“Faz um ano, meu filho, exatamente um ano que ela nos deixou. Um ano. Eu contei cada um dos dias. Eu chorei em cada um dos dias. Mas eu cansei. Eu cansei de chorar e de contar. Eu cansei de esperar o calor chegar e de, quando o calor enfim chegou, esperar que ele logo fosse embora. Eu cansei de esperar que alguma coisa acontecesse para que eu voltasse a ter a metade da vida que eu perdi, e eu cansei de perceber que nada acontecia. Eu cansei de pensar que, se ficasses aqui ao meu lado, bem pertinho, colado em mim, a tua juventude me daria ânimo, o teu bom humor me daria tranquilidade, o teu sorriso me traria paz. Mas, não. Eu continuei desanimado, intranquilo e angustiado. Há um ano desanimado, intranquilo e angustiado. Eu te prendi aqui e a tua proximidade não me ajudou. De nada adiantou. Então, se precisas ir, podes ir. Vai”.
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Ele não falou nada.Continuou cabisbaixo, sentindo a mão fria do pai em seu joelho.
“O teu sacrifício de nada me adianta, meu filho. Podes perder os teus melhores anos aqui comigo que não vai adiantar. Eu não estarei melhor. Eu não estarei mais feliz. Tu estarás pior. Tu estarás infeliz. Viu? Não é uma decisão difícil de ser tomada. Vai”.
Mas ele não ia. O filho não se movia.
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“Eu fiquei aqui e vi a tua mãe partir. Não há nada de bonito em ver alguém partir. Mas é muito pior ver alguém ficar. Meu filho, entendes o que eu te falo? Eu fiquei. Tu ficaste. Ela foi. Eu não vou. Tu entendes? Se eu pudesse, eu teria ido. Antes, com ela. Ou agora, contigo. Mas eu estou velho demais pra sair. Pra ir embora. Pra procurar outro lugar. Ela foi. Tu irás. Eu sei. Tens que ir. Não adianta nada ficares aqui”.
Com o filho ainda estático, o pai levantou- se trêmulo e abriu a porta. “Vai! Eu exijo!”.
Enquanto o filho se deslocava lentamente para fora da casa, o inverno corria contra os poucos cômodos, derrubando a mobília. Nas redondezas, um vento gelado cortava as palavras.
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* Gregory Haertel tem 39 anos, mora em Blumenau, é escritor, dramaturgo e letrista.