Não foi nada fácil para uma criança de 12 anos descobrir que estava com a gripe A. O mal desses últimos dias que apavorou o mundo de uma hora para outra. E que pode matar. Mas como bom jogador de futsal nas horas vagas que é, o menino joinvilense matou o vírus H1N1 no peito, driblou a febre e a tontura e saiu vitorioso.
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A história começou na volta de uma viagem para a Argentina, em junho. A excursão vinda de Buenos Aires desembarcou em Curitiba. No caminho até Joinville, o menino reclamou de um mal-estar e a mãe achou que fosse por causa do cansaço de horas em um avião.
– Diziam pra eu não trazer gripe A para cá. Levei na brincadeira. Achei que nunca aconteceria com a gente – conta ela.
Mas logo veio a tontura e a febre.
– Ele estava com 39,5 graus. Fiquei assustada – lembra a mãe.
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A saída foi correr para a Unimed. Depois de horas de espera e informações confusas, o medo de que realmente a gripe A foi o que adoeceu o filho aumentava a cada segundo. Perto do meio-dia, os dois foram levados para o Hospital Infantil, seguindo uma determinação da Secretaria de Saúde de Joinville. Lá, usando máscaras e isolados em uma sala, o medo virou terror.
– Já estávamos horas ali e ninguém falava nada, ninguém fazia nada. Apenas nos isolaram do mundo e todos tinham medo de chegar perto. Como se a culpa fosse nossa por estarmos ali – conta a mãe.
A febre do menino chegou a 39,7 graus. Enquanto aguardava o atendimento ao filho, viu o noticiário sobre a gripe A. “O Brasil está preparado”, dizia um telejornal. Pensou que fosse piada. Perto do meio-dia, os dolorosos exames foram feitos e o garoto medicado com o Tamiflu, principal remédio contra o mal. Era impossível confirmar a presença do vírus da gripe A, mas… “Não iria prejudicá-lo.
Então, ele foi tomando tudo certinho como o médico mandou. Com o passar das horas, a febre foi embora e os sintomas foram desaparecendo. O filho permanecia em casa e a mãe, na quarta-feira, já havia voltado ao trabalho.
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– Como ele melhorou rápido, pensei que o que teve foi apenas um resfriado.
Mas, na quinta-feira, um telefonema da Vigilância Sanitária confirmou a gripe A. “Gelei”, confessa a mãe, que foi obrigada a voltar para casa. Afinal, poderia estar carregando o vírus mesmo sem os sintomas. Em casa, contou ao filho.
– Quer dizer que eu vou morrer mãe? – ouviu a mãe.
Não foi difícil convecê-lo de que o pior já havia passado. Em poucos dias, voltaria ao colégio e jogaria o futsal nas horas vagas. Nessa assustadora história de final feliz, os protagonistas preferem não se identificar. Culpa do preconceito que cerca a gripe A. A mãe lembra das horas que passou no hospital, quando via médicos e enfermeiros desviando o caminho para não cruzar com os dois nos corredores.
– Alguns chegam a entrar numas salas para não chegar perto da gente. Uma hora entrou uma enfermeira com roupas e máscara que parecia uma astronauta. Imagina o que meu filho pensou.
A mãe teve o cuidado de esconder a doença do filho na escola onde ele estuda e em seu local de trabalho.
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– Mas a gente sempre acaba ouvindo uma história aqui e outra ali.
Por dez dias, todos os cuidados foram tomados – isolamento dos dois em casa e remédios. Depois, vida normal e uma lição sobre a gripe A.
– Ela pode pegar qualquer pessoa.