O Greenpeace divulgou imagens inéditas do momento em que o navio Arctic Sunrise foi invadido pela guarda costeira russa, em 19 de setembro. O vídeo – que havia sido exibido parcialmente – mostra a reação pacífica da tripulação do navio e foi apresentado pelo governo holandês ao Tribunal Internacional de Direito Marítimo.
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A abordagem das autoridades russas resultou na prisão de 28 ativistas e dois jornalistas que realizavam um protesto contra a exploração de petróleo no Ártico. Desde então, o grupo está em prisão preventiva, acusado de pirataria e vandalismo.
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As novas imagens mostram policiais russos armados descendo, por cordas, de um helicóptero, no deque do navio Arctic Sunrise. Todos os membros da tripulação aparecem de mãos levantadas, sem qualquer resistência. Em uma das cenas, um dos tripulantes é empurrado na escada por um dos agentes de segurança.
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As imagens foram levadas pelo governo holandês ao Tribunal Internacional de Direito do Mar (ITLOS, na sigla em inglês), um órgão independente criado para resolver disputas sobre interpretação e aplicação da Convenção de Direito Marítimo da ONU. A Holanda pede a libertação imediata do navio – que leva a bandeira do país – e de seus tripulantes. No próximo dia 22, o ITLOS deve anunciar uma posição sobre o caso, segundo o site do Greenpeace.
Nesta sexta-feira, o presidente do Conselho de Direitos Humanos da presidência da Rússia, Mikhail Fedotov, fez um pedido formal ao Comitê Federal de Investigação do país pela libertação dos ativistas. Fedotov se ofereceu como garantia para que os 30 presos possam responder o processo em liberdade, sob fiança.
No sábado 16 de novembro, estão previstas novas manifestações do Greenpeace em Porto Alegre, cidade onde mora a família da bióloga Ana Paula Maciel.
O Greenpeace anunciou que os 30 presos estavam sendo transferidos para uma prisão em São Petersburgo, segunda maior cidade da Rússia. Essa transferência ainda não foi realizada, segundo o advogado do Greenpeace à agência Ria Novosti na terça-feira.
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Em carta enviada para a família e para a imprensa, Ana Paula defendeu o “protesto pacífico” que seu grupo realizava no “amado navio Arctic Sunrise”.
“Depois de dois dias em uma cadeia, três em outra, agora estou sentada em minha cela na penitenciária para onde nos trouxeram dia 29 de setembro”, contou.
Leia a íntegra da carta de Ana Paula:
Queridos leitores,
Me chamo Ana Paula e sou uma dos 30 ativistas presos aqui na Rússia. Hoje faz um mês que nos retiraram de nosso amado navio Arctic Sunrise e, depois de dois dias em uma cadeia, três em outra, agora estou sentada em minha cela na penitenciária para onde nos trouxeram dia 29 de setembro. Tudo isso depois de um protesto pacífico onde queríamos chamar a atenção do mundo sobre os perigos de danos ambientais ao perfurar em busca de petróleo no Ártico.
Neste mês em que nossas vidas pararam, aqui sozinhos, tive tempo pra parar e pensar e lhes pergunto, caros leitores: quantos produtos derivados de petróleo você usou nesses último mês? Derivados de petróleo são usados para fabricar muitas coisas e, sendo “coisas” consumíveis, sofrem sob o efeito “oferta e demanda” que as pessoas ávidas pelo consumo compram, utilizam e descartam com uma rapidez sem precedentes nos dias de hoje.
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Nosso planeta, que chamamos de casa, o único que conhecemos com vida, está em crise e precisamos fazer algo individualmente, todos os dias. Creio que não estariam indo procurar petróleo no Ártico se não houvesse quem o utilizasse. Se fôssemos mais preocupados em ser do que em ter, usaríamos menos petróleo, a natureza estaria correndo menores riscos, os protestos pacíficos não seriam necessários, eu não estaria presa injustamente…
Nem tenho palavras para agradecer a todas as pessoas que se importam e que clamam por nossa liberdade. Gostaria de agradecer especialmente o apoio do governo e do povo brasileiro que têm se mostrado incansáveis em seu suporte pela minha liberdade. Clara Solon, da embaixada do Brasil na Rússia, é quase uma segunda mãe para mim. Tem sido impecável em suas visitas, presença na Corte, apoio psicológico e em tudo o que está ao seu alcance.
Gostaria de fazer um apelo ao mundo e aos que se importam: Salvem o Ártico! Consumam menos para ser mais, usem sacolas reutilizáveis, apaguem as luzes ao não usá-las, procurem produtos com menos embalagem, usem mais as pernas e menos os carros. Você não é o seu telefone celular, ele não diz nada sobre suas virtudes, você não precisa do último modelo. Separe o lixo, recicle, conserte o que quebrar em vez de comprar uma coisa nova, informe-se. Existem tantas mil pequenas ações que podem ser feitas todos os dias para salvar o Ártico, a Amazônia, os recifes de corais e todo o resto. Basta escolhermos bem o que comprar. Nós todos e cada um de nós somos responsáveis pela mudança!
Prometa que vai tentar. Assim, eu vou saber que esse mês presa não foi em vão.
Com amor,
Ana.