Os gregos começaram a votar neste domingo em eleições legislativas cruciais, mas incertas. O pleito formará o novo governo do país, depois de dois anos da severa austeridade que desgastou os partidos tradicionais e abriu espaço para as organizações críticas em relação à Europa.
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Os colégios eleitorais permanecerão abertos até as 19h, no horário local (13h de Brasília). No total, 9,8 milhões de eleitores estão habilitados a votar.
– Tudo transcorre normalmente e creio que a participação vai ser maciça – declarou o ministro do Interior, Tassos Yannitsis.
O partido Nova Democracia (ND, direita), de Antonis Samaras, se anuncia como o favorito nas pesquisas, embora sem maioria absoluta, o que deixa antever um novo governo de coalizão como o que deixa agora o poder, formado pelo ND e pelo PASOK (socialista) de Evangelos Venizelos.
As pesquisas publicadas há duas semanas, antes que sua divulgação fosse proibida, concediam 25% das intenções de votos ao ND e 20% ao PASOK, que insiste na necessidade de um “governo estável” para sair da crise. Em 2009, o PASOK obteve 43,9% dos votos e o ND 33,4%.
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As pesquisas mostravam também uma grande dispersão de votos, em meio a uma forte oposição ao plano de resgate da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que levou a várias ondas de cortes de salários e aposentadorias. De fato, após dois anos de crise, os 9,8 milhões de eleitores gregos vão às urnas com uma ultraesquerda reforçada, com o aparecimento de uma formação neonazista, a atomização da direita e um bipartidarismo enfraquecido.
Cerca de dez partidos podem superar os 3% dos votos exigidos para ter representação parlamentar. Entre eles figuram os comunistas do KKE, que devem melhorar os 7,3% obtidos em 2009, assim como os Gregos Independentes, um grupo conservador criado em março que rejeita o plano de resgate da UE e do FMI, o neonazista Amanhecer Dourado ou o pró-europeu Partido de Esquerda Democrática. Também têm certas chances o Pacto Social, oposto à austeridade, o Antarsa (esquerda anticapitalista) e o partido “Não vou pagar”, surgido após uma campanha de desobediência civil lançada em 2010.
– A perda generalizada de confiança nos dois principais partidos que governaram o país nos últimos 37 anos criou um grande vazio, do qual se beneficiam todos os partidos e grupos que não estão no poder – afirmou Christoforos Vernardakis, do instituto VPRC.
Os dois partidos tradicionais advertem que o que está em jogo nestas eleições é a permanência da Grécia na Eurozona, e não manifestar apoio ou rejeição às políticas de austeridade. Evangelos Venizelos, líder do partido socialista, voltou a agitar nesta semana o fantasma de um retorno ao dracma (a moeda anterior) se a Grécia não conseguir formar um governo após as legislativas.
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– O partido do dracma existe, há quem apostou pela quebra e a favor da Grécia do dracma – denunciou o ex-ministro das Finanças, referindo-se à esquerda radical.
Esta coincidência na necessidade de estabilidade não significa, no entanto, que exista uma vontade de perpetuar a aliança dos dois adversários históricos. O conservador Antonis Samaras, do ND, quer uma maioria clara, para que a direita possa governar “sozinha”.
– Peço para governar sozinho, com um mandato forte, em nome da estabilidade política, já que uma coalizão não responde ao interesse do povo grego, mas apenas ao do PASOK, e isso condenaria os gregos ao estancamento – declarou Samaras na quinta-feira em um comício em Atenas.
Venizelos, por sua vez, lembra que o ND agitou inicialmente uma oposição “estéril” aos planos de resgate da UE, antes de aceitar a ideia de uma coalizão após a renúncia em novembro do primeiro-ministro socialista Giorgos Papandreou.
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