Os guatemaltecos começaram a votar neste domingo no segundo turno das eleições presidenciais nas quais se enfrentam o comediante direitista Jimmy Morales e a ex-primeira dama social-democrata Sandra Torres.
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O presidente do Tribunal Eleitoral, Rudy Pineda, declarou abertas as mesas para que as 7,5 milhões de pessoas habilitadas possam votar até as 22h (de Brasília), quando fecham as urnas.
Depois de conseguirem tirar do poder os governantes envolvidos em uma fraude multimilionária, agora o movimento de indignados pede reformas no sistema político para evitar novos episódios de corrupção.
Aos gritos de “Renúncia já”, acompanhados do ruído ensurdecedor de cornetas de plástico e tambores, os indignados guatemaltecos fizeram tanto barulho nas ruas que atingiram seu objetivo: a saída do então presidente Otto Pérez e de sua vice-presidente, Roxana Baldetti, envolvidos em uma fraude no sistema nacional alfandegário.
A fraude milionária, revelada em abril, levou à renúncia, em 2 de setembro, do presidente Otto Pérez, quatro dias antes das eleições gerais previstas no cronograma eleitoral.
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“As manifestações foram o primeiro passo de muitos. Caíram figuras importantes, mas não caíram as estruturas” de corrupção, explicou à AFP Gabriel Wer, membro do coletivo Justiça Já, um dos grupos que liderou vários protestos contra Pérez e Baldetti.
Segundo Wer, as mobilizações iniciadas após a revelação da fraude serviram como ponto de partida para que os cidadãos guatemaltecos acordassem e exigissem mudanças profundas no sistema político.
Uma investigação da Procuradoria e da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), entidade vinculada à ONU, revelou a operação de uma rede conhecida como “A Linha”, que cobrava propinas de empresários para a evasão de impostos alfandegários.
As duas entidades acusaram os governantes de chefiar a estrutura e, encurralados pela acusação, Baldetti renunciou em maio e Pérez, em setembro. Agora, ambos estão em prisão preventiva e vinculados à investigação.
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Os protestos conseguiram levar para trás das grades, pelo menos temporariamente, Pérez e Baldetti, mas o trabalho se concentra agora em conseguir mudanças para erradicar a corrupção no país, afirmou o ativista.
A vinculação do chefe de Estado no escândalo de corrupção fez soar o alerta para os dois candidatos à Presidência, que remodelaram seus discursos para promover a transparência em uma campanha marcada pela apatia e pelo desinteresse.
O comediante Jimmy Morales, do partido de direita FCN-Nación, e a ex-primeira-dama social-democrata Sandra Torres, da Unidade Nacional da Esperança (UNE), tentam convencer os mais de 7,5 milhões de guatemaltecos convocados a votar com um discurso anticorrupção.
As pesquisas de opinião dão clara vantagem a Morales, apesar de sua falta de experiência política, embora quem circule pelas ruas da capital guatemalteca se surpreenda com o tímido clima eleitoral.
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Em frente à praça de San Sebastián, no centro da cidade, uma pequena carreata de carros antigos era organizada na manhã desta sexta-feira para circular pelas ruas vizinhas com propaganda de Morales, enquanto de um auto-falante soava uma pegajosa ‘bachata’ (música típica local), que pedia aos eleitores: “não seja indiferente, Jimmy presidente”.
“Nosso primeiro fundamento é zero tolerância à corrupção, que tem sido um dos flagelos que impediram que a Guatemala se desenvolva como nação”, disse Morales durante a apresentação de seu plano de governo.
O comediante de 46 anos antecipou também que promoverá um sistema de “portas abertas” para a contratação de produtos e serviços no governo.
Três passos contra a corrupção
Sandra Torres também se somou à mensagem anticorrupção, após o escândalo que também custou o cargo da vice-presidente Roxana Baldetti.
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Pérez e Baldetti são investigados como supostos líderes da rede que cobrava propina de empresários para evadir impostos alfandegários.
Torres, de 60 anos, resumiu sua política de transparência em três passos: criar uma comissão de étnica, eliminar as compras públicas diretas e desarticular grupos criminosos que operam dentro do Estado, com apoio da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), uma entidade da ONU que apoia a depuração do sistema de justiça.
“Certamente, a corrupção é a maior ameaça quando um governo busca o bem-estar de seus cidadãos”, disse Torres.
Antes das eleições, os dois candidatos se comprometeram diante do atual presidente interino, Alejandro Maldonado, a cumprir suas promessas no combate à corrupção, e assinaram uma Aliança Nacional para a Transparência para garantir o bom uso dos bens públicos.
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Eleições apáticas
O vazamento dos casos de corrupção ofuscou a campanha eleitoral e distanciou os guatemaltecos dos discursos e comícios dos dois candidatos.
Para o analista político Phillip Chicolá, o processo eleitoral foi atípico devido ao escândalo, que gerou a pior crise institucional na história recente deste país centro-americano.
Mas considerou também que esta crise se tornou um alicerce para diferentes setores sociais que esperam “um renascer” para que a população fique vigilante para o uso dos recursos do Estado.
Embora os discursos se concentrem em combater a corrupção, os dois candidatos pretendem ainda combater a violência, melhorar a educação, os serviços de saúde e reduzir a pobreza, que afeta 54% dos 15,8 milhões de habitantes.
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* AFP