O que fazer para criar um grupo de trabalho eficiente? Para responder a pergunta, Anita Woolley e Thomas Malone, pesquisadores do Massachussetts Institute of Technology e da Carnegie Mellon Univesity, respectivamente, estudaram 699 pessoas em diferentes equipes, aplicando testes e jogos de negociação para analisar o desempenho dos diferentes conjuntos profissionais. A conclusão a que chegaram, publicada recentemente na revista especializada Science, é que grupos com maior número de mulheres são os que têm mais inteligência coletiva, termo usado pelos dois para definir o desempenho coletivo na realização de uma tarefa.

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A explicação, segundo os cientistas, é o melhor desempenho feminino no item sensibilidade social. Em entrevista, Anita Woolley conta que essa preocupação em relação à emoção do outro influencia no trabalho em grupo.

– As diferenças entre homens e mulheres afetam a dinâmica das equipes de trabalho. Há estudos que mostram isso, e esse é um deles. É fato: as mulheres têm uma inteligência social maior que a dos homens. Isso significa que elas são melhores na linguagem corporal, o que acaba aparecendo na maneira como elas trabalham. E quando elas estão em um grupo, elas ajudam a melhorar a performance da equipe, porque são mais sensíveis – diz.

O chamado sexto sentido feminino seria, portanto, na opinião das pesquisadoras, uma maior sensibilidade social.

– Elas geralmente ?pegam? rápido a informação de outra pessoa só olhando para ela. No trabalho, isso quer dizer que elas antecipam como os outros vão reagir e, isso ajuda muito nas relações – afirma Anita.

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E haja sensibilidade no trabalho do administrador Flávio Alcântara, 29 anos. No estúdio de arquitetura em que trabalha, são sete mulheres e dois homens.

– Elas percebem facilmente quando eu estou triste ou mais feliz. E isso é muito interessante na hora de fechar um negócio – conta Flávio.

Ele inveja a forma como as companheiras lidam com os contratempos.

– Cada uma tem um jeitinho para convencer, usando a delicadeza e a atenção. E elas conseguem! – espanta-se o administrador.

Às colegas, Flávio só tece elogios.

– Elas têm mais senso de união, de grupo. Dá para sentir que existe uma proximidade maior e, desse jeito, o clima no trabalho é bem harmônico.

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Ele acredita que nem mesmo a tensão pré-menstrual atrapalha o relacionamento.

– A gente é tão cúmplice que elas avisam quando a TPM vem, e eu já fico sabendo como tratá-las. Esse é um dos segredos – aconselha.

Companheira de trabalho de Flávio, a arquiteta Helena Tourinho, 25 anos, acredita que as características femininas no trabalho aparecem de maneira mais saudável quando há pelo menos um homem por perto.

– Eles são mais racionais e ganham com o tempo. Nós, mulheres, ganhamos com a percepção. É uma soma positiva para todos – analisa a arquiteta.

A colega Renata Melendez concorda:

– Sempre convivi com muitas mulheres no ambiente de trabalho e acho que tudo flui melhor. Mas o importante é ter uma equipe equilibrada, com homens também – defende.

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A psicóloga Luiza Ricotta aponta a diferença entre mulheres e homens na hora de trabalhar: as mulheres geralmente desenvolvem várias atividades ao mesmo tempo, já os homens trabalham de maneira mais clara, mais pragmática.

– Todo grupo tem tarefas e metas. Porém, o mais importante é ter senso de colaboração. Cada sexo é de uma maneira, e o espírito coletivo tem que ser positivo para bons resultados no trabalho”, avalia. A presença masculina, para a psicóloga, dá um sentido mais prático ao ambiente de trabalho, e a feminina, mais colaboração. “Dessa forma, o nível de inteligência coletiva aumenta – afirma.

No trabalho do cientista político Marcelo Pimentel, 22 anos, o número de mulheres também é maior que o de homens: elas são 15 e eles, nove. Ele acredita que as mulheres são mais hábeis socialmente e atentas aos colegas.

– Uma vez mudei o corte de cabelo, raspando a cabeça. Meus colegas olharam, mas não falaram nada. Mas as meninas na hora vieram me perguntar sobre a mudança – lembra.

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Mariana Lucena, 28 anos, que trabalha na mesma empresa de consultoria política de Marcelo, concorda com o colega.

– Acho que mais do que perceber o que o outro sente, a gente tem um papel de temperar os grupos de trabalho – diz.

No entanto, ela não gosta quando vê grupos só de mulheres.

– Acontece que a gente tende a se estranhar e, às vezes, ter mais problemas. Os homens são muito mais simples, mais diretos e mais objetivos. O sucesso do grupo pode vir quando o homem e a mulher se complementam – opina Mariana.

Preconceito

O doutor em sociologia do trabalho Giovanni Alves avalia positivamente os novos grupos e métodos de gestão.

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– O que a pesquisa de Woolley e Malone mostra é a importância do tratamento subjetivo, da inteligência coletiva e, claro, da inteligência emocional – explica.

Ele chama a atenção para a natureza feminina, que pode se revelar extremamente competitiva em determinadas situações.

– Se for uma repartição composta só por mulheres, a competição entre elas aparece, porque uma vai querer mostrar que é melhor que a outra. É da natureza feminina e é preciso entender isso – alerta.

Outro ponto importante, segundo Alves, é que as mulheres se fragilizam mais que os homens.

– Infelizmente, esse é o calcanhar de Aquiles delas, o que gera o preconceito cultural.

O especialista ressalta que a característica não impede que elas desempenhem suas funções com competência. Por exemplo, alguns duvidam que a presidente argentina, Cristina Kirchner, consiga terminar bem o mandato porque o marido morreu.

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– É como se, sem o homem, a mulher não fosse capaz. O que é uma grande mentira – analisa.

Palavra de especialista

SITUAÇÃO DESIGUAL

“A gente tem que comemorar as conquistas femininas, mas é importante lembrar que há muita coisa ainda a ser feita. A mulher enfrenta uma jornada dupla. É ela quem fica responsável pelo filho, quando ele nasce. E essa situação no Brasil cria a necessidade de que ela articule família e trabalho. Sempre ela. É uma situação muito desigual, pois além de ter essa conciliação entre trabalho e família, ela ganha menos que os homens, mesmo que ocupe as mesmas posições no trabalho. Então acredito que é muito bom ter essa quantidade de mulher no mercado de trabalho e é ótimo ver que aumenta significativamente na área do direito. Só que, repito, ainda temos muito trabalho pela frente para igualar as condições de homens e mulheres”

Crsitina Bruschini, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas