Depois de sete anos sem gravar, o grupo mineiro Uakti lança o disco Beatles, com versões instrumentais de músicas do quarteto. O show de lançamento em Porto Alegre será hoje e amanhã, no Theatro São Pedro. O grupo mostrará os instrumentos artesanais que caracterizam seu som desde a fundação, em 1978. Criados com materiais como PVC, os equipamentos são construídos pelo diretor artístico Marco Antônio Guimarães, responsável pelos arranjos. Ele concedeu a seguinte entrevista por telefone.
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Zero Hora – Vários artistas propuseram inúmeras releituras dos Beatles. Como vocês procuraram se diferenciar?
Marco Antônio Guimarães – Há bastante tempo, eu tinha vontade de tentar trabalhar as músicas dos Beatles com instrumentos do Uakti. Eles apareceram quando eu estava entrando na adolescência, exerceram grande influência em todos os jovens da época. Acompanhei o trabalho deles inteiro, desde o primeiro disco até o último – até os trabalhos solo. Neste último disco nosso, o pessoal gostou da ideia (de fazer versões dos Beatles). Fiz os arranjos de músicas que conheço muito bem para os instrumentos que eu mesmo criei. De qualquer maneira, seriam versões inéditas, pois esses instrumentos não têm réplicas. Não há outros grupos que trabalhem com esse instrumental.
ZH – Em duas faixas do disco, vocês utilizam instrumentos tradicionais, como guitarra e piano.
Guimarães – A guitarra é uma homenagem aos Beatles. É a primeira vez que um disco do Uakti tem guitarra. Trata-se de um improviso no final de Get Back. Eu queria que o disco tivesse som de guitarra em algum lugar. Quanto ao piano, fiz o arranjo de Come Together nesse instrumento. Ficou mesmo muito “pianístico”. Não é a primeira vez que usamos esse instrumento, mas é a primeira vez em que o pianista é solista, e os outros instrumentos fazem o acompanhamento.
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ZH – A maioria dos integrantes do Uakti teve formação erudita. Em que sentido isso foi importante para vocês?
Guimarães – Na verdade, coincidiu. Por acaso, a gente tocava na mesma orquestra (Orquestra Sinfônica de Minas Gerais). Eu tocava violoncelo, o Décio (de Souza Ramos Filho) era percussionista e timpanista, e o Artur (Andrés Ribeiro), flautista. O Paulinho (Paulo Sérgio Santos) é mais da música popular, mas fazia participação na sinfônica para completar o naipe de percussão. Depois que o Uakti surgiu e começamos a tocar e a gravar, conseguimos conciliar por algum tempo. Mas depois ficou difícil. Resolvemos sair da orquestra e ficar exclusivamente com o Uakti. Viajamos muito para o Exterior, gravamos discos.
ZH – Hoje, você não se apresenta mais com o Uakti?
Guimarães – Fiquei apenas na parte da criação. Toco só em estúdio. Parei de fazer ao vivo. Viajei muito com o Uakti, mas meu interesse na criação musical é muito maior do que na interpretação. Os outros músicos são mais intérpretes, apesar de comporem também.
ZH – Você tem fama de recluso.
Guimarães – Não sou muito de sair, de frequentar eventos. Me tornei uma figura meio oculta no sentido artístico. Fiz a trilha para o filme Lavoura Arcaica (2001), do Luiz Fernando Carvalho. Certa vez, ele me ligou convidando para ver as filmagens. Disse a ele que sou como João Gilberto no jeito de ser. Ele respondeu: “Nisso você é melhor do que o João Gilberto”.
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UAKTI
> Neste sábado (29/6), às 21h, e domingo (30/6), às 18h. Duração: 90 minutos. Classificação: livre.
> Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100.
> Ingressos: R$ 40 (galerias), R$ 60 (camarotes laterais), R$ 70 (camarotes centrais) e R$ 80 (plateia e cadeiras extras). À venda na bilheteria do teatro hoje, das 15h às 21h, e amanhã, das 15h às 18h, e pelo site www.compreingressos.com.