Guto Kuerten
guto.kuerten@diario.com.br
Dá para sentir a união entre os amigos nos olhos de cada um durante a gravação dos depoimentos para o goleador do time e “o cara das pipas”. João Pedro de Aguiar da Cunha, 15 anos, passa atualmente pelo seu segundo tratamento contra a leucemia. Desta vez, os amigos foram além do que vai uma simples amizade. Além de rasparem o cabelo em solidariedade ao amigo, toparam gravar um vídeo em apoio ao parceiro afastado temporariamente da turma, que na verdade, é como uma família construída durante os anos de convivência no Colégio de Aplicação da UFSC, em Florianópolis.
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O adolescente é um exemplo de superação para os professores e alunos. No ano passado, para se ter ideia, mesmo em tratamento, conseguiu passar de ano. Atualmente está no 9º ano do Ensino Fundamental, e praticamente todo o colégio está motivado em apoiar João Pedro.
Na manhã da última quinta-feira, praticamente todos os alunos da sala foram à escola para gravar o depoimento. A dúvida era como fariam sem deixar o amigo muito sensibilizado. Não tinha como não ficar emocionante. Um por um – ou quem não teve coragem foi em dupla – deram apoio ao amigo. Funcionários, direção e professores que presenciam a cena, se encantam pela união daqueles meninos e meninas completamente apaixonados pela vida. Construíram um mundo de igualdade e gratidão. Na verdade, todos são praticamente iguais tanto fisicamente como em ideologia. Ninguém é melhor do que ninguém. Cada um tem seu papel no grupo de guerreiros adolescentes em que acreditam que a fé pode mudar este momento negativo do amigo.
A namorada Letícia Arêas adota uma técnica. Chora tudo o que tem direito, amparada no ombro das amigas, antes de gravar o depoimento para uma das pessoas que mais ama em sua vida.
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Todos têm certeza do retorno saudável do pequeno guerreiro e apaixonado por futebol. Prometem fazer tudo normal, ou melhor, nem tão normal. Com certeza irão aprontar muito. Brincam que irão soltar pipa, jogar futebol e, claro, ir ao baile funk da Moca.
A ideia de raspar o cabelo em solidariedade surgiu no grupo de WhatsApp de meninos e meninas de 11 a 16 anos.
O tratamento
O melhor soltador de pipa da escola Aplicação encontra-se internado para mais uma batalha contra a leucemia na Unidade de Transplante de Medula Óssea do Cepon, localizada dentro do Hospital Celso Ramos, em Florianópolis. Inseparável, a mãe de João Pedro acompanha o adolescente durante o tratamento. O primeiro diagnóstico da doença veio um dia depois de o menino completar 13 anos.
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– No começo ele não estava aceitando muito. Mas agora está confiante de que vai dar certo o tratamento e que vai obter o transplante – diz a mãe.
A homenagem
Um dia depois da gravação do vídeo com depoimentos dos amigos, a reportagem do Diário Catarinenselevou surpresa para ele. Conversamos um pouco sobre família, futebol, pipas e claro, sobre amizade. Impressionante o sincronismo e a semelhança no tratamento do assunto pelo grupo.
Na cabeceira da cama, os rosários e os santinhos das pessoas que foram visitá-lo durante o tratamento. São usados durante as rezas e pedidos de proteção.
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– Incrível. São pessoas de todas as partes que prestam um carinho enorme e se solidarizam com o que ocorre com nossa família.
Ele não sabe da homenagem feita pelos amigos. Entrego o vídeo para ele e a emoção toma conta de mãe e filho.
– Não imaginava. Gostei muito. Nossa amizade é tudo – diz, enquanto recebe o carinho de sua mãe que também se sensibiliza com a beleza interior do seu filho.
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Pela televisão, acompanha os jogos dos seus times de paixão o Avaí e o Flamengo. Timidamente começa a se soltar e dá os primeiros sorrisos. Desde os três anos de idade solta pipa. Enquanto diz que o que mais gosta é futebol e pipa, a mãe não deixa lembrar do baile funk.
Ama o Carnaval, e neste ano saiu na bateria da Coloninha. O futebol pratica no play station. Olha para a janela e diz não ver a hora de poder soltar pipa. Pergunto pela namorada e ele solta outro belo sorriso. Diz que gosta de passar muito tempo com os amigos. Graças à tecnologia, mantém contato com os amigos e principalmente com a namorada pelas redes sociais.
O transplante
A doença que atinge o João é leucemia linfocítica aguda.
– As células do sangue, os linfócitos, por algum motivo que não sabemos explicar, se reproduzem de forma desordenada, fazendo que as células infiltrem ou substituem a medula óssea dele pelas células de doença, diminuindo a imunidade. O tratamento é iniciado com quimioterapia e, com a disponibilidade do doador, o transplante de medula óssea. Ele está em tratamento intensivo e monitorado 24 horas. São várias internações – explica o hematologista Mateus Dal Pont.
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João Pedro precisa de um doador compatível. Qualquer pessoa entre 18 e 55 anos, e com boas condições de saúde, pode fazer o cadastro no Hemosc.
– Se faz uma quimioterapia para destruir a medula óssea do paciente e coloca-se a medula do doador. É feita uma coleta de sangue, uma codificação de DNA e o doador vai para o registro nacional de medula óssea. É realizada uma consulta e feito o transplante. O doador apresenta alta no outro dia da coleta – afirma o médico.