A realidade que enfrentou após a separação, em 2012, levou o publicitário catarinense João Ricardo Costa a produzir o curta-metragem “Sonhos de Isah”. A animação conta a história de uma menina que não tem o convívio diário com o pai, mas que nos sonhos consegue manter a proximidade com a figura paterna. O primeiro episódio foi lançado em 2017. Em um financiamento coletivo, lançado em novembro, o diretor tenta produzir o quarto episódio da série.

Continua depois da publicidade

Todas as produções foram feitas através de vaquinhas on-line. O reconhecimento e a participação em vários festivais educativos no Brasil e também em outros países como México, Peru, Equador e Colômbia, foram o diferencial na produção da série.

– As pessoas acreditaram no projeto. Encontrei um ilustrador que comprou a ideia e consegui uma equipe para produzir – comenta João, que tem especialização em cinema, o que o fez ter contato com pessoas do meio e facilitou a produção.

Ricardo com os primeiros desenhos.
(Foto: Arquivo Pessoal)

De forma lúdica, João apresenta a temática da guarda compartilhada, que desde 2014, com a Lei 13.058, sancionada no governo de Dilma Rouseff, tornou-se regra.

– A guarda compartilhada é quando ambos os pais são responsáveis financeiramente pelo menor, assim como são responsáveis por resolver todas as peculiaridades da criança ou adolescente em conjunto – explica a advogada Rafaela Almeida, que também tem formação em psicologia.

Continua depois da publicidade

De acordo com a lei, a obrigatoriedade acontece mesmo sem acordo entre os pais, com exceção de quando um dos pais não deseja a guarda do menor. Ainda nesses casos, o juiz pode exigir o compartilhamento, se entender que há condições de manter essa relação sem prejuízo para a criança.

Embora o país apresente um aumento significativo no registro de guarda compartilhada – entre 2014 e 2017 o número triplicou, de acordo com as Estatísticas do Registro Civil, do IBGE, passando de 7,5% dos casos de divórcio de casais com filhos menores para 20,9% –, João ainda enfrenta dificuldade para aumentar os dias ao lado da filha, hoje com nove anos.

– Queria a quarta-feira e as férias escolares, mas só tenho os finais de semanas alternados – relata o pai e diretor da animação, que tem como objetivo na produção da série, mostrar para a filha o desejo de estar ao lado dela e também ser referência no assunto, ajudando a trazer o tema para a discussão.

Festival internacional

Nesse sentido, João tem atingido o propósito. O mais recente convite veio do Ministério da Cultura de Guine Equatorial. O curta Sonhos de Isah foi selecionado para participar do festival de música e cinema do país africano. No Brasil, a série será exibida nas escolas da rede pública de Valparaíso, em Goiás. Em Santa Catarina, a produção participou do Festival Internacional de Cinema de Balneário Camboriú deste ano, e também esteve no Festival de Cinema de Jaraguá do Sul, no ano passado.

Continua depois da publicidade

Segundo a psicóloga e psicanalista infantil Carla Caroline Santos, a abordagem do tema de forma lúdica é fundamental para que a criança encontre um lugar de fala.

– É essencial! Quanto mais possibilidade a criança tenha de falar sobre o que está acontecendo será melhor para ela. E, geralmente, a criança fala nas escolas, ou em grupos da rotina dela. A informação é sempre muito bem-vinda. Porque a ideia é que a criança possa falar e que quando ela se veja, ainda que não esteja em alienação parental, mas que consiga se ver em sofrimento e fale – argumenta a especialista.

As aventuras da personagem Isah

Cada episódio retrata o universo infantil através dos sonhos da personagem Isah, apresentando os anseios e as alegrias especialmente para filhos de casais separados, evidenciando os benefícios que uma divisão equilibrada do tempo de convívio com ambos pais traz para a criança.

— Quando amamos alguém, podemos guardá-lo sempre perto de nós — diz o papai nas primeiras cenas do primeiro episódio, onde menina Isah encontra seu pai na casinha de boneca. No sonho eles vivem juntos aventuras em uma nave espacial.

Continua depois da publicidade

No segundo episódio a menina visita o baú do papai, no sótão eles fazem uma viagem no tempo até a década de 1940, onde brincam com brinquedos da época e falam sobre como a guarda dos filhos funcionavam nesse período, onde os homens tinham prioridade.

Na terceira animação, pai e filha viajam para Dinamarca, onde a guarda compartilhada é uma realidade desde a década de 1990. No próximo episódio, ainda em fase de captação de recurso, Isah mostrará uma das inúmeras situações onde o convívio igualitário com seus pais seria benéfico na sua vida. Para realizar este novo episódio, Jorge espera arrecadar 4 800 reais. Para ajudar o projeto é necessário acessar o site catarse.me.