Os grampos da Operação Lava-Jato que monitoraram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com autorização da Justiça mostram que, mesmo fora do governo, ele foi um dos principais interlocutores de caciques do PMDB, que nesta terça-feira devem desembarcar da base de sustentação da presidente Dilma Rousseff.

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Em conversa gravada da entre Lula e o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, no final de fevereiro, os dois discutem os bastidores da aprovação pelo Senado do projeto que acabou com a participação obrigatória da Petrobras na exploração do petróleo nos campos do pré-sal — uma das derrotas do governo Dilma no Congresso.

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Proposta pelo senador José Serra (PSDB-SP) — arquirrival dos petistas — o projeto foi aprovado no dia 24, com texto substitutivo do senador Romero Jucá (PMDB-RR), após acordo entre o PSDB e parte da bancada peemedebista.

— A orientação que ela (presidente Dilma Rousseff) passou: só não pode dar o Serra — afirma Wagner, para Lula, em conversa após a aprovação do projeto pelo Senado.

Lula então conta que esteve reunido com a bancada governista do PMDB e tratou do assunto.

— Deixa eu te falar uma coisa de bom senso, vai ficar entre eu e você essa porra. Logo que foi a primeira votação do José Serra, você está lembrado? Eu estava em um almoço, Jucá, Renan (Calheiros, presidente do Senado), (José) Sarney, (Edison) Lobão, eu. Quando me disseram que o Renan ia votar a posição do Serra, eu falei na mesa “o Renan, pelo amor de Deus, o PMDB não pode embarcar nessa porra. O PMDB pode até flexibilizar mas garantindo que a decisão seja da Petrobras”.

Para Lula, “no fundo, no fundo, um pouco dos que eles fizeram foi isso” ao aprovar o projeto, com o substitutivo de Jucá.

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Briga

Ao saber de Lula que ele havia se encontrado com a cúpula congressista do PMDB, Wagner fala:

— Presidente ainda bem que você tocou no ponto, porque o Renan publicamente estava trabalhando para essa posição que ficou saindo. Então a gente ia ficar no isolamento, porque o Lindbergh acha que ia ganhar.

Wagner diz que defendeu Dilma, afirmando que ela não mudou de posição. O diálogo gravado entre os dois petistas ocorreu no dia 28 de fevereiro, após a festa de aniversário dos 36 anos do PT, no Rio, em que Lula fez discurso aos partidários. O ministro da Casa Civil começa a conversa dizendo que tinha uma reunião marcada com senadores e que não queria desmarcar por conta da votação do projeto da Petrobras.

— A festa foi boa. Acho que não tinha aquele mau humor que a imprensa falava contra a Dilma, sabe. Eu falei ó “tem problemas? Tem. O partido não é obrigado a acatar tudo que o governo faz, o governo não é obrigado a atender tudo que o partido quer. Mas temos que ter em conta que a Dilma é nossa presidenta. E ela sabe que somos o exército dela” — afirma Lula.

O ex-presidente brincou com Wagner:

— É que nem a mãe da gente, faz comida a gente não gosta, mas come.

Lula demonstrou desacordo com o enfrentamento travado pelo governo no Congresso pela aprovação do projeto — o Senado aprovou por 40 votos favoráveis, 26 contrários e duas abstenções, o texto substitutivo, alterando as regras de exploração de petróleo do pré-sal. A proposta retira da Petrobras a exclusividade das atividades no pré-sal e acaba com a obrigação de a estatal a participar com pelo menos 30% dos investimentos em todos os consórcios de exploração dos campos.

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Lula relatou, também, conversa com lideranças sindicais, que tinham ato público marcado contra o governo Dilma.

— Vamos imaginar que a medida provisória do Serra era o bode. Tirou o bode da sala e colou uma coisa mais razoável, que é garantir que a Petrobras tenha preferência, mas que pode ser negociado montando uma boa diretoria da Petrobras, um bom conselho nacional de política energética — afirma Lula.

Para o ex-presidente, “ficará também muito ruim se a Petrobras mantém a titularidade e não tem dinheiro para fazer nada”.

— Acho que Dilma poderia conversar com a nossa base, criando uma comissão especial para tentar fazer um acordo estratégico com os chineses em cima do pré-sal em cima desses 30%. Tentando dar para os caras um discurso que coloca, como fala, um capilé, uma rota de fuga.

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