Uma forte corrente de retorno por pouco não tirou a vida de Enzo Martins, 13 anos, em Bombinhas, Litoral Norte. Ele entrou no mar, na praia de Bombas – apenas com o primo, Nathan, sem nenhum adulto conhecido para acompanhá-los – e não conseguiu voltar. Apesar de não saber nadar e ter medo da água, quis chegar perto das pedras para brincar com o primo.

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Ao perceberem a situação, os guarda-vidas Ricardo Martins, Thiago Andrade e Cleiton Glowacki, sem trocar uma palavra, se dividiram no salvamento. O vídeo do resgate realizado há 15 dias, gravado com uma câmera acoplada ao capacete de um guarda-vidas ganhou repercussão internacional. Dois dos jornais, um do Reino Unido (Daily Mail) e outro dos Estados Unidos (New York Daily News) divulgaram as imagens em seus sites.

Assista aos depoimentos:

Ricardo Martins, guarda-vidas

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“Eu , Thiago e Cleiton e chegávamos ao fim de um dia intenso de salvamentos. A praia estava lotada naquele dia, com aproximadamente 10 mil banhistas. Era 17h45min quando voltávamos de outro salvamento.

No caminho, Everton Pinheiro que estava trabalhando como olheiro no posto anunciou um arrastamento do lado esquerdo da praia. Avistamos duas crianças em perigo, próximas às pedras – um dos locais mais perigosos da praia de Bombas. Não havia tempo a perder.

O momento que mais me marcou neste salvamento foi quando chegamos e ele estava praticamente submerso, apenas com os braços para fora. Ele me abraçou como se ali fosse o seu último suspiro. Só dizia ‘socorro, me tira daqui, não me deixe morrer’.

Muitos dizem que o bombeiro não escolhe ser bombeiro. A profissão procura a gente. Desde pequeno sonhei em ser militar. Um dia, vi um salvamento na praia e decidi ser guarda-vidas. Descobri que era aquilo que eu queria. Estou realizado. Fiz sete temporadas como guarda-vidas civil, esta é a primeira como bombeiro. Tenho alguns outros sonhos na vida, mas o maior deles consegui realizar”.

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Thiago de Souza Andrade, guarda-vidas

“Era o primeiro dia que eu estava com a câmera acoplada no capacete. Já tínhamos feitos outras imagens, mas com o celular ou com a câmera. Nunca deste ângulo como filmado no dia do resgate. A ideia do Martins era fazer um filme, após a temporada, mostrando o dia a dia dos guarda-vidas na praia.

Muita gente pensa que não fazemos nada, mas trabalhamos e muito. Esta é a minha terceira temporada como guarda-vidas. Depois desta gravação, todos queriam ver o vídeo que seria divulgado apenas para um grupo no Facebook. Mas alguém compartilhou e rapidamente as imagens ganharam o mundo. Ninguém esperava esta repercussão.

Lembro que tinha muitas ondas próximas às pedras e fortes correntes marítimas. Quando a gente chegou, ele já estava tomando água. Marcou por ser criança. Adulto tem mais cuidado. Ele (Enzo) estava bem assustado. Se não tivesse a presença do guarda-vidas, seria um óbito”.

Cleiton Glowacki, guarda-vidas

“Aquele dia o mar estava perigoso, com ondas grandes e correntes marítimas. Estávamos eu, Martins e Andrade voltando quando o Everton viu a ocorrência. Fomos em direção ao mar. Quando chegamos mais perto percebemos que havia outra vítima, também criança.

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Enquanto os outros dois correram em direção ao menino, fui em direção ao primo dele e o salvei. Ele estava melhor, segurei ele e fui orientando como sair dali. Depois, voltei para a ajudar no salvamento do outro. Só quem salvou alguém sabe como a gente se sente”.

Israel Martins, o pai

“Aquele sábado tinha tudo pra ser agradável. A família estava reunida na casa, em frente à praia de Bombas, onde sempre ficamos, há vários anos. Eu conversava com amigos, durante um churrasco, e de longe olhava as crianças (meu filho, com o amigo e meu sobrinho), os três têm a mesma idade e brincavam na areia. Vi quando foram para a beira da água.

Não vi o tempo passar, acho que uns 30 minutos depois, estava em frente à praia e percebi que algo estava errado. Vi um tumulto. A presença dos guarda-vidas chamou atenção, mas achei melhor não me aproximar, para não atrapalhar o trabalho deles. Nem imaginava que poderia ser algo com meu único filho. Mas as pessoas começaram a me chamar. Procurei as crianças e não as vi. Sai correndo.

Quando cheguei, a operação estava concluída. Enzo estava sendo carregado por Martins. Enzo estava extremamente nervoso, tinha tomado muita água.

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Senti uma confusão de sentimentos. Muita culpa por ter deixado eles lá, me cobrei muito pelo que aconteceu. Mas senti também uma profunda gratidão por aqueles homens terem salvado a vida do meu filho. Verdadeiros heróis.

Abracei ele. Minha mulher estava junto e ficou nervosa. Abracei o soldado Martins e agradeci muito aos guarda-vidas. Depois, mais calmo, fui até o posto conversar com eles novamente.

Antes disso, não enxergava a importância destes profissionais. Fica a lição de ter mais atenção no monitoramento dele e nunca subestimar o mar. Isso que aconteceu fez com que eu mudasse hábitos da nossa rotina. Percebo a importância de prestar mais atenção aos passos de Enzo. Agora, acompanho ele até a escola, que é perto. Apesar de ele ter 13 anos, é preciso tomar cuidados. Explico para ele a importância do trabalho destes profissionais, que se não fosse eles… Não sei o que seria”.