Estar isolado no meio da multidão, este é o sentimento de um grupo de cadeirantes de Jaraguá do Sul. Desde novembro de 2014, eles se reúnem para discutir soluções e medidas para melhorar a inclusão social de pessoas com necessidades especiais na cidade. Segundo o censo de 2010 do IBGE, Jaraguá do Sul tem cerca de 25 mil pessoas com alguma limitação física ou mental.
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O objetivo do grupo é que os cadeirantes e outras pessoas com necessidades especiais sejam notadas pela sociedade. Segundo um dos membros, Rogério Junge, a intenção é cobrar das instituições, dos comércios e da população que os direitos aos deficientes sejam cumpridos.
– Não queremos um espaço só nosso ou algo a mais. Queremos apenas que as leis sejam cumpridas e que o principal direito nosso de ir e vir ocorra – afirma.
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Para o grupo, Jaraguá do Sul não tem espaços capazes de proporcionar total acessibilidade. Segundo Maria Antônia Jesus Ferreira, ao sair de casa, o cadeirante enfrenta uma maratona, tanto em espaços públicos como privados. Na opinião de Maria Antônia, falta um olhar das pessoas para as necessidades dos outros.
Uma vez por mês, eles se reúnem no campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), no bairro Rau. Lá, utilizam o espaço para estruturar melhor o grupo e buscar caminhos para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.
– Nossa maior dificuldade é tirar as pessoas de suas casas. Porque quando saímos de casa, nos deparamos com um universo complicado e difícil, acabamos perdendo a vontade de sair – afirma Nivaldo Alves Ribeiro.
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O grupo conseguiu uma parceria com o Sesi de inclusão ao mercado de trabalho. Nela, pessoas com qualquer deficiência irão cursar o ensino regular, profissionalizante e demais cursos para serem inseridos na sociedade.
– O primeiro passo é encontrar pessoas como a gente e tirá-las de casa. Queremos que outros cadeirantes não passem pelas mesmas dificuldades que passamos – revela Nivaldo.

Blitz no calçadão
Deveria ser um simples passeio, mas para um deficiente físico se locomover pelo calçadão do Centro de Jaraguá do Sul pode ser uma batalha épica. Nivaldo Alves Ribeiro topou o desafio de andar por parte da área central e a realidade de Jaraguá do Sul foi preocupante.
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Primeira barreira está na vaga para deficientes. O espaço de um metro e meio para a pessoa sair do automóvel não existe, destaca Ribeiro. Segundo o cadeirante, é colocar a vida em risco, pois os veículos continuam passando enquanto eles descem do carro.
– Dependendo da rua, posso até trancar o trânsito porque preciso deixar a porta toda aberta e montar a cadeira do lado da rua – explica.
Para seguir o passeio, ele precisa se inclinar e levantar as rodas dianteiras da cadeira para ter acesso à calçada. Ele conta que aprendeu a manobra durante o tratamento no Hospital Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte.
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– Eles ensinam isso para a gente porque sabem como é a realidade fora do hospital. Cada caso apresenta uma limitação. Eu consigo fazer força e erguer a cadeiras, mas para outros essa técnica não funciona.
O problema público se estende para a área privada. Em um dos lados da rua Marechal Deodoro da Fonseca, da 15 lojas visitadas, apenas três tinham rapa de acesso. Entretanto, apenas um ponto comercial seguia a Norma Brasileira de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos – NBR 9050.
– Para cada 8,33 centímetros é exigido um metro de rampa. É difícil encontrar uma loja que siga exatamente como prevê a norma. Normalmente, encontramos rampas muito inclinadas que não possibilitam nossa locomoção – afirma.
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Ainda na área central, é possível encontrar calçadas quebradas e com elevações. Ribeiro tenta se locomover por elas, mas a força utilizada e a maratona não são para qualquer um. Ele explica que um cadeirante faz três vezes mais força do que um pedestre sem limitações físicas.
– Não estamos pedindo algo exagerado. Só queremos ter o direito de ir e vir, que está na lei. Faltam às pessoas pensaram na dificuldade do outro. Quero um dia ser aquela pessoa que ninguém vê quando está em algum lugar, passar despercebido – revela.
Acessibilidade está distante
Jaraguá do Sul desenvolveu um plano de revitalização da área central dividido em quatro projetos, por meio do Instituto Jourdan de Pesquisa e Planejamento para a mobilidade e acessibilidade da cidade em 2013. O projeto de mobilidade e acessibilidade está no Ministério das Cidades, em Brasília, para capitação de verbas, mas falta muito para sair do papel.
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A engenheira civil do instituto, Luciana Hartmann, afirma que a cidade está atrasada na questão de acessibilidade, assim como o resto do País. Ela revela que o projeto desenvolvido contemplará todas as pessoas com deficiências.
– Nele, fizemos as vagas para deficientes com o espaço adequado, iluminação subterrânea, rebaixamento de calçadas e tudo que exige a Normativa 9050- destaca.
Luciana acrescenta que NBR 9050 é antiga, mas que, agora, os municípios estão conseguindo tirá-las do papel. Em Jaraguá do Sul, a primeira calçada construída de acordo com as ideias de acessibilidade está na rua Reinoldo Rau com a Guilherme Weege. Além disso, estão desenvolvendo a lei que regulariza as calçadas da cidade para terem o mesmo padrão.
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– Foi um protótipo para ver se realmente vai funcionar. Assim, vamos dando continuidade ao projeto de acessibilidade – revela Luciana.
Para a arquiteta e urbanista do instituto, Maira Dalpiaz, o mais difícil é reverter algo que já foi construído. Ela enfatiza que os profissionais da área civil precisam observar a questão de acessibilidade para iniciarem novos projetos com a forma correta de edifícios.