A lentidão no envio de cargas frias e perecíveis, consequência da greve dos fiscais do Ministério da Agricultura, ameaça os contratos de exportação em Itajaí e Navegantes.
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Sem data para liberar os contêineres, frigoríficos e terminais temem que o atraso obrigue os compradores a procurar outros mercados, o que causaria prejuízo em toda a cadeia portuária e também na indústria de alimentos. As perdas no setor de aves e suínos chegam a 5 milhões de dólares ao dia, segundo o Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados (Sindicarne).
Nesta quarta-feira, os armazéns de Itajaí e Navegantes chegaram ao limite de estocagem, o que obriga parte das indústrias no Oeste do Estado a suspender a produção a partir desta quinta-feira. A exportação corresponde a 30% da avicultura e 48% da suinocultura catarinense, e o Complexo Portuário do Itajaí-Açu é líder nacional na movimentação deste tipo de carga.
– Os armazéns estão no limite, e não há como o abatedouro manter as atividades – diz Anacleto Baldissera, da empresa de armazenagem Safrio, que atua em Chapecó e Itajaí.
Responsável comercial pelo terminal Braskarne, de Itajaí, que exporta cargas de alguns dos principais frigoríficos do país, Jaisson Rocha explica que a maior operação de embarque de frios da região – um envio de sete mil toneladas de carnes à Russia – esteve perto de ser suspenso pela greve.
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– Havia uma insegurança de que o navio acabasse não carregando, ou que ficasse muitos dias parado, assim causaria um custo muito alto (até 20 mil dólares ao dia). A Rússia é um comprador assíduo e a apreensão é que pudesse buscar outros mercados – considera.
O argumento de que a fiscalização, embora lenta, não foi suspensa totalmente, já que 30% dos fiscais continuam trabalhando, convenceu os russos a manterem o contrato. A expectativa, agora, é que as cargas não demorem muito a chegar ao destino, já que cada dia de atraso é um dia a menos no prazo de validade dos perecíveis.
– Se a indústria não abate, os terminais não armazenam, o porto não embarca e o cliente não recebe. O prejuízo é de todos – diz José Humberto Cortes, gerente da empresa Brasfrigo, que armazena cargas enviadas a 180 países pelo mundo.
O Complexo Portuário do Itajaí-Açu é líder na movimentação de cargas frigorificadas no país. A média mensal é de 11 mil contêineres, que são exportados para o mundo todo.
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A paralisação dos funcionários do Ministério da Agricultura começou segunda-feira e nesta quinta-feira, segundo informações do comando de greve da categoria, haverá uma manifestação em frente ao Porto de Itajaí. Os servidores da Anvisa, Receita e Polícia Federal também aderiram ao movimento, comprometendo os serviços portuários na região.
Começam a faltar medicamentos
A indústria farmacêutica começou a sentir os efeitos da greve da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que já dura três semanas. O problema mais grave ocorre nas farmácias de manipulação, que, segundo o presidente do Sindicato das Farmácias de Itajaí e região (Sincofarma), Ademir Tomazoni, já registram falta de matéria-prima para a produção das receitas.
Substâncias importadas que chegam prontas e só recebem nova embalagem no Brasil, também começam a faltar nas distribuidoras. Produtos para limpeza de lentes de contato e vacinas estão na lista dos que podem desaparecer das prateleiras nos próximos dias.
– Se a greve durar mais 30 dias, teremos problemas sérios – prevê Tomazoni.
Além de medicamentos, a Anvisa também libera a entrada de cosméticos e produtos químicos no Brasil. Por enquanto, as liberações das cargas têm sido feitas através de mandados de segurança.
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Segundo cálculos da Federação do Comércio de Santa Catarina (Fecomércio), o prejuízo acumulado nos portos e aeroportos do Estado já chega a R$ 812 milhões.