Nem a criatividade, nem o talento para manejar as tintas: a característica indispensável aos artistas que trabalham com grafite é o desapego em relação à eternidade. Isso porque suas telas são na verdade pedaços da cidade – muros, paredes, viadutos -, que, como tudo o mais no espaço urbano, sofrem transformações.
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No caso da intervenção coletiva em andamento nas paredes externas do Armazém Vieira, no Bairro Saco dos Limões em Florianópolis, pode ser que o trabalho nem seja concluído ou, caso sim, fique visível apenas durante algumas semanas. De acordo com o Ipuf, não é permitido alterar as características originais do prédio construído em 1840 e que tem a fachada tombada.
A ideia de grafitar o Armazém surgiu durante a Mostra Casa Nova, quando o proprietário do imóvel – que hoje funciona como bar e cachaçaria – viu o registro de outros grafites no espaço Saleta do Fotógrafo. Ele então convidou o designer de interiores Alex Araújo para levar uma amostra desse tipo de arte para as paredes externas do estabelecimento. O tema escolhido foram as bruxas de Franklin Cascaes.
– O prédio vai ser pintado em breve, daqui a uma ou duas semanas, da cor que foi combinada com o Ipuf. A tinta já está comprada. Por que não fazer uma provocação, uma brincadeira, antes de pintar? Nós temos que pensar pra frente e deixar de ser provincianos – defende o proprietário do Armazém Vieira, Wolfgang Schrader.
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Com o início da pintura na última sexta-feira, começaram a pipocar fotos no Facebook e, de acordo com os artistas e o curador do trabalho, a repercussão foi essencialmente positiva. Na página do Armazém Vieira e na dos grafiteiros Pedro Driin, Paulo Govêa e Marcelo Barnero, que encabeçam a execução do projeto, foram poucos os que se mostraram contra os desenhos.
– Coloquei a foto e, para os mais de 400 que curtiram, vi só duas senhoras falando da descaracterização do patrimônio. Respondi que não estamos denegrindo. O patrimônio está ali e nós achamos que a cidade pode ficar mais bonita, mais colorida. Não vejo nenhum problema de o novo conviver com o velho – ressalta o grafiteiro Marcelo Barnero.
Caso não haja impedimento, o grafite deve ser concluído ainda nesta terça-feira pelos artistas. Quem quiser conferir o resultado ao vivo, porém, deve se apressar, já que os desenhos multicoloridos – que incluem uma figueira e até uma tainhota gigante – devem desaparecer tão rápido quanto surgiram.
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Para seu filho ler: Grafite x Pichação
O grafite é uma arte de rua que existe desde o Império Romano. A principal característica é que ele é feito em espaços diferentes da arte tradicional, como muros, pedras e paredes (em vez de telas ou papel).
Por ser uma arte que tem sua origem na rua, é mais comum em lugares abertos, mas também podem ser feita em ambientes fechados. A ideia do grafite é levar a arte para os espaços públicos da cidade.
Já a pichação é considerada como um ato de vandalismo. Geralmente são escritas frases de protesto ou de insulto a pessoas ou grupos da sociedade. Também é comum que pichadores escrevam seus próprios nomes em lugares como muros, banheiros públicos e bancos de ônibus.
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