemia, e tudo mudou.
– Eu estava começando a fazer palestras motivacionais quando a pandemia da Covid-19 estourou. Assim como outras pessoas, como os artistas, que migraram pras lives, eu também resolvi tentar. Criei um canal de streaming e me mostrei pro mundo. Logo no segundo dia um streamer que tem milhares de seguidores conheceu a minha história e migrou o público da live dele pra minha. De repente, eu vi cerca de 1,5 mil pessoas na minha transmissão, me mandando apoio – lembra Diego, emocionado.
Daí em diante Diego ganhou notoriedade, assinou contratos de patrocínios e virou personagem de um documentário. Tudo em questão de meses. A vida de uma família que se transformou por conta do mundo dos e-sports, mas também pela força de vontade e determinação de um homem, que honra o nome que carrega nos games: “Guerreiro”.
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– A minha vida mudou bastante, mas o mais importante mesmo é a lição que fica. Eu nunca deixei de acreditar que eu poderia fazer algo relevante. A limitação está na nossa mente, na nossa cabeça. Quando a gente entende isso, passa a viver melhor, realizando tudo o que está ao nosso alcance, independentemente das limitações físicas – finaliza Diego.
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