O Hospital Bethesda, no Distrito de Pirabeiraba, enfrenta elevação 110% acima do normal no número de atendimentos realizados pela instituição na segunda quinzena de dezembro — a média diária chegou a passar de 100 para até 400 pessoas e, hoje, é de 250 pacientes. A situação é um dos reflexos da greve dos servidores que trabalham no recesso e que paralisa cerca de 90% dos funcionários das unidades de pronto atendimento (UPAs) de Joinville.
Continua depois da publicidade
A interrupção das atividades ocorre nas UPAs Sul, Norte e Leste e completa 18 dias nesta quinta-feira (28). A greve foi deflagrada, segundo o Sindicato dos Servidores Públicos de Joinville (Sinsej), com o objetivo de reivindicar melhores condições de trabalho, segurança e contratação de novos profissionais, além da revisão da gratificação dos servidores. Até o momento não houve acordo com a Prefeitura de Joinville, conforme o sindicato.
Como consequência, o diretor do Hospital Bethesda de Joinville, Hilário Dalmann, relata que, em alguns dias, o pronto atendimento da unidade tem registrado superlotação. Segundo ele, o tempo de espera do atendimento, em média, de até duas horas, passou para até nove horas desde o dia 16.
Os impactos
O acúmulo de pacientes na unidade é entendido como um dos impactos da greve, uma vez que as portas das UPAs seguem praticamente fechadas, e os atendimentos nesses locais estão restritos aos casos de urgência e emergência. Os demais são distribuídos pela rede básica de saúde entre os hospitais Bethesda (filantrópico), o Municipal São José e o Regional Hans Dieter Schmidt.
Continua depois da publicidade
— O comprometimento maior é a demora no atendimento porque nós temos uma estrutura que não está preparada para essa demanda. Embora nós tenhamos colocado mais médicos (2) e funcionários (8) e suspendido as férias de alguns deles, isso gera um transtorno muito grande para a instituição — explica Hilário.
Entre os problemas, está ainda a demora nas transferências de pacientes que procuram o local e precisam ser levados para o Regional ou o São José, uma vez que é preciso mais apoio médico e de ambulância — já solicitados ao município e sem resolução, conforme ele.
Como 97% dos atendimentos no Bethesda são realizados por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), outro impacto é o aumento dos custos, que não acompanha o aumento das receitas. Há relato ainda de contratação de segurança particular por causa da exaltação das pessoas durante a espera.
— Nesse período pedimos compreensão porque temos que priorizar os casos de urgência e emergência, apesar de fazer o possível para atender a todos. A gente jamais vai deixar a população na mão, que é uma população que ajuda a instituição Bethesda e não tem culpa dessa situação decorrente da greve, nem nós — afirma.
Continua depois da publicidade
Já no Hospital Regional, a demanda também é maior, em média de 20 a 30 pacientes a mais por dia. Porém, no local, estão sendo realizados atendimentos somente aos idosos e os casos de urgência e emergência, enquanto os demais são reencaminhados ao PA de origem.
Transtorno para os pacientes
O transtorno atinge diretamente moradores de outros bairros, como o casal Miguel Carneiro, de 64 anos, e Eulália Ferreira Carneiro, de 83, que buscaram o PA Leste, no Aventureiro, para um atendimento a ela. Eles chegaram a ser recebidos na tarde desta quinta-feira, mas tiveram que se deslocar até Pirabeiraba porque não foi possível fazer a consulta.
— Estivemos em um postinho, ela foi medicada e não adiantou. Hoje buscamos o PA e a funcionária disse que havia poucos médicos e não tinham como nos atender. Encaminharam ela para cá e, para nós que não temos carro, é complicado porque tive que me humilhar atrás dos outros em busca de carona para poder trazê-la — desabafa Miguel, enquanto aguardava a mulher ser medicada.
A mesma orientação foi dada, no PA Leste, ao operador de rastreamento Guilherme Walison Matheus da Veiga, que recebeu um papel de indicação ao hospital filantrópico. Ao contrário de Miguel e Eulália, o rapaz decidiu esperar em casa.
Continua depois da publicidade
— Não vou até o Bethesda ou o São José agora à tarde porque nesse horário estão lotados. Vou continuar com a medicação que tenho em casa e se não melhorar vou ter que ir até lá — disse ele ao sair da unidade de saúde, por volta das 14h30.
Outro paciente, José da Silva, morador no Iririú, está em tratamento para labirintite. Ele chegou a receber atendimento na UPA antes da greve, mas teve rejeição a medicação. Desta vez, recorreu diretamente ao pronto atendimento do Bethesda.
Manifestação da Prefeitura
A Prefeitura de Joinville reconhece a situação atípica em decorrência da greve e a restrição dos atendimentos nos PAs. Com relação ao aumento no fluxo de pacientes no pronto atendimento do Hospital Bethesda, o órgão informou que existe um sistema de plantão para apoio logístico emergencial para a unidade e que a própria instituição fica responsável pelo transporte dos pacientes.
“O Município já tem um convênio de R$ 110 mil mensais, que é repassado à instituição para que eles tenham a porta aberta para esses atendimentos (da rede básica). A demanda está aumentando por ser um problema pontual provocado pela greve, mas eles têm responsabilidade pelos atendimentos”, afirma a Prefeitura em nota.
Continua depois da publicidade
Sobre a paralisação dos servidores, a Prefeitura afirmou, também em nota:
“A Prefeitura de Joinville lamenta a decisão do Sinsej em manter a paralisação que prejudica o atendimento à população. O Município apresentou as propostas para o encaminhamento do fim da greve e para a manutenção do diálogo com o Sindicato. Infelizmente não houve a aceitação por parte do Sinsej. O Município ressalta que diante desta decisão, os servidores paralisados terão os salários descontados”.