Relatos que foram publicados no Blumenau em Cadernos mostram como a cidade lidou com a gripe espanhola há mais de 100 anos. Embora a doença tenha matado cerca de 35 mil pessoas no Brasil, há poucos documentos que indicam como blumenauenses, autoridades de saúde e políticos da região superaram a pandemia.
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Nos textos que foram publicados em edições do ano 2008, há algumas curiosidades históricas que chamam a atenção: a primeira delas é o fato de o Hospital Santa Isabel (foto) ter se preocupado com o número de pacientes infectados em Blumenau em relação à capacidade da unidade. Havia em 1918, segundo o relato, temor quanto a um possível colapso no sistema de saúde — que já era precário.
"Com o aparecimento da (gripe) espanhola, o hospital (Santa Isabel) teve grandes dificuldades, pois não havia leitos suficientes", diz o texto.
Para amenizar o impacto da falta de vagas no HSI, o Dr. Ernesto Sappelt — um dos nomes mais importantes da medicina em Blumenau — utilizou ácido acetilsalicílico (hoje conhecido pelo nome comercial: Aspirina) para tratar as pessoas com sintomas da gripe espanhola. Ele ia de casa em casa para oferecer o medicamento aos doentes.
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"Junto com o suadouro (um dos tratamentos para doenças na época), (os pacientes) tomavam duas Aspirinas que o Dr. Sappelt distribuía gratuitamente. Os resultados foram muito benéficos e o número de vítimas fatais foi negligível (aquilo que pode ser desconsiderado)", afirma o relato.

Não há números de infectados em Blumenau, mas conforme o material, originalmente publicado como Crônica do Hospital Santa Isabel, o surto no município "foi violento". Um dos pacientes que teve a gripe, segundo o Blumenau em Cadernos, foi Carl Wahle, o livreiro e professor de história, alemão e grego do Colégio Santo Antônio.
Dr. Sappelt visitava pessoas doentes durante todos os dias. Isso o fez ser infectado com a gripe espanhola, de acordo com o documento, doença que iria matá-lo um ano depois, ainda em meio à pandemia, em 8 de outubro de 1919.
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"Depois de ter salvado praticamente todos os seus pacientes, o Dr. Sappelt, apesar de ele mesmo ter contraído a gripe, continuou a cuidar de seus pacientes. Ele não teve a mesma sorte, pois veio a falecer". O relato continua, e afirma: "no tratamento desta gripe, muita gente tomou conhecimento pela primeira vez da Aspirina".
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Com a falta de leitos no Hospital Santa Isabel, ainda segundo o documento, as farmácias se transformaram "em verdadeiras clínicas para a classe pobre" em Blumenau. Dr. João Medeiros, farmacêutico conhecido na cidade, atendia até 15 pessoas com sintomas de gripe espanhola por dia, e praticamente todos eram tratados com Aspirina.
Para a historiadora e Diretora do Patrimônio Histórico de Blumenau, Sueli Petry, esses relatos ajudam a diminuir a escassez de informações sobre como foi a pandemia do século passado em Blumenau e no Vale do Itajaí.
— A imprensa da época não relatava nada sobre a gripe espanhola. O que a gente tem é a descrição de um personagem que foi acometido pela doença, que é o Carl Wahle. Ele escreveu muitas memórias, que foram publicadas no Blumenau em Cadernos, o que nos ajuda um pouco a ver como foi aquela pandemia por aqui. E o que chama mais a atenção é o fato de termos muitas semelhanças com os dias atuais — destaca a historiadora.
Colaboração e pesquisa: Sueli Petry