As principais economias da zona do euro deram início, nesta sexta-feira, a uma ofensiva para mudar a tributação aos gigantes da internet na União Europeia, com a França acusando essas empresas, em sua maioria americanas, de não pagar “uma contribuição justa” no bloco.
Continua depois da publicidade
“Essas grandes empresas de internet não estão pagando uma contribuição justa na Europa”, garantiu o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, numa coletiva de imprensa em Tallin, onde se reúnem durante dois dias os ministros de Finanças europeus.
Na capital da Estônia, a França, a Alemanha e a Itália devem apresentar, no sábado, aos seus sócios, uma proposta pedindo para Bruxelas analisar a possibilidade de tributar a receita dos gigantes digitais em cada país e calcular o imposto em função de seus lucros.
Atualmente, o lucro gerado serve como referência para o imposto que as empresas pagam, e cada país aplica suas próprias taxas e bases de cálculo. A Irlanda, por exemplo, aplica uma das taxas mais baixas do bloco, de 12,5%, e várias empresas estabeleceram ali suas filiais.
Continua depois da publicidade
Essas empresas do setor digital, conhecidas pelo acrônimo GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon), estão na mira por recorrer à otimização fiscal com mecanismos financeiras legais para minimizar seus impostos.
A ONG Oxfam comemorou essa proposta das grandes economias europeias e sugeriu ir além, impedindo “que todas as empresas registrem suas vendas diretamente em paraísos fiscais, como o Uber na Holanda, em vez de onde realiza realmente a receita”.
– ‘Reação a curto prazo’ –
Áustria, Bulgária, Grécia, Eslovênia e Letônia se juntaram à proposta conjunta, segundo Le Maire, que advertiu contudo que não se trata de uma iniciativa contra as empresas americanas que são, em sua opinião, “essenciais para a Europa”, em matéria de inovação, competitividade ou emprego.
Continua depois da publicidade
“Nossa proposta é simples: tributar a receita a nível dos Estados-membros das maiores empresas da internet”, completou o ministro francês da Economia, enquanto seu equivalente espanhol, Luis de Guindos, afirmou que está é uma “solução a curto prazo diante da necessidade de uma reação a curto prazo”.
A Google evitou pagar recentemente, por exemplo, 1,115 bilhão de euros (1,33 bilhão de dólares) de impostos em atraso às autoridades fiscais francesas, depois que um tribunal francês avaliou que a filial irlandesa da companhia americana não era tributável na França.
Para De Guindos, “no futuro, a solução deve ser basicamente o imposto sobre sociedades”. E, neste sentido, o comissário europeu de Assuntos Financeiros e Econômicos, Pierre Moscovici, indicou que a proposta poderia caber em seu projeto conhecido como CCCTB.
Continua depois da publicidade
– ‘Várias opções’ –
A Common Consolidated Corporate Tax Base (CCCTB) busca a harmonização fiscal europeia das grandes empresas, na mira de Bruxelas desde a revelação, em novembro de 2014, do caso LuxLeaks, que trouxe à tona os lucrativos acordos fiscais entre multinacionais e autoridades fiscais luxemburguesas.
“Há várias opções”, afirmou, contudo, Moscovici, que anunciou a apresentação de um documento da Comissão antes da cúpula de mandatários da UE prevista para o fim do mês em Tallin, voltada ao setor digital.
A imposição dos gigantes do setor digital se tornou um quebra-cabeças para a comunidade internacional. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) afirmou que a proposta dos quatro países da UE é apenas uma “solução temporária”.
Continua depois da publicidade
Para o órgão, ela representa “uma pressão” para que o tema da taxação dos GAFA avance no G20 e que os países-membros cheguem a um acordo sobre uma solução que teria a vantagem de ser aplicada globalmente.
* AFP