Vencer e gravar o nome na história do esporte é o sonho de qualquer atleta, seja ele amador ou profissional. Alcançar o lugar mais alto do pódio é o ápice, a glória, o desfecho de uma batalha que jamais será esquecida. É esse o sentimento de quem viveu – e também de quem ainda vive – os dramas e as alegrias dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc). A 57ª edição da maior competição esportiva do Estado inicia nesta sexta-feira em Lages. E histórias não faltam para inspirar os 4,6 mil atletas de 96 municípios.

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A competição mais importante da vida

Foi por meio da bocha que o gaúcho Clóvis Marinello, o Chiquinho, e seu amigo Pedruca saíram de Nova Prata (RS) para reforçar o time de Chapecó na modalidade. Entre 1985 e 1995, ele conquistou sete medalhas como atleta. E, mesmo tendo sido campeão brasileiro e disputado mundial na Itália, em 1989, é pela competição catarinense que ele tem o maior carinho.

– É a maior competição de Santa Catarina, a mais vibrante, a mais desejada – destacou ao falar sobre a importância do evento em sua vida.

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Chiquinho destacou que o formato dos Jasc permite que os atletas de uma delegação acompanhem e torçam para os outros representantes da mesma cidade em outras modalidades. Mas avisa que é importante que os competidores não se distraiam nessa festa do esporte catarinense.

– Para ganhar os Jasc é preciso muito treino, uma equipe boa, muita dedicação e muita concentração – avaliou o competidor.

Além de atleta, ele também foi secretário de Esportes de Chapecó em duas oportunidades: em 1995 e de 2013 a 2016. Marinello atuou como chefe de delegação e ajudou a coordenar os Jasc em Chapecó, os Joguinhos, e também a criação dos Parajasc.

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Chiquinho lamenta que uma competição tão bonita não tenha o mesmo brilho dos anos anteriores. Época que fez com que muitas pessoas de outros Estados adotassem Santa Catarina como sua terra para competir e morar.

Histórias de décadas

Luiz Carlos Gonzaga Barbosa, mais conhecido como Kalú, faz parte da história dos Jasc. Nascido em Tupã, no interior de São Paulo, mudou-se para Lages na metade da década de 1970. Tornou-se técnico de vôlei e atleta de futsal do Clube Caça e Tiro antes de enfileirar títulos com a equipe de basquete da cidade.

Em 1978, o então técnico aceitou o convite da prefeitura para desenvolver um trabalho para os Jasc. Passou pelo vôlei e pelo futsal, mas alcançou o sucesso e o reconhecimento no basquete. Levou a equipe de Lages ao terceiro lugar nos Jogos de 1980, ao título no ano seguinte e ao vice em 1982. De 1984 a 1987, foram quatro títulos e a hegemonia na modalidade, o que tornou Lages referência.

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– Tenho muita saudade da época, dos jogos com qualidade, algo que teve até os Jogos de 2000. Precisamos de qualidade até para os nossos atletas evoluírem. Jasc tinha atletas da seleção brasileira, como Giba (vôlei) por Chapecó e Falcão (futsal) por Jaraguá do Sul – recorda Kalu, de 66 anos, 51 deles dedicados ao esporte.

Hoje, o ex-técnico é voluntário na organização dos Jasc em Lages, além de conselheiro. Ele brinca que virou palpiteiro dos Jogos, competição que ajudou a engrandecer no Estado.

– É minha vida, por tudo que me deu – justifica.

Veloz e vencedor

Sandro Araújo recorda com carinho de uma época glamorosa das competições no Estado. Tempo em que as cidades se mobilizavam para enviar seus representantes e quando os atletas retornavam campeões eram recebidos como heróis. Por isso, não titubeia ao afirmar que o esporte lhe trouxe tudo de mais valioso na vida: família, amigos e profissão.

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– Tudo que tenho hoje foi conquistado através do esporte. Estou muito contente do que fiz e estou fazendo – frisa o ex-campeão no atletismo (100 metros rasos e revezamento 4x100m) e hoje presidente da Fundação Municipal de Esportes de Criciúma.

– Foi magnífico, um privilégio, participar do auge dos Jasc. Eu carreguei a tocha dos Jogos de 1987, em Criciúma, um momento marcante – lembra.

Sandro conquistou mais de 15 medalhas nas 11 edições que disputou. A primeira foi em Caçador. Ele tinha 14 anos e ficou com o segundo lugar no revezamento 4×100 com a equipe de Florianópolis. Ele ainda defendeu Blumenau antes de se mudar para Criciúma.

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– Nas décadas de 1970 e 1980, a situação financeira era outra, os Jasc eram de grande importância. Lembro que chegamos a andar em carro de Corpo de Bombeiros, era uma loucura, diferente, parecia que estávamos vindo das Olimpíadas – conta Sandro, hoje com 55 anos, fazendo referência a 1982, ano em que foi campeão por Blumenau.

Trampolim para grandes conquistas

Luísa Matsuo transformou a maior competição catarinense em trampolim para a seleção brasileira de ginástica rítmica. Campeã individual nos Jasc em 2004 e 2009, ela foi convocada para defender o país nas Olimpíadas de Pequim, em 2008. O Brasil não chegou às finais na China, mas a catarinense escreveu o nome na história ao estar entre as melhores do mundo. O primeiro passo foi dado nos Jogos Abertos de Santa Catarina.

