Quando Ilse Mantovani entrou no Hospital Santa Isabel, em Blumenau, achou que estava vivendo os últimos momentos da vida.

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Infectada pelo novo coronavírus, debilitada pelos sintomas e com dificuldades para respirar, a blumenauense de 55 anos imaginou que teria apenas as despedidas nos dias que viriam pela frente. Internada em meio a um dos momentos mais delicados da pandemia em SC, ela venceu a Covid-19 — embora ainda tenha de lidar com sequelas — e conta com emoção dos dias que passou na cama hospitalar.

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Com 100% dos pulmões debilitados, Tia Ilse — como é conhecida pelos alunos da Escola Básica Municipal Vidal Ramos, onde foi a “moça da cantina” por muitos anos — conta que a gota d’água ocorreu quando tentava puxar ar e não conseguia. Ela foi procurar ajuda e, logo ao chegar no centro de triagem, foi encaminhada a uma unidade de saúde. O quadro já era grave. Não era possível perder um minuto sequer para garantir que ela tivesse chances de superar o problema.

— Essa gripezinhafoi um dos piores momentos da minha vida. Eu não respirava, tinha febre e logo que cheguei para fazer o exame, viram que eu estava sem oxigenação e me mandaram para o hospital. De lá fiquei internada, achei que não ia sobreviver. Tenta puxar ar, e ele não vinha. Só pensava na morte, no adeus à minha família — relembra Tia Ilse.

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A blumenauense recorda de poucos momentos vividos antes de ser levada à Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Santa Isabel. A memória mais marcante é de uma ligação aos filhos, poucos minutos antes de ser induzida ao coma:

— Lembro de eles [os profissionais de saúde] ligando para minha família, para que eu me despedisse deles. Ninguém sabia o que ia acontecer. Achei que seria meu último contato com minha família, tanto que quando acordei, achei que tinha morrido. Olhei para aquele médico lindo [risos] me olhando e achei que estava na porta do céu — conta a bem-humorada recuperada da Covid-19.

Medo e alívio

Dez dias depois de ser induzida ao coma, Ilse acordou. Mal sabia ela que nesse punhado de dias que haviam se passado muita coisa tinha acontecido. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem: todos eles haviam batalhado — e muito — para garantir que o coronavírus não se aproveitasse das comorbidades e vencesse a batalha.

Deu certo. No dia 10 de julho, Ilse despertou e olhou para os lados pela primeira vez no que chama de “nova vida”. Embora tivesse virado o jogo, porém, ele ainda não estava ganho:

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— Quando acordei eu estava atordoada, mas logo veio o alívio de estar viva… Ou melhor, de voltar à vida. Me lembro apenas de fechar os olhos, acordar 10 dias depois e pensar “como assim?”. No começo você não fala, não anda, perde a voz, mas se sente aliviado.

Os recuperados em Blumenau

Ilse faz parte de um número de 11,6 mil moradores de Blumenau que venceram o coronavírus (veja o gráfico abaixo). Muitos não tiveram batalhas tão árduas e outros — os chamados assintomáticos — nem sequer sabiam que estavam em guerra contra a Covid-19. Outros 135, porém, não tiveram a mesma sorte e morreram em decorrência das complicações relacionadas ao coronavírus.

Hoje, dois meses depois de acordar de um duelo silencioso e quase invisível, Tia Ilse ainda enfrenta as dificuldades da doença. Sente dores nas pernas e mal consegue fazer esforços físicos. A previsão de plena recuperação é de mais seis meses, ou seja, só lá para o início de 2021.

A gratidão por poder olhar para frente e planejar o ano que vem pela frente, no fim das contas, é mais forte do que os empecilhos do tratamento.

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— Agora tenho duas datas de aniversário. O dia em que nasci. E o dia em que renasci. É muito bom ver o sol, ver a vida. Saber que entrei morrendo, mas saí de lá. Ver minha família me esperando do lado de fora do hospital foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida — finaliza.