Depois de terminar seu turno no Big Happy’s, pista de skate e bicicross agora fechada na região nordeste de Ohio, Jon Sedor e amigos resolveram soltar fogos de artifício caseiros. Sedor levantou o braço para soltar um foguete. Ele se lembra da luz e de um estouro forte próximo do ouvido esquerdo, “e só”. O trauma o deixou confuso, com os ouvindo zumbindo.
Continua depois da publicidade
– Olhei para baixo e meu braço estava retalhado – ele disse.
Pouco após o acidente em maio de 2007, contando apenas com uma porção da palma e do polegar, Sedor conseguiu se recuperar a tempo de cursar o primeiro ano de faculdade. Porém, nunca mais recuperou a sensação nem o uso do braço esquerdo. Em 30 de maio de 2008, em seu 20º aniversário, a mão foi amputada.
Os principais hobbies de Sedor, andar de bicicross e fazer escaladas, logo desapareceram enquanto ele enfrentava a nova realidade das limitações. Somente quando se mudou para Nova York em 2012 o desejo de escalar voltou.
Usando o Facebook, Sedor entrou em contato com Ronnie Dickson, um dos principais alpinistas norte-americanos amputados, que o apresentou a um grupo de escalada adaptada. Agora, seis anos depois de a mão esquerda ter sido amputada na altura do punho, Sedor está treinando para o campeonato mundial de paraescalada em Gijón, na Espanha, entre 8 e 14 de setembro.
Continua depois da publicidade
O grupo de escalada adaptada é fruto de Kareemah Batts, do Brooklyn, que uma vez jurou que nunca escalaria rochas. Porém, ela descobriu o esporte depois que uma batalha contra o câncer que lhe custou uma parte da perna. Depois, descobriu que queria escalar com outros amputados e formou o grupo.
A perna esquerda de Batts foi amputada abaixo do joelho em 21 de agosto de 2009 – data que ela chama de “ampuversário” – quando combatia um sarcoma sinovial, tipo de tumor maligno que exige tratamento com radiação e quimioterapia. Foi uma batalha que ela terminou vencendo. Enquanto frequentava um grupo de apoio, Batts conheceu um programa que envia pessoas que sobreviveram ao câncer a viagens de aventura. Ela participou de uma e descobriu que aquilo reduziu sua depressão, algo não conseguira frequentando grupos de apoio a amputados ou pessoas com câncer.
– Se você não nasceu com deficiência, costuma comparar tudo a como era antes de ficar deficiente – disse Batts. A excursão de escalada em rocha ao Colorado era “uma coisa que nem a Kareemah nova nem a Kareemah velha haviam feito”.
Quando voltou para casa, resolveu incorporar a escalada à rotina. Batts tinha dificuldade em encontrar emprego “porque você deixa de ser uma mulher com experiência e se torna uma pessoa deficiente, é um peso morto”. Contudo, foi contratada pela loja de artigos para atividades ao ar livre Eastern Mountain Sports. A partir daí, aumentaram seu conhecimento de escalada e o acesso à comunidade nova-iorquina de escaladores.
Continua depois da publicidade
Após viagens de escalada às montanhas Shawangunk, no estado de Nova York, e sessões regulares em paredes de escalada na cidade de Nova York, Batts queria escalar com outros amputados. Motivada pelos treinamentos liderados por Dickson, Batts passou seis meses planejando uma clínica de escalada para amputados.
A academia de escalada Brooklyn Boulders ofereceu espaço de graça para o evento em março de 2012. Cinquenta pessoas se matricularam, transformando o que deveria ser uma sessão de um dia numa reunião de fim de semana. Batts disse que quando planejava a clínica, não havia percebido que não existia algo assim na cidade.
– Tivemos uma resposta impressionante – ela declarou.
O interesse em clínicas futuras foi imediato, disse Batts. Outros escaladores deficientes começaram a se juntar a ela nas sessões regulares nas noites de quinta-feira na Brooklyn Boulders. Por fim, ela combinou estruturas de horários e preços com a academia para acomodar os escaladores amputados. O grupo estava formado.
– Eu não estava planejando formar um programa. Acho que estava sendo egoísta. Só queria ter alguém para escalar comigo.
Continua depois da publicidade
A rede de contatos do grupo não para de crescer. A outra unidade da Brooklyn Boulders, em Somerville, em Massachusetts, recebe de braços abertos paraescaladores. O grupo de escalada também realiza clínicas ao ar livre. Batts disse ter entrado em contato com hospitais até de Chicago interessados em se aventurar na paraescalada reabilitadora.