– Comecei na ginástica rítmica em um projeto social na Udesc aos oito anos. Aos 11, disputei meu primeiro Jasc por Florianópolis, em Chapecó, em 1999. Não ganhei. Lembro que competi com atletas maiores, eu era a mais nova, sentia muito nervosismo – descreve Luísa, hoje auxiliar técnica no projeto do Instituto Estadual de Educação (IEE) e estudante de mestrado em Nutrição na UFSC.

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Dona de três ouros nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, a ginasta reconhece que os Jasc não têm o mesmo glamour de anos anteriores. Entretanto, a competição segue no calendário da equipe no IEE como uma das mais importantes do ano.

– Os Jogos foram cruciais para o meu amadurecimento. Nunca fui a atleta mais talentosa, mas era a que mais trabalhava, não tinha sábado e domingo, todo dia era de treino. Os Jasc foram a primeira competição com maior responsabilidade nos meus ombros, um aprendizado – exalta Luísa, uma das estrelas do esporte que tiveram o brilho lapidado pelo maior evento esportivo de Santa Catarina.

Esporte corre nas veias

Um quadro pendurado na parede de um quartinho nos fundos de casa guarda um tesouro para Alva Neves Pessi, 78 anos. São centenas de medalhas conquistadas ao longo de mais de 60 anos dedicados ao esporte, e principalmente aos Jasc, competição de ajudou a criar. Para compreender a importância dela para os Jogos é preciso voltar no tempo.

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Nos três anos que antecederam a primeira edição dos Jasc, em 1960, a equipe de vôlei de Brusque, da qual ela fazia parte, representou o Estado nos Jogos Abertos de São Paulo. A missão ia além das quadras. Era preciso observar o torneio e trazer informações que ajudassem na elaboração de uma competição semelhante em solo catarinense.

Alva lembra que também disputou o atletismo e junto com as colegas de time cumpriu a missão. Organizado os Jasc, a então atleta de vôlei e diferentes modalidades do atletismo, como saldo em distância, arremesso de peso e disco, destacou-se ao longo do tempo pelas vitórias e medalhas conquistadas.

– Minha vida é o esporte, o sangue que circula em mim é o do esporte. Com seis anos lembro que já dizia que queria ser professora de educação física – recorda Alva.

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Até hoje se lembra de ginásios lotados, cidades mobilizadas e competições de alto nível.

– Antigamente os ginásios ficavam lotados, e hoje isso não acontece. Não se tem mais espírito esportivo, falta amor à camisa. Se tivesse mais amor em quadra, todos iam crescer – aponta a campeã.

Orgulho de uma cidade cheia de glória

Os cabelos brancos não deixam mentir que a idade chegou para James Curtipassi. O ex-velocista de 49 anos carrega histórias ligadas aos Jasc. Representando Blumenau de 1985 a 2000, esteve em 16 edições da competição e foi um dos responsáveis em 14 delas por dar o troféu de campeão geral para a cidade natal.

Embora tenha construído a carreira no atletismo, no seu primeiro ano representando Blumenau nos Jasc ele estava no basquete. Descobriu que era mais rápido do que pensava. Nas pistas, não apenas encheu o pescoço com medalhas – mais de 30 pelas suas contas –, como também marcou o nome na história do evento.

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– Amo os Jasc e amo estar nos Jasc. Representar minha cidade foi fundamental na escolha da minha carreira e daquilo que ia fazer da vida – relata James, atual técnico das provas de velocidade da Associação de Atletismo de Blumenau (AABlu).

Uma de suas melhores lembranças é de 1995, em Rio do Sul. Apesar de outras cidades contratarem atletas de fora, ele fez a prova da sua vida. Correu 100 metros em 10,72 segundos.

– A gente ia aos Jogos Abertos pelo bairrismo, pelo amor à camisa, para representar Blumenau e ganhar. Era a vontade de estar ali – emociona-se.

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Disposição de garoto

São quase 30 anos a serviço de Joinville nos Jasc. Sobram títulos, experiências, viagens, vitórias e derrotas, mas não falta disposição para continuar competindo. Aos 47 anos, Flávio Pscheit só esteve fora de uma edição do evento desde 1987. De lá para cá, são 18 títulos no arremesso de peso e disco. Em 2017, irá competir apenas no arremesso de disco. Devido à idade, reconhece que não consegue acompanhar os adversários no peso, porém não chega a ser algo que lamente.

– A grande lição que tive ao longo destas participações é o respeito pelo adversário, seja da onde ele for. Em algum momento, a gente fica para trás, mas faz parte do ciclo do atleta – pondera.

Embora ainda continue competindo, hoje passa a maior parte do tempo compartilhando o que aprendeu nos Jogos Abertos na função de treinador.

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– Fico muito mais feliz hoje vendo os resultados dos atletas que a gente treina – garante.

O principal ensinamento passado pelo professor é que grandes resultados exigem muita dedicação.

– Nada vem por acaso. Tudo é fruto do trabalho e da persistência. Aqui, no arremesso de peso e disco, se ganha e se perde sozinho – indica o atleta, que vai continuar enquanto o corpo permitir.

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Lages é oficializada como sede dos Jasc em 2017

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