— Eu vi um gatinho no meio da rua, ele parecia estar queimado, quase não tinha pelos e estava avermelhado. Fui correndo tentar ajudar. Só depois percebi que não era esse o motivo, mas já era tarde demais. Por não conhecer a esporotricose, me infectei e essa doença se tornou um pesadelo.
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O relato da corretora de imóveis Rafaela Bianchi é o início de uma longa jornada até o diagnóstico. Após acolher o animal no Bairro Pontal, em Palhoça, ela sofreu um pequeno arranhão, o que foi suficiente para começar uma série de sintomas: febre, dor no corpo e o surgimento de ínguas no braço e virilha.
Foram 15 dias de sintomas e duas tentativas de atendimento nos postos de saúde do município até o Hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis, onde um infectologista confirmou a doença.
O namorado dela também foi infectado e está em tratamento. Além deles, Rafaela afirma ter conhecido outros três moradores do Bairro Pontal que estão infectados e recebendo medicados. Ela diz que há mais de um mês tenta contato com a prefeitura para que adote medidas.
— Esses animais são de rua, nós estamos tentando cuidar de seis gatos infectados, mas é muito difícil oferecer o tratamento correto. Eles precisam ficar isolados e de uma série de medicações que não temos condição de pagar. A nossa preocupação é que esse número cresça e tenhamos um surto da doença — alerta Bianchi.
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Em nota, a Secretaria Municipal de Defesa do Cidadão e Bem Estar Animal de Palhoça confirmou ter ciência de relatos de gatos diagnosticados com a doença e tratados por veterinários particulares sob responsabilidade dos proprietários. Declarou ainda que na segunda-feira (8) uma equipe técnica foi até o Bairro Pontal examinar os gatos abandonados e colher material para exames que poderão confirmar a Esporotricose.
O município não possui um local público para o atendimento de animais de rua, por isso em caso positivo, esses gatos serão recolhidos para tratamento medicamentoso por uma empresa terceirizada. A expectativa é que os exames devem ficar prontos esta semana.
O gato não é o vilão, afirma veterinária da Capital
Florianópolis também têm registros da doença concentrados no Bairro Rio Vermelho. O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Capital informa ter conhecimento de que duas pessoas e cinco animais residentes estão em tratamento, porém não se descarta a possibilidade do número ser maior.
— É importante salientar que o gato não é o vilão. Na verdade, é a maior vítima da doença. Em caso de diagnóstico positivo para esporotricose, o dono do animal jamais deve abandoná-lo. Este ato pode contribuir para um surto. A indicação é que se entre em contato com o CCZ que tomará as medidas necessárias – diz Caroline Ricci Muller, veterinária do CCZ de Florianópolis.
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O órgão informou que a incidência da zoonose é recente, teve a primeira notificação há aproximadamente quatro anos e não se sabe exatamente o que trouxe o fungo para o local, pois ele habita também no solo e na madeira.
– Esse fungo é de clima tropical e pode contaminar qualquer mamífero. Entretanto, os gatos e humanos são mais suscetíveis a apresentar complicações. A esporotricose é uma doença crônica de evolução lenta, pois tem período de incubação de até um mês, mas se não for tratada pode levar até a morte tanto do animal quanto do humano – comenta a veterinária.
A transmissão mais comum da doença é por felinos, pois eles têm o costume de se esfregar e lamber uns aos outros, o que colabora para a disseminação. Os donos de gatos precisam ficar atentos a feridas na face do animal, especialmente no focinho, orelhas e patas, além de áreas sem pelo no corpo.
– Durante o tratamento os tutores devem adotar medidas de prevenção para não se contaminarem. O ideal é que o animal seja isolado em um cômodo e que o cuidador use sempre luvas, calça comprida e sapatos fechados para evitar a exposição da pele – orienta Caroline.
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Sintomas em Humanos
– A pessoa pode ser infectada por meio de arranhões, secreções ou contato com lesões na pele. Alguns dos sintomas da doença em humanos são:
– Nódulo doloroso, bem similar a uma picada de inseto;
– Lesões com cores vermelha, rosa ou roxa;
– Em casos mais graves, por exemplo, quando o fungo afeta os pulmões, podem surgir tosse, falta de ar, dor ao respirar e febre.
Tratamento
O tratamento pode ser longo, por volta de três a seis meses, podendo chegar a um ano dependendo da gravidade da doença. Deve ser realizado após a avaliação médica, com duração entre três e seis meses, ou mesmo um ano, até a cura do indivíduo.
O Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde, oferece gratuitamente, o Itraconazol e o Complexo Lipídico de Anfotericina B para o tratamento da Esporotricose humana.
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