Entre o cárcere e os criminosos que estão nas ruas, há uma articulação mascarada pela prerrogativa funcional. É formada por advogados que a Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) afirma estarem envolvidos com o crime organizado. No mundo bandido, os presos os chamam pelo codinome de gravatas, em alusão ao modo elegante como se vestem.
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A atividade desempenhada por advogados no Primeiro Grupo Catarinense (PGC) era rotina. Ela aparece em escutas telefônicas. A expressão gravatas é citada pelos detentos em diversas vezes como se eles fossem aliados do crime:
– Nóis vai que arrumá um outro gravata de confiança pá tá dando continuidade tamém no trabalho e fazendo até mesmo a situação da gravata tamém, né meu? – diz um preso monitorado.
– Quantos gravata que tem, que trabalha junto aí? (…) eles são um time certo _ diz outro detento a um comparsa.
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Neste capítulo da série de reportagens especiais publicadas desde sexta-feira, o Diário Catarinense mostra que há mais além da relação profissional. Os gravatas levam e trazem cartas, recados e até cartões micro SD.
O contato foi tão próximo que, mesmo detida desde janeiro, a advogada Fernanda Fleck tentou se comunicar sobre os rumos da facção e a repercussão da sua prisão. Uma carta dela para o Presídio de Tijucas foi apreendida e encaminhada à Deic. Em depoimento, a advogada confirmou a autoria.
No texto, diz estar apavorada com a possibilidade de ir a júri popular pelo assassinato da agente penitenciária Deise Alves, em 26 de outubro do ano passado, pelo qual foi denunciada pelo Ministério Público. Como exemplo de envolvimento com o PGC, ela comenta que está sentindo na pele o que sofre um irmão (termo usado por detentos para se referir a um integrante). No final, assina com as palavras características dos textos da facção, como Paz, Justiça e Liberdade.
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A carta foi anexada ao processo. Na interpretação do Ministério Público, reforça o indício da participação de Fernanda com o mundo do crime e poderá servir de prova no julgamento.
A advogada Simone Gonçalves Vissotto, que também segue presa, foi grampeada pela polícia. A participação dos gravatas é de tamanha importância para a facção que o simples fato de ela ter sido parada em uma blitz de trânsito, em São Pedro de Alcântara, gerou uma áudio conferência. Até mesmo representantes da organização paulista PCC em Santa Catarina, entraram na conversa.
O que causou alvoroço entre os detentos foi a possibilidade de ela ter sido flagrada com salve (ordem para cometer crimes). Nas ligações, o grupo acaba incriminando Simone com a facção e diz também que a advogada teria promovido a entrada de um telefone satelital (que não pode ser bloqueado) na Penitenciária. Ao final, um deles cita outros advogados que trabalhariam a facção.
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