Eram 12, mas não apóstolos. Surgiram na década de 1960, em Camboriú, mais tarde a famosa Balneário Camboriú. Conquistaram fama de anjo, mesmo que no começo fossem Polícia de Praia. Eram uma dúzia em 1961; chegaram aos anos 1980 em centenas e atravessam 2014 em mais de dois milhares.
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Evolução em números, estrutura física, denominação. Antes chamados de salva-vidas, os guarda-vidas de hoje desfilam em uma passarela montada sobre um litoral de 500 quilômetros. A performance vai além das condições do mar. Embandeira-se pela moda.
Pelo menos quanto à modelagem. No começo, os guarda-vidas usavam roupas bem maiores. Bermudas compridas e camisas com mangas. Com o tempo, surgiu a necessidade de peças funcionais e confortáveis. Essa evolução também está relacionada a uma descoberta importante: a praia como alternativa de lazer. Antes o pretexto era o poder terapêutico dos banhos de mar.
– O que se pode observar, principalmente a partir da segunda metade do século XX, é que estas roupas acompanham tendências. Assumiram os tecidos da moda praia, que eram feitos de lá, partindo para sintéticos e malhas que aos pouco foram recebendo tratamentos tecnológicos especiais – sugere Maristela Amorim, jornalista pós-graduada em moda.
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Aos poucos foram assimilando outras formas. Mas, conforme a professora, vale observar que, assim como a moda praia masculina pouco muda, os uniformes seguem no mesmo ritmo.
Lá pelos anos 1960 – quando aconteceu grande revolução da moda praia- os homens aderiram aos shortinhos de elanca. Era um tecido elástico, que facilitava o movimento do corpo. A peça era de perna curta, cinto e até fivela. Surgiu como um dos primeiros uniformes de salva-vidas.
Década de 1970, a sunga acompanha mudança de comportamento
No final dos anos 1960, início de 1970, o mundo passou por uma revolução de comportamentos: houve permissão para que as cavas das pernas subissem. Surgiram as sungas, inspiradas num modelo de cueca chamado slip. E se popularizaram.
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– Quem não lembra da sunga de crochê do Fernando Gabeira? Nessa época, a sunga dos guarda-vidas também diminui de tamanho. Não chegou aos extremos do Gabeira, mas ficaram bem mais curtinhas e sensuais – observa a professora.
Quando os surfistas entraram em cena, as sungas não desapareceram. Mas começaram a dividir espaço com os shorts de banho feitos de algodão. No início eram mais justos. Aos poucos foram ficando maiores, se adaptando às necessidades de movimento da natação. Na década de 1970 era mais curtos e justos. A partir dos anos 1980 começaram a assumir uma modelagem mais folgada e tecidos tecnológicos. Mas foi a partir dos anos 1990 que esses tecidos especiais começaram a fazer realmente diferença. Muito mais leves e com características como antibacteriano e/ou de fácil secagem.
Os guarda-vidas de hoje ainda usam sungas. Mas é mais comum estarem com calções folgados.
As camisas também seguem a moda. Possuem modelagem básicas, com mangas ou com cavas regata. As cores privilegiam o vermelho e o amarelo. Chamam a atenção por serem vivas. Se não funcionar, eles recorrem a um objeto indefectível: o apito.
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Atualmente, foco é na prevenção de afogamentos
Com o tempo, o vestuário e as instalações mudaram. Mas se tem uma coisa que nunca sai de moda é a disposição dos guarda-vidas em garantir segurança aos banhistas. A mudança na terminologia veio com o objetivo de um trabalho focado mais na prevenção, do que na atividade de propriamente salvar.
-Claro que a função é de socorrer quem estiver em perigo, mas nossa atividade é também chamar a atenção para que a própria pessoa não se exponha aos riscos- explica o coronel Onir Mocellin, coordenador de Salvamento Aquático em Santa Catarina.
Mocellin, que é também vice-presidente da Associação Brasileira de Salvamento Aquático, conta que essa mudança ocorreu há 25 anos no país. Em Santa Catarina, a partir de 2007. Sobre os olhares e elogios que os guarda-vidas costumam receber a respeito do porte físico, o coronel ressalva:
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-É fundamental que o guarda-vidas não esteja fora de forma para poder nadar bem. Mas existem outros atributos, como ser atento, observador, pontual.
No curso de treinamento, que dura 120 horas-aulas e cinco semanas, o guarda-vidas sai tendo que nadar 500 metros em 11 segundos.
– Essa exigência se faz acompanhar, por exemplo, da pontualidade. O que adianta ele saber nadar se chega depois do horário ou ou sai antes de encerrar o serviço? – provoca o coronel.
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A atividade também deixou de ser exclusividade de militares. Em 1998, o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina tornou-se pioneiro em formar a primeira turma de guarda-vidas civis para atuar na orla catarinense de forma voluntaria. Isso sob a supervisão dos guarda-vidas militares do Corpo de Bombeiros. Para Mocellin, o trabalho em conjunto do guarda-vidas militar com o profissional civil originou um ambiente bastante aberto para inovações, convênios com entidades
públicas e particulares. Também mulheres entraram na atividade. Hoje, aproxima-se de 10% do total.
Assim como a moda, o perfil do guarda-vidas em Santa Catarina sofre influência de características bem regionais. Em Itajaí e região, são em maioria estudantes universitários. Em cidades mais ao Norte, como Itapoá, a atividade é quase toda ocupada por pescadores.