No verão passado, Batts integrou a escalada competitiva ao seu grupo depois de participar de um torneio com seis outros paraescaladores, incluindo Sedor e Craig DeMartino, do Colorado.
Para muitos escaladores adaptados, grupo que inclui pessoas com problemas físicos, neurológicos e congênitos, o torneio é uma porta que se abre para um maior acesso a locais e ao aumento na frequência dos eventos de paraescalada. O Extremity Games, que começou em 2006 e se anuncia como “um evento de esportes radicais que inclui competições, clínicas de aprendizagem e exposições para atletas que perderam ou têm membros deficientes”, foi uma das primeiras opções.
DeMartino, multimedalhista no Extremity Games, fez sua primeira escalada há quase 25 anos, mas quase morreu em 2002 depois de cair mais de 30 metros durante a aventura nas Montanhas Rochosas. Apesar de haver sofrido fraturas expostas nos tornozelos e tíbia, além de outros ossos quebrados, e ter quase perdido o olho direito após um ano de reabilitação, DeMartino estava determinado a voltar a escalar.
Continua depois da publicidade
Desde então, ele se tornou um paraescalador renomado, representando os Estados Unidos em Paris no campeonato mundial de 2012, realizado pela Federação Internacional de Escalada Esportiva, além de ser consultor da USA Climbing, organismo nacional responsável pelo esporte, em competições. Ele também atuou na comissão de paraescalada da federação internacional.
DeMartino foi fundamental no primeiro campeonato nacional de paraescalada realizado em julho em Atlanta, onde paraescaladores competiram por vagas na equipe que representará os EUA na viagem à Espanha em setembro. Os principais escaladores competiram em divisões para amputados das extremidades inferior e superior do corpo, aqueles com deficiências físicas ou neurológicas, escaladores sentados e com deficiência visual.
– Os torneios são muito melhores agora do que eram antes. No começo, eles se resumiam à velocidade, mas agora são mais baseados na dificuldade e na mistura de rotas para atletas deficientes – afirmou DeMartino.
Agora, a maioria das competições se concentra no uso de cordas, com os escaladores presos a equipamentos de segurança enquanto sobem. Já a versão sem cordas nem equipamentos “ainda não existe com regras e rotas”, disse DeMartino.
Continua depois da publicidade
A proposta feita em 2013 para incluir a escalada esportiva nas Olimpíadas e Paraolimpíadas foi rejeitada pelo Comitê Olímpico Internacional. DeMartino disse esperar que um dia o esporte alcançasse o nível olímpico.
– A paraescalada é jovem o suficiente para crescer com inteligência. Competir é ótimo, mas os eventos servem como central de informação, ensino e desmitificação, o que é muito recompensador.
Na Costa Leste, os atletas do grupo de escalada adaptada do Brooklyn vêm treinando para campeonatos mundiais de paraescalada. Quemuel Arroyo, Chloe Crawford e Julia Sikut, que competiram na divisão sentada, e Adam Payne, vítima de ataxia, um distúrbio neuromuscular, se qualificaram para a equipe norte-americana.
O técnico de escalada Luke Livesey adaptou o sistema de treinamento de Sedor para Atlanta e Espanha.
– Faremos Jon executar flexões de braço com sua prótese e uma técnica de flexão auxiliada. É mais uma coisa de condicionamento. Quando se trata de competir em escalada, a estratégia vence a força – disse Livesey.
Continua depois da publicidade
Eventos como os campeonatos mundiais servem como experiência de aprendizado para a USA Climbing, cujo envolvimento na paraescalada competitiva é relativamente novo. Kynan Waggoner, presidente da USA Climbing, disse que a formação de grupos de desenvolvimento preciso que atraíssem participantes e a criação de paredes de escalada apropriadas são alguns dos desafios a serem encarados.
– Estamos tentando descobrir o que é certo na definição de rotas e precisamos que as categorias sejam justificadas pelo número de concorrentes – afirmou Waggoner. Ciente do espírito esportivo de muitos escaladores, ele acrescentou:
– Não quero que seja um prêmio para a pessoa se sentir bem. Nós queremos um número suficiente de atletas para que seja uma competição de verdade.
Por ora, Batts está ocupada arrecadando dinheiro para ajudar a cobrir os gastos de viagem para seu grupo de escaladores que irá à Espanha.
Continua depois da publicidade
– Não me interesso apenas em passar a experiência de escalar. Nós estamos falando em fazer daquela pessoa, com sua deficiência particular, um atleta melhor – ele explicou.