Onqotô, corruptela de uma das indagações existenciais que permeiam a criação da trilha de Caetano Veloso e José Miguel Wisnik e do espetáculo como um todo – “onde que eu estou?”, “para onde que eu vou?”, “quem que eu sou?”; ou, em mineirês, “onqotô?”, “pronqovô?”, “qemqosô?” -, tem como tema central a perplexidade e a pequenez do homem diante da vastidão do universo. Já Parabelo tem trilha sonora de Tom Zé e José Miguel Wisnik e é considerada pelo coreógrafo Rodrigo Pederneiras a sua obra “mais brasileira”. Os dois espetáculos serão apresentados juntos, em duas noites seguidas; em Florianópolis, na volta – depois de 24 anos sem se apresentar na cidade – do Grupo Corpo, considerada uma das maiores e mais respeitadas companhias de dança contemporânea do mundo.

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Leia as sinopses:

Onqotô (2005)

Coreografia: Rodrigo Pederneiras

Música: Caetano Veloso e José Miguel Wisnik

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Cenografia e iluminação: Paulo Pederneiras

Figurino: Freusa Zechmeister

Duração: 42 minutos

A perplexidade e a pequenez do homem diante da vastidão do universo é o tema central de Onqotô, balé que, em 2005, marcou as comemorações dos 30 anos de atividade do Grupo Corpo. Assinada por Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, a trilha sonora tem como ponto de partida uma bem-humorada discussão sobre a “paternidade” do universo: de um lado, estaria a teoria do Big-Bang, a grande explosão primordial, cuja expressão consagrada pela comunidade científica mundial parece atribuir à cultura anglo-saxônica dominante a criação do universo; e, de outro, uma máxima espirituosa formulada pelo genial dramaturgo (e comentarista esportivo) Nelson Rodrigues sobre o clássico maior do futebol carioca, segundo a qual se poderia inferir que o Cosmos teria sido concebido sob o signo indelével da brasilidade: “O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada.” Instrumentais ou com letra, os nove temas que compõem os 42 minutos de trilha estabelecem uma sucessão de diálogos rítmicos, melódicos e poéticos em torno das cenas de origem eleitas por seus criadores e do sentimento de desamparo inerente à condição humana. Na coreografia criada por Rodrigo Pederneiras, verticalidade e horizontalidade, caos e ordenação, brusquidez e brandura, volume e escassez se contrapõem e se superpõem, em consonância – e, eventualmente, em dissonância – com a trilha musical. Urdida com tiras de borracha cor de grafite, a cenografia de Paulo Pederneiras funda um espaço cênico côncavo que sugere tanto um recorte do globo terrestre com seus meridianos quanto um oco, um buraco negro, o nada ou a anterioridade de tudo. Com todos os refletores fixados na estrutura metálica que sustenta a fileira de tiras, a luz projetada por Paulo Pederneiras imprime na cena uma iluminação que remete à dos estádios de futebol. A figurinista Freusa Zechmeister transforma os bailarinos em uma massa anônima que se funde – e se confunde – com o espaço cênico, permitindo deste modo que coreografia e cenário exerçam plenamente sua tridimensionalidade. Assista a um trecho, clicando neste link.

Parabelo (1997)

Coreografia: Rodrigo Pederneiras

Música: Tom Zé e José Miguel Wisnik

Cenografia: Fernando Velloso e Paulo Pederneiras

Figurino: Freusa Zechmeister

Iluminação: Paulo Pederneiras

Duração: 42 minutos

Escrever na língua nativa a palavra balé (assim, com um L só e acento agudo) tem sido a busca consciente e obstinada de Rodrigo Pederneiras desde o antológico 21, de 1992. A inspiração sertaneja e a transpiração pra lá de contemporânea da trilha composta por Tom Zé e José Miguel Wisnik para Parabelo, de 1997, permitiram ao coreógrafo do Grupo Corpo dar vida àquela que ele mesmo define como a “a mais brasileira e regional” de suas criações. De cantos de trabalho e devoção, da memória cadenciada do baião e de um exuberante e onipresente emaranhado de pontos e contrapontos rítmicos, emerge uma escritura coreográfica que esbanja jogo de cintura e marcação de pé, numa arrebatadora afirmação da maturidade e da força expressiva da gramática construída ao longo de anos pelo arquiteto de Missa do Orfanato e Sete ou Oito Peças Para um Ballet. A estética dos ex-votos de igrejas interioranas inspira Fernando Velloso e Paulo Pederneiras na composição dos dois painéis, de 15mX8m, que dão sustentação cenográfica ao espetáculo. Com a intensidade das cores velada por um tule negro e revelada somente no espaço exíguo das sapatilhas, a figurinista Freusa Zechmeister cria o jogo de luz e sombra que veste os bailarinos na primeira parte de Parabelo, enquanto na reta final e explosiva do balé as malhas se libertam do véu, alardeando a temperatura alta de suas cores. Assista a um trecho, clicando neste link.

Serviço

Grupo Corpo apresenta “Onqotô” e “Parabelo”

Quando: Dias 26 e 27 de julho, sábado (às 21h) e domingo (às 19h)

Onde: Teatro Ademir Rosa, do CIC (Centro Integrado de Cultura)

Ingressos à venda nas bilheterias dos teatros do CIC, Pedro Ivo e TAC (Álvaro de Carvalho); na Loja Blueticket no Beiramar Shopping; e através do site Blueticket

Valores: R$ 120, com opção de meia-entrada a R$ 60. Membros do Clube do Assinante DC pagam R$ 100.

Classificação livre

Mais informações: (48) 3664 2555